terça-feira, 12 de maio de 2009

Um caso exemplar

Há umas semanas, o primeiro-ministro e o ministro da Economia deslocaram-se, com pompa e circunstância (como é norma), à Póvoa do Varzim, para, perante as câmaras da televisão, tecerem rasgados elogios e darem como exemplo a seguir, no campo das energias renováveis, o produto que era fabricado pela empresa Energie: supostamente, painéis solares.
Muitas câmaras, muitas fotografias, muitos discursos, muitos «momentos históricos», «muitos recordes», muito Portugal à frente de tudo e de mais alguma coisa e patati, patatá. O costume.
Apesar de, na altura, vários especialistas na matéria terem denunciado que não se tratava de verdadeiros painéis solares, mas de bombas de calor abastecidas a electricidade, e apesar de estar a decorrer uma discussão nos órgãos europeus responsáveis pela certificação nesta área, o primeiro-ministro não resistiu, como nunca resiste, a fazer política-espectáculo e a dar como bom aquilo que, objectivamente, era duvidoso. Não resistiu a fazer propaganda, não resistiu ao facilitismo, não resistiu a ser leviano.
Agora, chegou a confirmação do que se previa: os equipamentos fabricados pela Energie, os tais painéis solares, afinal, não são painéis solares. Não vai haver certificação europeia para aqueles aparelhos. São bombas de calor e, por isso, não são considerados como pertencentes à família dos equipamentos de energia renovável.
E agora, sr. primeiro-ministro? E agora, sr. ministro da Economia? E agora? Nada, como é costume. Com a ligeireza e a irresponsabilidade habituais, nada de anormal se passou, nada de anormal se passará. A vida continua até à próxima inauguração, até à próxima festança.
Este é um exemplo da forma de fazer política do Governo de Sócrates, porque é assim na Economia, é assim na Educação, é assim na Agricultura, é assim nas Obras Públicas, etc. É assim que somos governados. Mas, para a opinião pública, o que ficou foram os flaches, os discursos, a pompa, o anúncio de mais uma coisa fantástica.
Que, agora, tenha ido tudo por água abaixo, já não interessa nada. Pois não, sr. primeiro-ministro? O povo rapidamente esquece, e mais uns milhões se hão-de arranjar para, amanhã, poder anunciar algo ainda mais surpreendente. E depois de amanhã também, e depois de depois de amanhã igualmente. Até Outubro...