quarta-feira, 20 de maio de 2009

Às quartas

Crepúsculo

E eu tinha os olhos cheios,
mas tão cheios de luz,
que se fechasse as pálpebras
ela jorraria como pranto,
como pranto — abrindo-se
em flores orvalhadas.
A luz cavava sulcos
em meu cérebro, aligeirando-o
como à árvore o vento
que lhe atira os frutos
ao chão, e aí,
libertas, as folhas
frondejam nas alturas
com um novo frémito.
A luz cavava sulcos
em meu cérebro e corria-me
pelas veias, lenta, calma.

Ággelos Sikelianós
(Trad.: José Paulo Paes)