«Havia uma parede e, no centro, uma janela: estavam os dois deitados no chão, sobre um tapete. Pela janela via-se um cemitério e os canais de uma cidade onde os barcos entravam transportando drogas, contrabando, plantas exóticas. Era com essa imagem do cemitério e dos canais, a uma hora estranha (porque não era de noite, não era o crepúsculo dourado das cidades, não era o amanhecer), que os dois se deitavam, o rosto voltado para a janela. A princípio pareceu-lhe que estava a assistir a um filme - e que aguardavam por uma mão estendida que atravessa as janelas. Uma mão que atravessa as janelas. Nunca viu o rosto da mulher mas lembra-se da sua pele que ficava iluminada quando ambos olhavam para a janela e viam as andorinhas sobre os muros do cemitério.»
Francisco José Viegas, O Mar em Casablanca, p. 198.