«No dia 4 de Março de 2001, por volta das 21h00, um dos pilares da Ponte de Hintze Ribeiro ruiu, arrastando para o rio Douro um autocarro e três automóveis ligeiros, que custaram 59 vidas. A queda da ponte de Entre-os-Rios foi um dos momentos mais difíceis de sempre para os governantes em funções executivas. De uma forma brutal, foram confrontados com a realidade da governação. Uns assumiram a responsabilidade, outros sacudiram a água do capote. [...]
Além da desgraça humana, a questão da responsabilidade política veio ao de cima. De imediato, dois ministros ficaram sob imediata pressão: Jorge Coelho e José Sócrates. O então ministro do Equipamento demitiu-se na madrugada seguinte ao acidente, uma atitude que mereceu o aplauso de todos, e que serviu para doirar a imagem de vulgar, ainda que poderoso, aparatchik. Aliás, uma decisão que ainda teve o mérito de arrastar consigo uma série de outros responsáveis. E o que fez José Sócrates? Fechou-se no gabinete durante 48 horas, recusando responder a qualquer pedido de declaração da comunicação social. [...]
A referência ao acidente de Entre-os-Rios é imprescindível, pois permite recordar a forma politicamente cobarde como inicialmente reagiu ao acidente. Não, não se trata de julgar uma questão de consciência, que só o próprio pode avaliar. Apenas de perceber a sua noção de ética política. Certamente, Jorge Coelho não se demitiu por ter minado a ponte. O seu gesto revelou elevação pessoal e política.
Não bastou o exemplo. Até parecia que não era nada com ele, mas foi, conforme se constatou depois de conhecidas as conclusões da comissão parlamentar de inquérito. O exercício da responsabilidade política não eras — não é! — o seu forte. Nem imediatamente a seguir ao desastre, nem depois. Senão, vejamos. Seis meses depois da catástrofe, a comissão de deputados concluiu que a causa directa da queda da ponte foi "a descida do leito do rio na zona do quarto pilar". E por que razão? Por causa das "actividades de extracção de inertes do leito do rio". A descida do leito do Douro, na zona do Pilar P4, a um nível perigosamente baixo, foi fatal.
Todos se voltaram para o então ministro do Ambiente, que permaneceu impassível e inamovível. Nem as notícias, que chegaram a impressionar, foram suficientes. No dia 13 de Março de 2001, a "SIC" passou, em exclusivo as filmagens aos pilares da ponte, realizadas em 1986, que, vinham dar consistência a quem acusava os dirigentes políticos de total incúria. O pior do "Bloco Central" ficou à vista. E José Sócrates não se comoveu. Nada o chamou à razão da ética. Nem a romaria dos governantes a Castelo de Paiva. José Sócrates continuou em Lisboa.»
Além da desgraça humana, a questão da responsabilidade política veio ao de cima. De imediato, dois ministros ficaram sob imediata pressão: Jorge Coelho e José Sócrates. O então ministro do Equipamento demitiu-se na madrugada seguinte ao acidente, uma atitude que mereceu o aplauso de todos, e que serviu para doirar a imagem de vulgar, ainda que poderoso, aparatchik. Aliás, uma decisão que ainda teve o mérito de arrastar consigo uma série de outros responsáveis. E o que fez José Sócrates? Fechou-se no gabinete durante 48 horas, recusando responder a qualquer pedido de declaração da comunicação social. [...]
A referência ao acidente de Entre-os-Rios é imprescindível, pois permite recordar a forma politicamente cobarde como inicialmente reagiu ao acidente. Não, não se trata de julgar uma questão de consciência, que só o próprio pode avaliar. Apenas de perceber a sua noção de ética política. Certamente, Jorge Coelho não se demitiu por ter minado a ponte. O seu gesto revelou elevação pessoal e política.
Não bastou o exemplo. Até parecia que não era nada com ele, mas foi, conforme se constatou depois de conhecidas as conclusões da comissão parlamentar de inquérito. O exercício da responsabilidade política não eras — não é! — o seu forte. Nem imediatamente a seguir ao desastre, nem depois. Senão, vejamos. Seis meses depois da catástrofe, a comissão de deputados concluiu que a causa directa da queda da ponte foi "a descida do leito do rio na zona do quarto pilar". E por que razão? Por causa das "actividades de extracção de inertes do leito do rio". A descida do leito do Douro, na zona do Pilar P4, a um nível perigosamente baixo, foi fatal.
Todos se voltaram para o então ministro do Ambiente, que permaneceu impassível e inamovível. Nem as notícias, que chegaram a impressionar, foram suficientes. No dia 13 de Março de 2001, a "SIC" passou, em exclusivo as filmagens aos pilares da ponte, realizadas em 1986, que, vinham dar consistência a quem acusava os dirigentes políticos de total incúria. O pior do "Bloco Central" ficou à vista. E José Sócrates não se comoveu. Nada o chamou à razão da ética. Nem a romaria dos governantes a Castelo de Paiva. José Sócrates continuou em Lisboa.»
Rui Costa Pinto, José Sócrates - o Homem e o Líder, Exclusivo Edições, pp. 66-68.