quarta-feira, 27 de maio de 2009

Às quartas

O Instante

Onde estarão os séculos, onde o sonho
de espadas que os tártaros sonharam,
onde os sólidos muros que aplanaram,
onde a árvore de Adão e o outro Lenho?
O presente está só. Mas a memória
erige o tempo. Sucessão e engano,
é a rotina do relógio. O ano
jamais é menos vão que a vã história.
Entre a alba e a noite há um abismo
de agonias, de luzes, de cuidados;
o rosto que se vê nos desgastados
e nocturnos espelhos não é o mesmo.
O hoje fugaz é ténue e é eterno;
nem outro Céu nem outro Inferno esperes.

Jorge Luís Borges
(Trad.: Maria da Piedade M. Ferreira)