segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Comentário de segunda - políticas e sindicalismos

1. As hesitações e as divisões suscitadas pela iniciativa tomada por alguns deputados de pedirem ao Tribunal Constitucional a fiscalização sucessiva do Orçamento de Estado de 2012 revela bem um certo modo de fazer política — que, desgraçadamente, é o modo dominante —: subalterniza-se a substância das coisas em favor da táctica dos interesses. Neste caso, na designada esquerda política, andou-se a pesar à miligrama as vantagens e as desvantagens desse pedido de fiscalização, atendendo à possibilidade de o Tribunal Constitucional concluir pela constitucionalidade do Orçamento. A argumentação contra a iniciativa é labiríntica e muito ao gosto daqueles que fazem da política um jogo, uma espécie de jogo de xadrez. Neste, as peças manipulam-se em função de uma estratégia própria que permanentemente se adapta às jogadas que o adversário faz e/ou àquelas que se presume que ele possa fazer. E o verdadeiro prazer do jogo reside nessa dialéctica. Mas fazer política não pode ser equiparável a jogar xadrez (e eu gosto de jogar xadrez). A política não se pode fazer à base de jogadas pensadas e fruídas na poltrona. O acto político não é um acto de gozo diletante. Os políticos que assim pensam e agem servem-se da política, nada mais. 
Se na política não imperarem os princípios e as convicções, se estas forem subalternizadas à táctica do que é conjuntural, a prazo, o essencial e o acessório tornam-se equivalentes e o sentido da política desaparece, e as pessoas, que são a sua razão de ser, transformam-se definitivamente em peões.
Se a política não é um jogo de xadrez, é óbvio que o pedido de fiscalização sucessiva da constitucionalidade do (vergonhoso) Orçamento de Estado de 2012 deve ser feito, independentemente do resultado que daí advenha.

2. Em Portugal, o sindicalismo chegou a um nível tão baixo que já nada surpreende. Não surpreende que Proença tenha assinado o Acordo com o Governo e as confederações patronais. Não surpreende que Proença diga que altos dirigentes da maioria da CGTP o incentivaram a negociar o acordo. Não surpreende que Proença fale verdade. Não surpreende que Proença minta. Não surpreende que a CGTP negue. Não surpreende que não se acredite na negação da CGTP. 
Quando se chega a este ponto, em que já nada surpreende, isto significa que o nosso sindicalismo está doente. Gravemente doente.