segunda-feira, 30 de março de 2009

Quando os VIP só atrapalham

Comentário de Ana Joaquim a uma lamentável ocorrência noticiada pelo Expresso (e por outros jornais):

Não passa de um fait-divers e até podia ser notícia numa qualquer revista cor-de-rosa.
Contudo, o facto é revelador de como vivemos (mal!) num país provinciano e bacoco, com um atraso de mentalidades profundíssimo, um país de servilismo parolo, onde se verga o direito e a liberdade de cada cidadão que paga e cumpre ao atraso de meia hora de um vip. Em meu entender, este atraso ficou muito mal ao PM, mas ficou ainda pior ao CCB.
«O primeiro-ministro, José Sócrates, e a jornalista Fernanda Câncio receberam uma vaia geral quando entraram esta noite atrasados no grande auditório do Centro Cultural de Belém (CCB). É que os espectadores ali presentes não gostaram de ter de esperar a chegada de Sócrates para se dar início à ópera Crioulo, que por causa do sucedido atrasou meia hora.
O Expresso soube, no entanto, que o primeiro-ministro esteve à espera do seu homólogo cabo-verdiano, José Maria das Neves, o que terá justificado o atraso.
A ópera de António Tavares e Vasco Martins - cuja estreia fica marcada pela indignação de uma sala cheia -, está em cena hoje e amanhã. »
in Expresso, 27/03/09

domingo, 29 de março de 2009

Pensamentos de domingo

«Ele usa a estatística como os bêbados usam os candeeiros públicos - mais como apoio do que como fonte de informação.»
Andrew Lang

«Se de repente Deus fosse condenado a viver a vida a que ele condenou os homens a viver, suicidava-se.»
Alexandre Dumas

«Eu gosto de dois tipos de homens: americanos e estrangeiros.»
Mae West

In José Manuel Veiga, Manual para Cínicos.

Keith Jarrett

sábado, 28 de março de 2009

Imprensa de hoje: a lista negra da realidade portuguesa

No Público:
«Governo falhou as metas para o investimento público de 2008
- Contas do Estado mostram que ficaram 368 milhões de euros por investir no ano passado.»

«Vaga de violência pode rebentar nos subúrbios, afirma o secretário-geral da Segurança Interna»

«O número de crimes aumentou. A criminalidade registada no último ano foi a maior da última década.»

«Economistas explicam que, por volta de 2014/2015, deixamos de ter dinheiro para pagar as nossas dívidas - a seis anos de falir, lá vamos cantando e rindo.»

No Expresso:
«Professores com escolta para dar aulas na Primária»

«Ministério retira mais três programas do "Magalhães"»

«Num dia Sócrates malha nas propostas da oposição, noutro apresenta-as como sendo suas...»

«Bombeiros sem formação para incêndios»

No Sol:
«Os negócios da família Pinto de Sousa
- Autoridades investigam capitais envolvidos em empresas de que foram sócios a mãe, um primo, o irmão e um tio de Sócrates»

«Avaliação nas mãos das escolas
- Escolas fazem interpretações contraditórias da legislação sobre a avaliação dos professores»

«Farmácias abrem guerra
- Desobediência civil dos farmacêuticos nos genéricos começa na próxima semana»

«Portugal 'produz' 40 desempregados por hora»

«Área ardida quase toda por reflorestar»

Ao sábado: momento quase filosófico

Acerca da Teoria do Conhecimento
«Como é que sabem que sabem as coisas que pensam que sabem?

Durante a Idade Média, esta questão reduziu-se a saber se a revelação divina suplantava a razão como fonte de conhecimento humano ou vice-versa.
Um homem tropeça num poço fundo e cai trinta metros antes de conseguir agarrar-se a uma raiz fina, que trava a queda.

O homem vai perdendo as forças e, desesperado, grita:
- Está alguém aí em cima?

Levanta a cabeça e só consegue ver um círculo de céu.
De súbito, as nuvens separam-se e um raio de luz forte brilha sobre ele. Uma voz forte diz:
- Eu, o Senhor, estou aqui. Solta a raiz e eu salvarte-ei.
O homem pensa durante um tempo e depois grita:
- Não há mais ninguém aí em cima?
Estar pendurado numa raiz tem tendência para fazer desequilibrar a balança para o lado da razão.
No século XVII, René Descartes optou pela razão realativamente a uma fonte divina de conhecimento. Isto ficou conhecido como pôr Descartes diante da fonte.
Provavelmente, Descartes gostariaa de nunca ter dito: "Cogito ergo sum" ("Penso, logo existo"), porque é a única coisa que as pessoas recordam sobre ele [...].
Descartes chegou ao cogito através de uma experiência de dúvida radical para descobrir se podia ter a certeza de alguma coisa; isto é, qualquer coisa que não pudesse pôr em causa. Começou por duvidar da existência do mundo exterior, o que foi relativamente fácil. Talvez estivesse a sonhar ou a alucinar. Em seguida tentou duvidar da sua própria existência. Mas, por muito que duvidasse, deparava-se constantemente com o facto de que havia um céptico. Tinha de ser ele! Não podia duvidar da sua própria dúvida. Poderia ter poupado a si mesmo uma grande quantidade de interpretação errada se tivesse dito:"Dubito ergo sum."
Todos os juízes criminais norte-americanos pedem ao júri para imitar o processo de Descartes de procurar a certeza testando a asserção da culpa do réu através de um padrão quase tão rigoroso como o de Descartes. Para o júri, a questão não é idêntica à de Descartes; o juiz não pergunta se a culpa do arguido está sujeita a alguma dúvida, apenas se está sujeita a uma dúvida razoável. Porém, até este padrão menos rigoroso exige que o júri leve a cabo uma experiência mental semelhante à de Descartes - e quase tão radical como ela.
Um arguido estava a ser julgado por homicídio. As provas da sua culpa eram fortes, mas não havia cadáver. Nas alegações finais, o advogado de defesa recorreu a um truque.
- Senhoras e senhores juradoss - disse ele. - Tenho uma surpresa para todos... dentro de um minuto, a pessoa que se presume morta entrará nesta sala de audiências.
Olhou para a porta da sala de audiências. Espantados, todos os jurados oharam avidamente. Passou um minuto. Nada aconteeceu. Por fim, o advogado disse:
- Na verdade inventei a história de o morto entrar aqui. No entanto, todos olharam para a porta, expectantes. Portanto, digo-vos que há dúvida razoável neste caso relativamente a alguém ter sido assassinado e insisto para que o vosso veredicto seja de "inocente".
O júri retirou-se para deliberar. Alguns minutos mais tarde, voltaram e pronunciaram um veredicto de "culpado".
- Como podem fazer uma coisa destas? - gritou o advogado. - Vocês devem ter tido alguma dúvida. Vi que todos olharam para a porta.
O representante do júri disse.
- Oh, nós olhámos, mas o seu cliente não.»
Thomas Cathcart e Daniel Klein, Platão e um Ornitorrinco Entram num Bar...

TVI divulga DVD, na posse da polícia inglesa, em que Smith afirma que Sócrates é corrupto

Em reacção, Sócrates emitiu o seguinte comunicado:

«Tendo tomado conhecimento da divulgação pela TVI de uma gravação contendo referências ao meu nome, a propósito do caso Freeport, esclareço o seguinte:

1. No que me diz respeito, essas afirmações são completamente falsas, inventadas e injuriosas. Reafirmo, mais uma vez, que não conheço o Sr. Charles Smith, nem nenhum dos promotores do empreendimento Freeport.

2. Quero repudiar, com veemência, todas as referências que procuram envolver-me, directa ou indirectamente, em qualquer comportamento ilícito, ou menos próprio, a propósito do caso Freeport.

3. Dei já orientação ao meu advogado para agir judicialmente contra os autores desta difamação.»

sexta-feira, 27 de março de 2009

Mais ovos sobre a ministra da Educação

«A ministra da Educação fez, [ontem] à tarde, uma visita relâmpago à escola Secundária de Felgueiras, apanhando de surpresa o Conselho Executivo.

Ao avistarem a ministra, alguns alunos foram a correr a um hipermercado próximo do estabelecimento de ensino e compraram ovos, atirando-os sobre Maria de Lurdes Rodrigues. Dois alunos foram identificados pela GNR.

A ministra chegou à Escola Secundária /3 de Felgueiras, na Rua Doutor Manuel F. Sousa, cerca das 18.45 horas. O Conselho Executivo, apanhado de surpresa, recebeu a responsável do Ministério da Educação. [...]

Após uma curta reunião com o Conselho Executivo, Maria de Lurdes Rodrigues abandonou o estabelecimento de ensino e à saída foi vaiada por dezenas de alunos que esperavam pelos transportes públicos para regressarem a casa. Enquanto a ministra estava reunida com o Conselho Executivo, alguns alunos deslocaram-se ao hipermercado "Pingo Doce" nas imediações da escola e abasteceram-se de ovos que foram atirados sobre Maria de Lurdes Rodrigues. A GNR de Felgueiras foi chamada a intervir e identificou dois alunos.»

Sítio do JN (27/03/09)

A propósito de Deus e da Liberdade

Excerto de uma entrevista de Michel Onfray, filósofo francês, à revista Visão, aquando da apresentação, no Institut Franco-Portuguais, do seu livro A Potência de Existir - Manifesto Hedonista, editado pela Campo da Comunicação.

«Muita gente acha que um mundo sem Deus seria inimaginável, mesmo para quem não acredita nele.
Ao contrário, em nome de Deus é que se tem massacrado, destruído. Em nome de Deus fizeram-se cruzadas, numerosas guerras ou a Inquisição. Em nome de Alá, muitas pessoas atam explosivos ao corpo, para matar 20 ou 30 pessoas, às vezes crianças. Que eu saiba, o ateísmo nunca fez isso. Não conheço ninguém que tenha matado em nome do ateísmo. Há qualquer coisa que não é sã nessa relação do mundo com Deus.
Ora, se Deus não existe, como acredito, não é preciso uma moral fundada em termos de eternidade, não é preciso fabricar ilusões para que as pessoas possam viver juntas.

Mas porque diz que só um ateu é um homem livre?
Quando se vive sob o olhar de Deus, não se é livre. Quando se age em função de ser salvo ou condenado, de ficar eternamente no Paraíso ou no Inferno, vive-se na inquietação. Tudo o que acontece é por vontade ou por decisão de Deus. O ateu não age a pensar na vida depois da morte. Só quando Deus não existe é que o Homem é livre.»
Visão (26/03/09)

quinta-feira, 26 de março de 2009

Mais um retrato do Governo que temos

Mais uma semana, mais uma promoção

«Mais uma semana, mais uma promoção do eng. Sócrates a um símbolo da vanguarda tecnológica nacional. Depois do Magalhães, que não era muito nacional, o primeiro-ministro entrou em êxtase com os painéis solares da empresa Energie, sobre os quais consta não serem painéis (mas um aparelho chamado bomba de calor).
Não importa. Importante é o anúncio imediato de medidas de crédito que facilitam aos portugueses a aquisição dos painéis (ou bombas). O eng. Sócrates é assim: mal se entusiasma com uma coisa, não descansa até que todos partilhem a descoberta, que considera sempre indispensável ao combate à crise. Se a atitude é de uma generosidade ilimitada, é igualmente de uma candura tocante, dado que o eng. Sócrates se entusiasma com imensas coisas.
Na verdade, não há geringonça "moderna", dos computadores à "banda larga", das memórias RAM (da Qimonda) aos geradores eólicos, que não deixe o homem deslumbrado. [...]»
Alberto Gonçalves, Sábado (26/03/09).

quarta-feira, 25 de março de 2009

A brutal, embora já acostumada, anormalidade

Maria de Lurdes Rodrigues y sus muchachos merecem a minha admiração (!)

Ter o óbvio perante os olhos e persistir na cegueira, escutar continuadamente a verdade e persistir na surdez, ser racional e persistir na loucura,… é prodigioso!
Há um endeusamento auto-infligido que impermeabiliza tais seres. Aos seus próprios olhos lobrigam-se divinos, aos meus, cansados de farsantes, sinto-os bestiais! Heróis do dislate!
Citando Jorge Pedreira, “Isto é absolutamente claro, não é controverso”
[…] O Ministério da Educação garantiu hoje que sem objectivos individuais os professores não são avaliados nem progridem na carreira e remeteu para os conselhos executivos eventuais processos disciplinares pelo incumprimento daquele procedimento do processo de avaliação de desempenho.
[…]
«Sem fixação de objectivos individuais não há avaliação, não há progressão na carreira e o tempo de serviço não é contado para efeitos de concurso. Isto é absolutamente claro, não é controverso», afirmou o secretário de Estado Adjunto e da Educação, Jorge Pedreira, numa audição no Parlamento,[…]
«O que disse em relação à não entrega dos objectivos individuais pode acontecer com qualquer outra infracção que seja disciplinarmente punível. Pode acontecer que um comportamento seja disciplinarmente punido numa escola e noutra não. Isso recai no âmbito da relação hierárquica [entre presidente do Conselho Executivo e avaliado] e no juízo de oportunidade que está na esfera da autonomia das escolas», acrescentou Jorge Pedreira. […]
Maria de Lurdes Rodrigues referiu que, apesar de «todas as dificuldades, enorme resistência e incompreensão», o processo está a decorrer «com grande normalidade». […]
in diáriodigital, 25 de Março de 2009

Ministra da Educação: a personalização da cobardia política

Esta manhã, na Comissão Parlamentar de Educação, a ministra Maria de Lurdes Rodrigues preferiu que fosse o seu secretário de Estado, Jorge Pedreira, a responder à pergunta do deputado Jorge Duarte, do PSD: «A senhora ministra considera correcto que se deixe ao critério dos presidentes dos conselhos executivos a decisão de instaurarem, ou não instaurarem, processos disciplinares aos professores que não entregaram os objectivos individuais, podendo acontecer que na escola A uns professores sejam penalizados e na escola B, a cem metros de distância, já não o sejam?»
A resposta do secretário de Estado, dada em tom acintoso e arrogante, foi esta: «As consequências da não entrega dos objectivos individuais estão na lei e eu não vou dizer quais são. O sr. deputado leia a lei. E a relação hierárquica existente é entre o professor e o presidente do conselho executivo e é a esse nível que o problema se coloca e deve ser resolvido.»
Esta resposta revela, mais uma vez, o seguinte:
1. A cobardia política desta ministra da Educação e deste Governo: se assumissem que a não entrega dos objectivos individuais tem consequências disciplinares isso poderia ter graves custos políticos e eleitorais - por isso não o assumem; se assumissem que não tem consequências disciplinares isso seria dar a machadada final no seu monstruoso modelo de avaliação - por isso também não o assumem.
2. Em situações de dificuldade, este Governo foge, sistematicamente, às suas responsabilidades: neste caso, e mais uma vez, comporta-se como Pilatos - lava as mãos do problema e endereça-o para os presidentes dos conselhos executivos.
3. A incompetência técnica da ministra e dos seus secretários de Estado: a legislação que produzem não tem qualidade nem rigor, permite várias interpretações e conduz à arbitrariedade.

Encurralados no beco da vergonha, com um modelo de avaliação repleto de erros técnicos, de incongruências, de ilegalidades e de inconstitucionalidades e com uma vergonhosa concretização no terreno, onde vale tudo e o seu contrário, os responsáveis do Ministério da Educação são o exemplo do que é uma equipa incapaz, do que é uma equipa desacreditada, desautorizada e esgotada no tempo, no modo e na forma.
Outubro tarda.

Às quartas

A Criança e a Lua

A lua e a criança jogam
um jogo que ninguém vê;
sem olhar vêem-se, falam
uma língua de pura mudez.
O que dizem, ou ocultam,
a contar um, dois, três,
ou três, dois, um
para voltar a contar?
Quem ficou dentro do espelho,
lua, para tudo ver?
A criança está feliz e só:
a lua roça os seus pés
como a neve na madrugada,

como o azul do amanhecer;
nas duas faces do mundo
- a que ouve, e a que vê -
cindiu-se o silêncio,
a luz cintila no outro lado
das mãos, que seguem a procurar quem sabe o quê
no instante de ninguém
que passa onde jamais foi.

A criança existe e joga
um jogo que ninguém vê.

Mariano Brull
(Tradução: Jorge Henrique Bastos)

terça-feira, 24 de março de 2009

Recordo-lhe

«Nos aniversários dão-se parabéns e prendas. O sujeito fez anos. Anos à frente de um governo que se tem encarniçado a destruir a Escola Pública. Talvez preferisse um fatito Hugo Boss, mas dou-lhe tão-só uma caixinha de recordações, embrulhada em papel negro de desdita.
Recordo-lhe que em 4 anos de actividade produziu diplomas que envergonham aquisições mínimas do nosso sistema de ensino. O estatuto da carreira docente, a avaliação do desempenho dos professores, a gestão das escolas e o estatuto do aluno são apenas as pérolas. Mas a lista é longa.
Recordo-lhe que a coberto de uma rede propagandística que tornaria Goeebels num aprendiz, cortou, vergou, denegriu e fechou como um obcecado pelo extermínio.
Recordo-lhe que desertificou meticulosamente o interior.
Recordo-lhe que congelou salários, burocratizou até ao insuportável e escravizou com trabalho inútil.
Recordo-lhe que manipulou estatísticas, mentiu e abandalhou o ensino, na ânsia de diminuir o insucesso a qualquer preço.
Recordo-lhe que chamou profissional a uma espécie de ensino cuja missão é reter na escola, de qualquer jeito, os jovens que a abandonavam precocemente.
Recordo-lhe que abandonou centenas de alunos com necessidades educativas especiais.
Recordo-lhe que contratou crianças para promover produtos inúteis e aliciou pais com a mistificação da escola atempo inteiro.
Recordo-lhe que foi desumano com professores nas vascas da morte e usou e deitou fora milhares doutros, doentes, depois de garantir que não o faria.
Recordo-lhe que, com o concurso de titulares, promoveu a maior iniquidade de que guardo memória.
Recordo-lhe que enganou miseravelmente os jovens candidatos a professores e humilhou as instituições de ensino superior com a prova de acesso à profissão.
Recordo-lhe que desrespeitou leis fundamentais do país e, com grande despudor político, passou sem mossa por sucessivas condenações em tribunais.
Recordo-lhe que desrespeitou continuadamente a negociação sindical e fez da imposição norma.
Recordo-lhe que reduziu a metade os gastos com a Educação e aumentou para o dobro a distância que nos separava da Europa.
Recordo-lhe que perseguiu, chamou a polícia e incitou e premiou a bufaria.
Recordo-lhe que os professores portugueses não vão esquecer»
Santana Castilho, Escola Informação
Enviado por João Vasconcelos.

Revolutionary School

«B. é professora numa escola secundária de Lisboa, bairro chique, a curta distância do centro de decisão política do País. Em trinta anos de carreira, conviveu com as mutações ideológicas do sistema educativo, com os voluntarismos e as experimentações pedagógicas no ensino público e com a deterioração dos valores de sociedade. "Eu, que pensava ser possível educar, de modo igual, o pobre como o rico, o rural como o urbano, o branco como o moreno, dou comigo a dar graças por cada dia que passa sem ser vítima de uma agressão" - afirma B., professora de português numa escola pública onde o Estado levou por diante mais uma bem intencionada experiência de integração sociocultural.

B. está cansada. Cansada de uma escola onde pululam gangues e a insegurança se entranha na pele e nos comportamentos de todos - estudantes, funcionários e professores. Cansada de gastar o seu tempo a proteger os alunos "normais" das investidas dos desordeiros, quando não de famílias inteiras de malfeitores. Cansada de não lhe sobrar tempo para ensinar. Cansada de assistir à capitulação do sistema perante a indisciplina e a sistemática desautorização dos professores. Cansada do desinteresse dos pais perante a sorte dos filhos. Cansada de guerra.

Dantes, relata B., a ideia da reforma era um tormento. Para a maioria dos professores, a sua vida era a sua escola. Hoje, sempre que alguém se aposenta há festa, onde não faltam lágrimas ao canto do olho dos que ficam, num misto de saudade e de amargura por não terem a mesma sorte. Diz-se, por graça, que o registo de bons serviços prestados à Educação se mede pelo número de equimoses contraídas em combate.

Não, não é a avaliação nem as carreiras que incomodam B. (encolhe os ombros, com enfado, às lógicas sindicais). É o sentimento de impotência perante a desordem reinante, os baixos índices de auto-estima e realização profissional e, sobretudo, a frustração de ver fenecer uma das mais belas causas de Abril - a escola inclusiva.

Devemos ficar surpreendidos com as taxas de aproveitamento e abandono escolar no ensino secundário? Com a pobreza de conhecimentos em disciplinas nucleares, como o Português ou a Matemática? Com a disseminação de uma matriz cultural assente no salve-se quem puder? Não. Uma árvore destas não pode dar bons frutos. Mas, como tratá-la?

Não escondo as perplexidades que a matéria me coloca. Entendo e apoio os princípios da universalidade e da integração, mas não aceito que impere a lei da canalha. As escolas não podem ser jaulas nem quartéis, é certo, mas têm a obrigação de fazer respeitar a disciplina e a ordem, sob pena de fracassarem na sua missão. Não é admissível que uma turma inteira veja os seus trabalhos escolares permanentemente prejudicados pela atitude selvagem de um(a) jovem a quem obrigam a ir a uma escola que odeia, à excepção dos intervalos onde se diverte a aterrorizar os colegas, e que provavelmente nunca completará.

Nos tempos da escola selectiva, o sistema educativo tratava dos casos de indisciplina com mão de ferro - suspensões e expulsões. Sendo raros os estudantes oriundos de minorias étnicas (a mais problemática, a cigana, não passava da instrução primária), a ordem era mais fácil de manter. Hoje, os conselhos directivos das escolas secundárias fogem das medidas disciplinares como o diabo da cruz. Sabem que à mais pequena sanção arriscam-se a ser agredidos ou a ver a escola invadida pela família do jovem-injustamente-perseguido, normalmente mais arruaceira do que o próprio jovem.

Recordo-me de uma reportagem realizada algures na Bósnia, onde se dava conta do primeiro caso de sucesso na integração escolar das duas principais comunidades. "As turmas são mistas?", perguntou o repórter. "Isso não. Os miúdos sérvios têm aulas de manhã e os muçulmanos à tarde", respondeu o director sem pestanejar. Será sistema?»
Luís Nazaré, Jornal de Negócios (23/03/09)
Enviado por J.S. Magueija, com o comentário: «Para quem está no PS, as contradições ou os desejos inconfessáveis?»

Admirável mundo...

Entre o que de real há na fantasia ou o que de fantástico há na realidade, a escrita torna convincente este mundo "fabulário":

«Um rei conduzia o seu povo, nómada, famélico, desesperado, para uma ilha verdejante e fértil que conhecia. Para chegar à ilha havia que atravessar a pé enxuto uma língua de areia de muitas milhas, aproveitando a maré baixa. O percurso tinha de ser feito em exactamente uma hora, o tempo que durava o vau. Mas o povo tinha tanta fome que se foi atardando na recolha dos mariscos que abundavam na língua de areia. Bem bradou o rei e ameaçou e fez distribuir varadas e castigos: o povo não despegava de achar mariscos e comê-los logo ali, mesmo crus. Não tardou que a maré viesse impetuosa, à velocidade do galope de um cavalo. Os quinhentos e setenta e sete membros daquela caravana, que formavam todo o povo, pereceram afogados.
E depois? Olhem: chegou o rei sozinho à ilha e aí ficou rei sem povo.»
Mário de Carvalho, Fabulário

Bonecos de palavra

segunda-feira, 23 de março de 2009

Comunicado do PROmova sobre o Encontro Nacional de PCEs realizado no passado sábado

As conclusões saídas do Encontro Nacional de PCEs, tal como veiculadas pela comunicação social, ficam muito aquém daquilo que os cerca de 50 000 professores que não entregaram os objectivos individuais estavam à espera.
Analisemos, então, o que saiu do Encontro:
1) Compromisso de não penalização dos professores que não entregaram os objectivos individuais, sob o pretexto de que tal entrega não é obrigatória;
2) Abrir um processo de construção de um modelo de avaliação do desempenho alternativo;
3) Preparar as bases para a constituição de uma associação nacional de dirigentes de escolas públicas.

Embora os professores resistentes agradeçam o sentimento de protecção e o paternalismo evidenciados pelos PCEs, há um equívoco que importa desfazer, pois alguém anda a perverter a intencionalidade que presidiu à decisão de não entrega dos objectivos individuais. A questão é muito simples de enunciar: os professores não tomaram a decisão de não entregar os seus objectivos individuais porque desconfiavam ou tinham a certeza de que a sua entrega não era obrigatória por lei e porque este passo não comprometia a sua avaliação no quadro deste modelo. Não. Para que fique claro, de uma vez por todas, tal decisão reflecte, única e exclusivamente, o seguinte: os professores não entregaram os seus objectivos individuais porque não aceitam este modelo de avaliação e decidiram, em coerência, não participar em qualquer acto relacionado com este modelo de avaliação.

A assunção desta decisão não significa que os professores não queiram ser avaliados (esta é uma falsidade que o ME andou a vender à opinião pública). Os professores querem ser avaliados, só que não por este modelo. Neste sentido, os movimentos de professores defendem que cada professor resistente deve entregar, no final do ano lectivo, um relatório descritivo e reflexivo da sua actividade docente. Ponto final.

Vamos ver quem tem coragem para penalizar milhares de professores, que cumpriram as suas obrigações como docentes e que prestaram contas aos Conselhos Executivos, só porque têm a coragem e o discernimento de rejeitar uma medida destituída, manifestamente, de seriedade e imbuída de grande injustiça.

No quadro da 2ª proposta, isto de todas as estruturas ou associações se porem a definir modelos de avaliação do desempenho alternativos não nos parece um bom caminho, pois pode levar a uma pulverização de opções técnicas ou operacionais e a um eventual acantonamento de cada um no seu modelo. O que nos parece fazer sentido é a seguinte metodologia: definição de um conjunto de princípios que suportem e estruturem o modelo de avaliação, como a não divisão da carreira, a garantia de imparcialidade na avaliação (que só uma equipa assegura e nunca um elemento individual), a simplificação e a parcimónia de procedimentos avaliativos, mais incidentes nos anos de progressão, e a não existência de quotas pré-definidas, apenas para darmos alguns exemplos; o processo de construção do novo modelo deve partir da iniciativa da nova equipa ministerial, no quadro de uma negociação aberta e o mais consensualizada possível com as diferentes organizações representativas dos professores.

Em relação ao ponto 3, tudo o que possa contribuir para o fim do conselho de escolas é positivo.

O que não saiu do Encontro e era expectável, por parte dos professores resistentes, que saísse:

1) a reafirmação da exigência de suspensão deste modelo de avaliação, até por um imperativo de coerência com posições públicas já anteriormente assumidas, de rigor e seriedade por parte dos PCEs, pois eles conhecem o terreno e sabem que a implementação do processo ou não existe ou é demasiado limitada no tempo ou se restringe ao acessório/folclórico ou não dá garantias de seriedade. Numa palavra, está transformada numa farsa e num faz de conta que os professores estão a ser avaliados;

2) sem alinharem em pretensas rebeliões, sempre podiam manifestar apreço pela coragem, pela coerência e pelo sentido de justiça que os professores das suas escolas vêm revelando na defesa intransigente de uma escola pública de qualidade.

Ficamos, assim, com a sensação de que, nesta reunião, o essencial se esvaiu em fumaça e a “a montanha pariu um rato”…

Aquele abraço,

PROmova,
PROFESSORES - Movimento de Valorização

domingo, 22 de março de 2009

Pensamentos de domingo

«O facto de se ser importante rebaixa, em vez de elevar, os que não sabem estar à altura das circunstâncias.»

«Por mais espampanante que uma acção possa parecer, não terá valor se não corresponder a um grande desígnio.»

«O público recompensa mais assiduamente aqueles que aparentam mérito do que aqueles que, de facto, o têm.»
François de La Rochefoucauld, Máximas e Reflexões Morais.

Julian 'Cannonball' Adderley

sábado, 21 de março de 2009

Hoje não é quarta-feira, mas é o Dia Mundial da Poesia...

Soneto LXXVI

Porque de orgulho são tão nus meus versos,
tão limpos de contraste e mudanças?
Porque, com o tempo, não vão sendo imersos
em novo estilo e estranhas esquivanças?

Porque escrevo eu sempre tão igual ao que era,
mantendo-me fiel ao que inventei,
que cada termo é como se dissera
quanto de mim procede, que o gerei?

Que é só de ti, meu doce amor, que escrevo
contigo e Amor aos devaneios basto;
e o meu saber de poeta é este enlevo

de ainda outra vez gastar o que está gasto.
Tal como o Sol é novo cada dia,
assim do Amor eu digo o que dizia.

William Shakespeare

Ao sábado: momento quase filosófico


Acerca de Paradoxos Lógicos e Semânticos
«O pai de todos os paradoxos lógicos e semânticos é o paradoxo de Russell, que foi baptizado com o nome do autor, o filósofo inglês do século XX, Bertrand Russell. Diz o seguinte: "O conjunto de todos os conjuntos que não são elementos de si mesmos é elemento de si mesmo?" Este é um verdadeiro desafio - isto é, se tiverem um doutoramento em matemática. Mas não desesperem. Felizmente, dois outros lógicos do século XX, chamados Grelling e Nelson, apresentaram uma versão mais acessível do paradoxo de Russell. É um paradoxo semântico que funciona com o conceito de palavras que se referem a si mesmas.
Aqui vai: existem dois tipos de palavras, aquelas que se referem a si mesmas (autológicas) e as que não se referem a si mesmas (heterológicas). Alguns exemplos de palavras autológicas são "curto" (que é uma palavra curta), "polissilábica" (que tem várias sílabas) e, a nossa favorita, "dezassete-letras" (que tem dezassete letras). Exemplos de palavras heterológicas são joelhos-tortos (uma palavra que não tem joelhos, tortos ou não) e "monossilábica" (uma palavra que tem mais de uma sílaba). A questão é: a palavra "heterológica" é autológica ou heterológica? Se for autológica, então é heterológica. Se for heterológica, então é autológica. Ah! Ah! Ah!
Ainda não estão a rir-se? Bem, há outro caso em que traduzir um conceito filosófico numa história engraçada o torna mais claro:
Há uma cidade onde o único barbeiro - a propósito, um homem - faz a barba a todos os homens da cidade, mas apenas aos homens que não se barbeiam. O barbeiro faz a barba a si mesmo?
Se fizer a barba a si mesmo, não pode fazer a barba a si mesmo. Se não fizer a barba a si mesmo, faz a barba a si mesmo.

[Agora] a versão do paradoxo para o grupo da festa.
Não visitamos as casas de banho das senhoras com frequência, por isso não podemos ter a certeza do que acontece no seu interior, mas sabemos que os leitores do sexo masculino conhecerão os paradoxos muitas vezes escrevinhados nas paredes das casas de banho dos homens, especialmente nas comunidades colegiais. São paradoxos lógicos/semânticos semelhantes aos de Russell e de Grelling-Nelson, mas mais animados. Lembram-se destes? Lembram-se onde estavam sentados na altura?
Verdadeiro ou falso: "Esta frase é falsa."
Ou,
Se um homem tenta fracassar e é bem sucedido, que é que lhe aconteceu?»
Thomas Cathcart e Daniel Klein, Platão e um Ornitorrinco Entram num Bar...

sexta-feira, 20 de março de 2009

A ajudante de campo da ministra da Educação

Deixamos o retrato de Margarida Moreira, a ajudante de campo da ministra da Educação, no Norte, feito por Fernando Charrua, em entrevista publicada na revista Visão (19/03/09):
«Após um período de silêncio, Fernando Charrua fala da direcção de Margarida Moreira. Ex-deputado independente pelo PSD, o País conheceu-o por causa de uma alegada ofensa ao primeiro-ministro. Mas o processo disciplinar que Margarida Moreira lhe moveu, em 2007, foi arquivado. Após 19 anos na DREN, regressou ao liceu Carolina Michaëlis onde, há quase dois anos, dá aulas de Inglês. E não cala a revolta.

Como caracteriza a gestão de Margarida Moreira?
Para ela, le pouvoir c´est moi, la loi c´est moi. É repentista e nada ponderada. Acima de tudo, é uma comissária política. E há ilegalidades absolutas, no seu mandato.

De que tipo?
Violando um despacho do secretário de Estado, autorizou, entre 2005 e 2007, requisições de professores para actividade não lectiva no ensino superior. Violou a lei, destacando para uma instituição privada, a Fundação Eça de Queirós, um professor, familiar de uma ex-governante socialista.
Destacou dois professores para a Associação para a Educação de Segunda Oportunidade, em Matosinhos, e outros para a Associação para o Desenvolvimento Integrado de Matosinhos, ambas privadas. Transferiu um estagiário, familiar dela, de uma escola de Coimbra para outra, onde ele não deu aulas. Tudo isto pago por nós.

Porque a acusa de ser uma comissária política?
Ela montou um quartel-general do PS na DREN, onde faz reuniões do partido a propósito de tudo e de nada. Elementos das estruturas do PS no Porto reúnem-se ali, habitualmente. E até as secretárias servem cafés. Uma celebre reunião ocorreu no dia 24 de Maio de 2007, entre as 20 e 30 e as 22 e 30, durante a qual Margarida Moreira abriu um dossiê o meu com tudo o que estava no meu computador, incluindo mails pessoais, que mostrou a um conjunto de gente do PS. Eu estava à porta, mas sei o que se passou.
E tomei nota das matrículas dos automóveis. Porque só agora faz essas denúncias? Não o fiz antes, porque estava sujeito ao dever de sigilo.

Considera-a permeável aos interesses partidários?
Qualquer interesse mesquinho de alguém do PS está à partida resolvido. Mesmo que isso signifique ilegalidade. Aliás, ela tem tão pouco cuidado em relação às solicitações que recebe que um dos pedidos de requisição que eu vi, ilegal, era assinado por uma digna representante do grupo parlamentar do PS.
Se for preciso, a seu tempo direi nomes.

Está a falar de "cunhas"?
Não há outra palavra. É completamente permeável a cunhas. Desde que sejam do PS. Ou sirvam para prejudicar quem não pensa como ela.

A DREN está partidarizada?
Ela fez uma purga na DREN. Encheu-a de gente com cartão partidário e influência nas estruturas do PS. Mais: passou os professores requisitados na direcção-regional a técnicos superiores, pertencentes ao quadro da secretaria-geral do Ministério e que não podem ser retirados de lá. A DREN é hoje uma instituição de pensamento único.
Onde ela puser o pé, não cresce relva. Mas está a ser contestada pela grande maioria dos professores do Norte do País. A DREN não é respeitada. Ela decide tudo de forma repentista, em cima do joelho, sem consultar técnicos nem juristas. E aplica duplas penas em processos disciplinares, uma aberração jurídica. Investiguem os papéis e documentos para confirmar o que digo [...]».

Mais uma peripécia de José Sócrates

Depois do caso da licenciatura, depois do caso das assinaturas de projectos alheios, depois do caso Freeport, agora temos mais uma peripécia: José Sócrates não cumpriu um dever que a lei impõe - não preencheu, durante os anos de 2000, 2001 e 2002, a rubrica «rendimentos brutos» da sua declaração de rendimentos entregue no Tribunal Constitucional.
Mas, como brevemente iremos descobrir, estes factos não ocorreram, são mais uma invenção criada pela conhecida campanha negra.

quinta-feira, 19 de março de 2009

Parábola do Professor

«Naquele tempo, Jesus subiu ao monte seguido pela multidão e, sentado sobre uma grande pedra, deixou que os seus discípulos e seguidores se aproximassem. Depois, tomando a palavra, ensinou-os dizendo:
- Em verdade vos digo, bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus. Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados. Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles...
Pedro interrompeu: - Temos que aprender isso de cor?
André disse: - Temos que copiá-lo para o caderno?
Tiago perguntou: - Vamos ter teste sobre isso?
Filipe lamentou-se: - Não trouxe o papiro-diário.
Bartolomeu quis saber: - Temos de tirar apontamentos?
João levantou a mão: - Posso ir à casa de banho?
Judas exclamou: - Para que é que serve isto tudo?
Tomé inquietou-se: - Há fórmulas, vamos resolver problemas?
Tadeu reclamou: - Mas porque é que não nos dás a sebenta e pronto?
Mateus queixou-se: - Eu não entendi nada, ninguém entendeu nada!

Um dos fariseus presentes, que nunca tinha estado diante de uma multidão nem ensinado nada, tomou a palavra e dirigiu-se a Ele, dizendo:
- Onde está a tua planificação?
- Qual é a nomenclatura do teu plano de aula nesta intervenção didáctica mediatizada?
- E a avaliação diagnóstica?
- E a avaliação institucional?
- Quais são as tuas expectativas de sucesso?
- Tendes para a abordagem da área em forma globalizada, de modo a permitir o acesso à significação dos contextos, tendo em conta a bipolaridade da transmissão?
- Quais são as tuas estratégias conducentes à recuperação dos conhecimentos prévios?
- Respondem estes aos interesses e necessidades do grupo de modo a assegurar a significatividade do processo de ensino-aprendizagem?
- Incluíste actividades integradoras com fundamento epistemológico produtivo?
- E os espaços alternativos das problemáticas curriculares gerais?
- Propiciaste espaços de encontro para a coordenação de acções transversais e longitudinais que fomentem os vínculos operativos e cooperativos das áreas concomitantes?
- Quais são os conteúdos conceptuais, processuais e atitudinais que respondem aos fundamentos lógico, praxeológico e metodológico constituídos pelos núcleos generativos disciplinares, transdisciplinares, interdisciplinares e metadisciplinares?

Caifás, o pior de todos, disse a Jesus:
- Quero ver as avaliações do primeiro, segundo e terceiro períodos e reservo-me o direito de, no final, aumentar as notas dos teus discípulos, para que ao Rei não lhe falhem as previsões de um ensino de qualidade e não se lhe estraguem as estatísticas do sucesso. Serás notificado em devido tempo pela via mais adequada. E vê lá se reprovas alguém! Lembra-te que ainda não és titular e não há quadros de nomeação definitiva.

Foi então que Jesus pediu ao Pai que instituísse a possibilidade da reforma antecipada...»
(Desconhece-se a autoria do texto)

Até flores recebemos!

Oferecido por fb.

quarta-feira, 18 de março de 2009

Pára-me de repente o pensamento

A consciência e a dor são forças que provocam a aceleração do pensamento. O esforço e o conflito que supõem essas forças conduzem-nos à necessidade de, como o cavalo, perante um abismo, nos aferrarmos a solo firme para descortinar o estado que, enviesado, nos traz a alucinação do presente.

Pára-me de repente o Pensamento...

- Como se de repente sofreado

Na Douda Correria... em que, levado...

- Anda em Busca... da Paz... do Esquecimento


- Pára Surpreso... Escrutador... Atento

Como pára... um Cavalo Alucinado

Ante um Abismo... ante seus pés rasgado...

- Pára... e Fica... e Demora-se um Momento...



Vem trazido na Douda Correria

Pára à beira do Abismo e se demora


E Mergulha na Noute, Escura e Fria

Um Olhas d'Aço, que na Noute explora...


- Mas a Espora da dor seu flanco estria...

- E Ele Galga... e Prossegue... sob a Espora!

Ângelo de Lima - 1900

Primeiro ano de vida!

O estado da educação e do resto completa hoje o seu primeiro ano de vida.
Há um ano postamos o nosso Texto de Abertura:
«Foi o estado a que chegou a Educação (e o resto) que nos decidiu a criar este blogue. Entendemo-lo como mais um instrumento de intervenção cívica com o qual alargamos e completamos as actividades que cada um de nós desenvolve nos mais diversos domínios da vida social, e, igualmente, como um prolongamento da nossa intervenção profissional, enquanto professores.
Este blogue nasce numa conjuntura particularmente grave da Educação em Portugal. Nasce no momento em que a política educativa, desprezando a substância, se centra na aparência e trabalha exclusivamente para a estatística, simulando, contudo, estar a elevar a qualidade da formação dos portugueses e a qualidade do ensino.
Paralelamente, foi esta mesma política educativa que elegeu como alvo os professores, acusando-os de serem os responsáveis pelo estado a que chegou a educação no nosso país. Com arrogância e incompetência política e técnica, os responsáveis pela pasta da educação decidiram menosprezar e desprezar a dignidade dos docentes. Consequência, a líder converteu em seus opositores aqueles que deveria liderar.
Complementarmente, constata-se um fenómeno inovador: toda a gente sente-se capacitada, avalizada e fundamentada para emitir sentenças e produzir juízos sobre qualquer domínio da educação, por mais complexo que ele seja, como é o caso da avaliação de desempenho dos professores. Do palpite ao insulto desabrido, vê-se, lê-se e ouve-se de tudo.
A Educação não saiu à rua, caiu na rua! Ora, se a Educação não pode ser um reduto de elites, também não pode ser um pântano de alvitres.»

Esta parte do Texto de Abertura do blogue podia ter sido escrita hoje, que mantinha plena actualidade. Por aqui se vê como este foi um ano perdido na Educação. Estamos na mesma, no mesmo ponto de há um ano. A responsabilidade disto é da ministra da Educação e do Governo que temos. Por isso, no que a esta parte diz respeito, não temos motivos para festejar. No que a esta parte diz respeito, só podemos dizer que estivemos e continuaremos a estar determinados a prosseguir o caminho da firme contestação à política responsável pelo período mais negro da história da Educação em Portugal, desde há 35 anos.
Mas esta ministra da Educação, felizmente, sairá, desaparecerá. Nós ficaremos cá, como sempre, a cumprir o nosso dever, e, neste caso, também a corrigir os dislates, a apagar o fogo que irresponsavelmente ela ateou, a introduzir bom senso onde tem existido arrogância e prepotência. Em Outubro, o mais tardar, Maria de Lurdes Rodrigues vai embora. Nessa altura festejaremos.

Há um ano, concluíamos o nosso Texto de Abertura assim:
«Submeteremos ao escrutínio da crítica tudo o que considerarmos que deve ser escrutinado. Em primeiro lugar, as nossas próprias opiniões, que ficam sujeitas à exposição pública e ao contraditório; em segundo lugar, a política educativa, da legislação e orientações emanadas do Ministério da Educação até às opções e medidas que, adoptadas por uma qualquer escola, mereçam ser favorável ou desfavoravelmente criticadas.
Mas a vida não é só educação e, por isso, este blogue não está limitado a esse campo específico. A educação é produtora e é produto de sociedades, de culturas, de decisões políticas, de opções ideológicas, religiosas, estéticas e filosóficas. Deste modo, sempre que a vontade, a necessidade ou a oportunidade o ditarem, quaisquer outros assuntos serão aqui abordados.
As opiniões são individuais, vinculam apenas os seus subscritores. Temos em comum a necessidade e a vontade de intervir. A liberdade de opinião é integralmente respeitada, assim como serão respeitados, sempre, os limites dentro dos quais se desenvolve o exercício pleno da cidadania. A frontalidade e a agressividade críticas nunca darão lugar ao insulto pessoal ou à calúnia.
Por outro lado, não nos deixaremos condicionar pelo clima da mais ou menos discreta intimidação que este governo achou por bem inaugurar e que vários zelotas têm tentado desenvolver em diferentes locais de trabalho do Estado. Por isso, os artigos por nós escritos serão sempre assinados.
Finalmente, queremos deixar público agradecimento a um amigo de longa data, Miguel Teixeira, designer de profissão, pelo tratamento artístico do título do blogue e pela ajuda técnica na sua construção.»

Olhando para trás, pensamos que cumprimos aquilo a que nos comprometemos, isto é, exercemos o escrutínio e submetemo-nos ao escrutínio, falámos, analisámos, discutimos a Educação deste país, mas também saltitámos pelo resto - pela política geral, pela filosofia, pela poesia, pela literatura, pela música, pela pintura, pelo cinema, pelo humor, pela banda desenhada e por aí fora...
Acima de tudo tentámos partilhar opiniões, gostos e prazeres com quem tem a gentileza de nos visitar.
Um ano decorrido, queremos agradecer a todos aqueles (e novamente ao Miguel) que diariamente ou de quando em vez passam por cá, para lerem, para ouvirem ou para observarem o que por aqui vamos postando. E, claro, um agradecimento muito particular àqueles que não só nos visitam como também comentam e partilham opiniões, pensamentos, críticas. Sem eles o blogue seria mais pobre.
Ao contrário do que dissemos acima, no que a esta parte diz respeito, já temos boas razões para festejar.
Fica, então, o nosso obrigado e a ameaça de que continuaremos por cá.

Jaime Ribeiro, João Pedro Costa, Margarida Correia, Mário Carneiro.

Às quartas

Retrato

Cruel como os Assírios,
Lânguido como os Persas,
Entre estrelas e círios
Cristão só nas conversas.

Árabe no sossego,
Africano no ardor;
No corpo, Grego, Grego!
Homem, seja onde for.

Romano na ambição,
Oriental no ardil,
Latino na paixão,
Europeu por subtil:

Homem sou, homem só
(Pascal: «nem anjo nem bruto»)
Cristãmente, do pó
Me levante impoluto.

Vitorino Nemésio

O que os movimentos/blogues podem propor que se faça e o que os movimentos/blogues podem fazer - 2

O que os movimentos/blogues podem fazer

É consensual que o Governo que temos é um Governo que vive da e para a imagem - assemelha-se a uma realidade virtual, sem substância, reduzido ao marketing que o sustenta. Ontologicamente este Governo equivale a nada. Julgo que não deve ter havido, em Portugal, um Governo semelhante a este: manipulador da opinião pública, despudoradamente demagogo, falsificador e adulterador da realidade através do jogo das estatísticas e da sedução de parte da comunicação social. Sobrevive à custa de um ininterrupto e medonho faz-de-conta.
A encenação, a aparência, a imagem constituem, desta forma, o ponto forte do Governo. O ponto forte e o ponto fraco, porque, se atingido nesse ponto, o Governo fica reduzido a coisa nenhuma e desnuda-se o imenso vazio que o preenche. Ora, no Governo, para além do primeiro-ministro, o paradigma desta enorme encenação, deste incomensurável fingimento é o Ministério da Educação, ao qual acrescenta incompetência técnica e incompetência política.

Defendo, por isso, que, para além das iniciativas que devem propor (Fórum Nacional «Compromisso Educação», Manifestação/Marcha Nacional e Greve prolongada), os movimentos/blogues deveriam empenhar-se seriamente na preparação de uma grande campanha pública de descredibilização da política do Ministério da Educação, em particular, do seu incompetente modelo de avaliação.
Neste momento os movimentos/blogues (ainda) gozam de alguma boa imprensa, isto é, alguma comunicação social (alguns jornais, algumas televisões e algumas rádios) está receptiva às notícias oriundas dos movimentos/blogues que ainda são uma novidade e uma lufada de ar fresco no meio dos rituais gastos do movimento sindical e dos jogos de interesses partidários.
É fácil para os movimentos/blogues conseguir a atenção dessa comunicação social para iniciativas que venha a desenvolver: conferências de imprensa, entrevistas, acções públicas. Deste modo, é possível aos movimentos/blogues elencar e depois divulgar com eficácia mediática a «casa de horrores» que é o Ministério da Educação. É um imperativo profissional fazê-lo, e, ao ponto de degradação a que a política educativa chegou, é também um imperativo ético fazer a denúncia pública do pântano em que as escolas foram transformadas, pelas medidas impostas pela ministra Maria de Lurdes Rodrigues.
Durante o 3º período, uma vez em cada semana, de modo planificado, os movimentos/blogues deveriam convocar uma conferência de imprensa para denunciar as múltiplas situações de objectiva/o(s):
- incompetência técnica da ministra da Educação e dos seus secretários de Estado;
- injustiça de que muitos professores foram e estão a ser alvo;
- violação dos mais elementares direitos, como seja o direito ao respeito e à dignidade profissional, operada por um escandaloso concurso para professor titular;
- ilegalidades geradas pela própria legislação produzida pelo ME;
- incompetência avaliativa de muitos dos itens que compõem as fichas de avaliação do desempenho docente;
- incongruência e farsa do simplex;
- faz-de-conta que é o estatuto do aluno;
- incoerência das declarações da ministra da Educação ao longo do último ano;
- incompetência política de Maria de Lurdes Rodrigues que sempre sobrepôs e sobrepõe os interesses pessoais e partidários aos interesses do país e, em particular, aos interesses da Educação.
- etc., etc.

É uma campanha fácil de realizar, porque basta contar a verdade.
Uma campanha destas, planificada e preparada por uma equipa alargada de professores, encontra facilmente dezenas ou centenas de situações reais que de forma evidente revelam a impreparação e a incapacidade da ministra da Educação para o exercício do cargo. Ao contrário do que a propaganda do Governo e do PS quer fazer crer, esta ministra da Educação constitui uma vergonha nacional. E esta realidade tem de ser denunciada até à exaustão e até às eleições legislativas.
Esta campanha possibilita alcançar quatro objectivos fundamentais:
1. Descredibilizar e ridicularizar o Ministério da Educação;
2. Remobilizar os professores para a contestação e para a firme oposição à desastrada e desastrosa política educativa deste Governo;
3. Credibilizar a imagem dos movimentos/blogues pela rigorosa fundamentação técnica do escrutínio que fazem à política educativa;
4. E, finalmente, mostrar que existem alternativas de modelos de avaliação mais competentes e mais justos.

terça-feira, 17 de março de 2009

Providência cautelar aceite

Comunicado da Fenprof (adaptado)

TRIBUNAL ADMINISTRATIVO E FISCAL DO NORTE ACEITA PROVIDÊNCIA CAUTELAR REQUERIDA PELA FENPROF

TRIBUNAL ADMINISTRATIVO DE CÍRCULO DE LISBOA ADMITE QUE NÃO PODERÃO RESULTAR PREJUÍZOS PARA OS PROFESSORES

O TAF do Norte aceitou a Providência Cautelar requerida pelo SPN/FENPROF e que assentava no facto de alguns professores terem sido notificados pelas suas escolas, devido à não apresentação de proposta de OI, sendo informados, através da notificação, que estariam impedidos de ser avaliados e/ou que seriam penalizados no seu desenvolvimento de carreira.
[...]
Portanto, também as posições já conhecidas dos tribunais, apesar de a decisão sobre as acções administrativas apresentadas não estar ainda tomada, parecem ir ao encontro da interpretação que a FENPROF faz e que as escolas e os professores têm vindo a fazer.
Mas, convém referir, a luta dos professores, atravessando, agora, esta fase mais jurídica, não vai no sentido de garantir o reconhecimento de que a avaliação pode ter lugar independentemente de terem ou não sido fixados objectivos individuais, mas no de suspender, este ano, o desqualificado modelo de avaliação imposto pelo ME e de o substituir, para o futuro, por um modelo formativo, coerente, adequado à função docente e capaz de ter relevância para o desempenho dos docentes e, dessa forma, para as aprendizagens dos alunos.

Resposta do M.E. sobre a não entrega de objectivos individuais não passa de um conjunto de equívocos
Relativamente às dúvidas suscitadas em relação às consequências da não entrega de Objectivos Individuais pelos docentes, no âmbito da avaliação do desempenho, a resposta do Ministério da Educação ao Gabinete do Ministro dos Assuntos Parlamentares e, por esta via, à Comissão de Educação e Ciência da Assembleia da República não consegue sair da vulgaridade de outras respostas já antes divulgadas pela DGRHE/ME junto das escolas e assenta num conjunto de equívocos, que se lamentam. Resposta, aliás, contrariada pela própria Ministra quando, em entrevista recente, afirmou que eventuais penalizações ou inviabilização de avaliação seria algo a decidir pelas escolas, sacudindo, dessa forma, a água para capote alheio, o que é inaceitável. Se há responsabilidades pela confusão criada elas pertencem inteiramente ao ME, cabendo-lhe assumi-las em vez de as atribuir aos outros.
Na resposta que o ME fez chegar aos Deputados falta ainda, e era bom que não faltasse, um conjunto de esclarecimentos que, a serem referidos, faria ruir todo o castelo de argumentação ministerial.
A saber:
- A apresentação, pelo docente, de uma proposta de objectivos individuais (OI) não é um dever profissional. Estes são apenas os que constam do artigo 10.º do ECD (Decreto-Lei n.º 15/2007, de 19 de Janeiro);
- A apresentação, pelo docente, de uma proposta de objectivos individuais não constitui uma fase do processo de avaliação. Estas são as que constam dos artigos 44.º e 15.º, respectivamente do ECD e do Decreto Regulamentar n.º 2/2008, de 10 de Janeiro;
- A apresentação, pelo docente, de uma proposta de objectivos individuais não é obrigatória. Obrigatória é a auto-avaliação, conforme estabelece o n.º 2 do artigo 16.º do Decreto Regulamentar n.º 2/2008, de 10 de Janeiro. Como, aliás, refere a DGRHE/ME em informação enviada às escolas, a apresentação de proposta de OI é uma “possibilidade”. Ou seja, um direito que, como tal, pode ou não ser exercido;
- Equívoca é, ainda, a utilização da expressão “fixação de objectivos individuais” e, principalmente, a falta de clarificação sobre quem tem competência para os fixar. De facto, tal competência não é do avaliado, mas do avaliador. O avaliado pode apresentar uma proposta de OI, mas compete ao avaliador fixá-los, podendo, para esse efeito, aceitar, ou não, os que são propostos. Foi, aliás, nesse sentido que a DGRHE/ME informou os presidentes dos conselhos executivos de que estes poderiam, se entendessem, fixar os OI de quem não tivesse apresentado qualquer proposta;
- Por fim, a FENPROF entende que o normal desenvolvimento do processo de avaliação não depende da existência de objectivos necessariamente fixados para cada docente, pois o artigo 8.º do Decreto Regulamentar n.º 2/2008, de 10 de Janeiro, já estabelece os “elementos de referência da avaliação”.
Equívoca, mal construída e tecnicamente incorrecta, a resposta do ME apenas confirma a confusão em que mergulhou, mais uma vez, o processo de avaliação imposto aos professores, razão que reforça a necessidade da sua suspensão imediata, sob pena de se acentuarem ainda mais os conflitos e a instabilidade que atinge as escolas.
O Secretariado Nacional

Bonecos de palavra

segunda-feira, 16 de março de 2009

O que os movimentos/blogues podem propor que se faça e o que os movimentos/blogues podem fazer - 1

O que os movimentos podem propor que se faça
Como os movimentos não podem marcar greves nem têm a capacidade logística nem financeira para mobilizar um grande número de professores, resta-lhes, a este nível, apresentar, junto dos professores e dos sindicatos, propostas de caminhos a seguir e de acções a desenvolver.
No Encontro de Professores realizado em Leiria, nem sempre a consciência desta limitação esteve presente, como nem sempre se teve presente que não é possível ou não é aconselhável definir, com pormenor, as acções a propor (não é aconselhável porque o desenvolvimento desse tipo de acções não depende dos movimentos, depende dos sindicatos, e a calendarização dos sindicatos é feita em função dos jogos partidários e eleitorais e não em função da resolução efectiva dos problemas profissionais dos professores; e, finalmente, porque a lógica sindical não permite que outros tomem a iniciativa, pelo menos publicamente). Para além de que os resultados das negociações que estão a decorrer entre os ME e os sindicatos sobre o Estatuto da Carreira Docente serão determinantes para se saber, com precisão, qual o rumo que se deve e pode seguir.
Os movimentos podem fazer pressão, mas não têm o poder, neste domínio, de definir as situações e de as realizar.

Neste contexto, é minha opinião que os movimentos devem submeter ao sufrágio dos professores três propostas gerais (sem datas muito definidas e sem prévios pormenores organizacionais, que em momento posterior serão apurados):

A. Realização, no mês de Maio, do Fórum Nacional «Compromisso Educação» para celebração de um compromisso para a Educação que vincule partidos políticos, sindicatos, associações e movimentos de professores (proposta apresentada pelo PROmova);

(E se, como previsivelmente acontecerá, as negociações sobre o ECD forem infrutíferas)
B. Realização, durante o mês de Maio, de uma Manifestação/Marcha Nacional (proposta da APEDE, MEP e MUP);
C. Realização de uma greve prolongada realizada por sectores e/ou níveis de escolaridade ou por outra forma, que possibilite, a baixos custos, o seu desenvolvimento no tempo.

Uma nota sobre a hipótese de uma greve às avaliações.
Como tive oportunidade de afirmar no Encontro, a greve às avaliações no 3º período é uma hipótese que levanta diversos problemas:
1. No 3º período, os Conselhos de Turma de Avaliação não se iniciam todos ao mesmo tempo nem terminam todos ao mesmo tempo, dentro da mesma escola e entre as diferentes escolas (estendem-se do início até final de Junho). O que significa que professores de umas escolas entrariam em greve e professores de outras escolas não. O que significaria que muitos educadores não fariam greve e muitos professores do 1º ciclo só a poderiam fazer, eventualmente, no final do mês de Junho.
2. Isto faria com que, eventualmente, os professores que leccionam os 11.º e 12º anos, que seriam os primeiros a iniciar as greves e sobre os quais toda a pressão seria exercida, se sentissem desacompanhados e se sentissem os alvos isolados de todas as críticas que inevitavelmente surgiriam.
3. Seguramente que várias seriam as vozes que salientariam que os sacrifícios financeiros resultantes daquela greve não seriam distribuídos de modo semelhante por todos os professores.
Ora, nada disto abona a favor da coesão e da eficácia deste tipo de greve. E não estou a introduzir, nestas observações, elementos de outra ordem, como sejam: a fácil manipulação de que esta acção seria alvo por parte de todos os que estão interessados em denegrir a imagem dos professores (este Governo, os Rangéis, os Tavares e os Vitais deste país); os danos que resultariam para alunos e pais e as consequentes e imprevisíveis reacções; o nível de receptividade que esta greve teria junto dos professores; o carácter aparentemente acintoso e direccionado para o elo mais fraco - os alunos - de que esta greve seria acusada.

Acerca daquilo que os movimentos/blogues podem efectivamente fazer, porque não dependem de ninguém para o realizar, escreverei em próximo post. E aquilo que os movimentos/blogues podem fazer é, do meu ponto de vista, tão relevante, para os objectivos que se prosseguem, como o que acima foi referido.

domingo, 15 de março de 2009

Pensamentos de domingo

«Eu amo a humanidade. As pessoas é que eu não suporto.»
Charles M. Schulz

«A poluição da água chegou a tal ponto que a última vez que a maré baixou voltou enjoada.»
Anónimo

«Chamas, já?
(Disse antes de morrer para o padre que esperava para lhe falar quando reparou na lâmpada que flamejava ao lado da cama).»
Voltaire
In José Manuel Veiga, Manual para Cínicos.

Stan Getz

sábado, 14 de março de 2009

O Encontro Nacional de Professores foi hoje

Promovido por cinco movimentos de professores independentes, APEDE, MEP, MUP, PROmova e CDEP, realizou-se, hoje, em Leiria, o Encontro Nacional de Professores em Luta, que contou com a presença de cerca de cento e vinte professores de escolas de todo país.
As múltiplas propostas apresentadas e o debate realizado traduziram dois aspectos bem patentes durante todo o dia do Encontro: por um lado, o inconformismo e a determinação de não parar o processo de contestação da incompetência política e técnica do Ministério da Educação; por outro lado, a divergência quanto às formas mais eficazes de realizar esse objectivo.
A decisão tomada acabou por ser a de, a partir de um leque alargado de possibilidades (realização de um Fórum Nacional sobre a Educação, contestação jurídica, Manifestação Nacional, greve de 3 dias, greve prolongada, greve por tempo indeterminado, greve às avaliações, entre outras) auscultar nas escolas a opinião dos professores com vista a uma avaliação precisa das suas vontades.
Tentarei, em próximos posts, desenvolver e dar a minha opinião sobre esta matéria.

Ao sábado: momento quase filosófico


Acerca dos Paradoxos de Zenão

«Um paradoxo é um raciocínio aparentemente sólido baseado em hipóteses aparentemente verdadeiras que conduz a uma contradição ou a outra conclusão obviamente falsa. [...] Ter duas ideias mutuamente contraditórias nas nossas cabeças ao mesmo tempo deixa-nos tontos.
Relativamente a ter duas ideias mutuamente exclusivas ao mesmo tempo, Zenão de Eleia foi um verdadeiro mestre.
Conhecem a história sobre a corrida entre Aquiles e a tartaruga? Naturalmente, Aquiles pode correr mais depressa que a tartaruga, por isso esta última parte com grande avanço. Depois de soar o tiro de partida - ou, como diziam no século V a. C., depois de o dardo ser lançado - o primeiro objectivo de Aquiles é chegar ao local em que a Tartaruga começou. Claro que nessa altura a tartaruga já se moveu um pouco. Por isso, agora Aquiles tem de chegar a esse local. Quando chega lá, a tartaruga avançou de novo. Por muitas vezes que Aquiles chegue ao último local em que a tartaruga esteve, mesmo que o faça um número infinito de vezes, nunca apanhará a tartaruga, apesar de estar extremamente próximo. A única coisa de que a tartaruga necessita para vencer a corrida é não parar. [...]
Outro dos seus paradoxos foi o da pista de corridas. Para chegar ao fim da pista de corridas, um corredor tem de completar primeiro um número infinito de viagens. Tem de correr para o ponto intermédio; depois, tem de correr para o ponto intermédio da distância seguinte; depois, para o ponto intermédio da distância restante, etc., etc. Teoricamente falando, como tem de chegar a pontos intermédios um número infinito de vezes, nunca consegue chegar ao fim da pista. [...]
Eis uma velha piada que parece saída directamentee de Zenão:
Vendedor: Minha senhora, este aspirador fará o seu trabalho em metade do tempo.
Cliente: Fantástico! Quero dois.»
Thomas Cathcart e Daniel Klein, Platão e um Ornitorrinco Entram num Bar...

sexta-feira, 13 de março de 2009

A importância do Encontro de Leiria

O Encontro Nacional de Professores em Luta que, amanhã, vai realizar-se em Leiria reveste-se de particular interesse. Entre outras razões, porque o Encontro poderá ser um espaço e um momento de:

1. Reafirmação da independência dos movimentos de professores relativamente ao movimento sindical docente. Penso que esta independência é essencial e deverá ser sempre preservada, caso contrário, os movimentos independentes perdem a razão da sua existência.

2. Afirmação e aprofundamento da qualidade da contestação e da oposição que os movimentos independentes realizam. Quer na forma quer no conteúdo quer na dinâmica existe uma diferença substantiva entre a contestação levada a cabo pelos movimentos e a contestação rotineira e ritualizada das organizações sindicais.

3. Afirmação da acção movida por critérios profissionais e de política educativa. Distinta da acção movida por interesses partidários e por jogos eleitorais.

4. Exercício de um debate sério acerca da definição dos objectivos e das estratégias do processo de oposição às politicas e às medidas do Governo na área da Educação.

5. Aperfeiçoamento dos mecanismos de coordenação da acção dos diferentes movimentos.

Como será de esperar, a quantidade de participantes não deverá ser muito elevada, mas que isso possa ser revertido no sentido de ser a qualidade da participação a beneficiária dessa circunstância.

Até amanhã, em Leiria.

quarta-feira, 11 de março de 2009

Sempre a mesma incompetência deste Ministério da Educação

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Do blogue do PROmova

Às quartas

A Recusa das Imagens Evidentes

Há noites que são feitas dos meus braços
E um silêncio comum às violetas.
E há sete luas que são sete traços
De sete noites que nunca foram feitas.

Há noites que levamos à cintura
Como um cinto de grandes borboletas.
E um risco a sangue na nossa carne escura
Duma espada à bainha dum cometa.

Há noites que nos deixam para trás
Enrolados no nosso desencanto
E cisnes brancos que só são iguais
À mais longínqua onda do seu canto.

Há noites que nos levam para onde
O fantasma de nós fica mais perto;
E é sempre a nossa voz que nos responde
E só o nosso nome estava certo.

Há noites que são lírios e são feras
E a nossa exactidão de rosa vil
Reconcilia no frio das esferas
Os astros que se olham de perfil.

Natália Correia

terça-feira, 10 de março de 2009

Igualmente, parabéns ao MEP (ainda que atrasados)

Ainda que atrasados, aqui ficam também os merecidos parabéns ao MEP e as desculpas pela desatenção. Sei que hoje é realizada a festa do primeiro aniversário, ainda que o dia do nascimento tenha sido a 19 de Fevereiro.
O que abaixo escrevi, a propósito do MUP, aplica-se também ao MEP e, por isso, o post abrange ambos.
Espero que o repasto tenha sido agradável e retemperador de energias para a luta que não pode parar.
Um abraço.

Faz hoje 1 ano que o MUP foi constituído. Parabéns!

Ao Ilídio Trindade e ao MUP as minhas felicitações pelo valoroso contributo prestado no combate à política educativa do actual Governo - combate particularmente difícil e desigual.
O MUP e os demais movimentos independentes tiveram, e espero que continuem a ter, uma importância decisiva no desenvolvimento da actual luta dos professores. A eles se deve, em grande medida, o facto histórico da classe profissional dos professores estar a manter, já lá vai mais de um ano, uma contestação firme e sustentada a uma política governamental específica.
A acção do MUP e dos demais movimentos independentes tem tido consequências da maior relevância a vários níveis. Destaco três:
1. A nível da intensidade das acções de oposição à desastrosa política educativa do actual Governo;
2. A nível da pressão que exerce sobre os sindicatos de professores, para os quais, há muito tempo, a luta já teria sido dada por encerrada, ou, então, estaria adormecida, se não fossem os movimentos independentes;
3. A nível da qualidade da contestação técnica, para além da contestação política, da incompetente legislação produzida pelo Ministério da Educação.

Deixo aqui um abraço, um agradecimento e uns merecidos parabéns.

Bonecos de palavra - Tecnologia amiga...

segunda-feira, 9 de março de 2009

Encontro Nacional


©ProtestoGráfico
As inscrições e a apresentação de propostas devem ser feitas até às 12:00 horas da próxima 5ª feira, dia 12 de Março para: APEDE, MEP, MUP, PROmova ou CDEP

As contas continuam a ser feitas - 9

ESCOLAS/AGRUPAMENTOS A NÍVEL NACIONAL
Escolas/Agrupamentos contabilizados: 158
Professores que entregaram os OI's: 9343 (46%)
Professores que não entregaram os OI's:
10963 (54%)
(dados de 08.Março.09)

Fontes: MUP e PROmova

domingo, 8 de março de 2009

Pensamentos de domingo

Atendendo à data, os Pensamentos de domingo são, hoje, dedicados apenas à mulher e em duplicado:

«As mulheres inspiram-nos a fazer obras de arte, mas impedem-nos de as realizar.»
Oscar Wilde

«Tem de se escolher entre amar as mulheres ou conhecê-las.»
Nicolas Chamfort

«A mulher é uma criatura que ao ouvir o telefone tocar puxa de uma cadeira.»
Anónimo

«A mulher foi o segundo erro de Deus.»
Nietzsche [duvido que ele tenha dito isto, mas está bem...]

«Uma mulher deve seguir o seu marido - aonde quer que ela queira ir.»
Provérbio francês.

«A mulher necessita tanto do homem como o peixe necessita da bicicleta.»
Slogan do Movimento Feminista EUA
In José Manuel Veiga, Manual para Cínicos.

ÚLTEMA ÓRA!!!!!

Purtuguês subestituido pleo Mangalhanês

Conciderando o matrial enformatico amandado pras iscolas a pratir, doje o pertugués daxa: de vigurar e passasse-se a incinar - a variante da sinco de Otubro, conhcida plo Mangalhanês.

Inzenplos tirados do “Manganhães”:

* "Carrega nos elementos até pensares que encontras-te a boa resposta. (...) Nos níveis mais baixos, o Tux indica-te onde encontras-te uma boa cor marcando o elemento com um ponto preto.
* "Com o teclado, escreve o número de pontos que vês nos dados que caêm."
* " Se os jogadores se acordam no facto que o jogo está num ciclo sem fim, cada jogador captura as sementes do seu lado."
* "Ao princípio do jogo 4 sementes são metidas em cada casa. O jogadores movem as sementes por vês. A cada torno, um jogador escolhe uma das 6 casas que controla. (...) Se a última semente também fês um total de 2 ou 3 numa casa do adversário, as sementes também são capturadas, e assim de seguida."
* "Pega as imagens na esquerda e mete-las nos pontos vermelhos."
* "Saber contar básicamente."
* "Move os elementos da esquerda para o bom sitio na tabela de entrada dupla."
* "Com o teclado, escreve o número de pontos que vês nos dados que caêm."
* "Primeiro, organiza bem os elementos para poder contar-los (...)."
* "Treina a subtracção com um jogo giro. Saber mover o rato, ler números e subtrair-los até 10 para o primeiro nível."
* "Quando acabas-te, carrega no botão OK ou na tecla Entrada."
* "Conta quantos elementos estão debaixo do chapéu mágico depois que alguns tenham saído."
* "Tens a certeza que queres saír?"
* "Aprende a escrever texto num processador. Este processador é especial em que obriga o uso de estilos (...)"
* "Neste processador podes escrever o texto que quiseres, gravar-lo e continuar-lo mais tarde. Podes estilizar o teu texto utilizando os botões à esquerda. Os quatro primeiros permitem a escolha do estilo da linha em que está o cursor. Os 2 outros com múltiplas escolhas permitem de escolher tipos de documentos e temas coloridos pré-definidos."
* "É preciso saber manipular e carregar nos botões do rato fácilmente."
* "Mexe as peças puxando-las. Carrega o botão direito nelas para as virar. Selecciona uma peça e roda à volta dela para a rodar. Quando a peça pedida estiver feita, o computador vai reconhecer-la (...)."

Nota 1 – Se não axastes nenhu errro, quer deser que vaix ter “xelente” (ò xulente?) (ò é eis-xelente?)

Nota 2 – Ficazasaber que nu Concelho de Menixtros já se izcreve assim.

Pat Metheny e Charlie Haden

Mais um exemplo de faz-de-conta e de falta de seriedade deste modelo de avaliação

Do blogue do PROmova:

«A situação a seguir descrita merece ser divulgada publicamente e deve constituir uma peça de reflexão para aqueles que, por desconhecimento ou amarrados à fidelização política, defendem este modelo de avaliação dos professores à outrance, como é o caso, entre outros, de Vital Moreira. Os que consideram a necessidade de os professores serem avaliados com base num processo exigente e credível, não podem continuar a branquear as injustiças e as inconsistências que suportam este modelo de avaliação, pois quando o mesmo é implementado tende a gerar situações que o desacreditam por completo.Em contexto escolar, a avaliação é um processo que requer uma grande tecnicidade e garantias de imparcialidade, não podendo, como tal, ser deixada à discricionariedade pessoal e à precariedade de soluções esvaziadas de qualquer autoridade reconhecida.

Ao contrário de outros, os professores levam a avaliação, qualquer que ela seja, muito a sério e, como tal, não estão disponíveis para brincadeiras.

http://3.bp.blogspot.com/_KdtlQSb9TP0/SbMjV5ESWkI/AAAAAAAAA6U/zRL3itc6HUQ/s400/socrates2.jpg“Falemos da minha escola (...).
Dois docentes de EF (um do 2º ciclo outro do 3º) entregaram os OIs e pediram avaliação na componente científico-pedagógica. Ora, não havendo na escola nenhum docente titular nem sequer docente do quadro de escola do grupo de recrutamento destes dois, foram NOMEADOS avaliadores dos colegas dois docentes dos respectivos grupos de recrutamento, do 5º e 6º escalões (da antiga estrutura)!
Em resumo: dois professores do quadro de zona pedagógica do 5º e 6º escalões vão ser equiparados a titular durante o período de avaliação, vão auferir vencimentos como se de titulares se tratasse, ficam libertos da avaliação e ainda se podem candidatar às menções Muito Bom e Excelente!
Ora diz lá se não vale a pena haver nas escolas professores a entregarem OIs e a exigirem aulas assistidas???
Viva o oportunismo!”

PROmova dixit:
Este relato (professor e escola devidamente identificados) é, absolutamente, escandaloso e deve ser objecto da mais ampla divulgação pública, pois exprime uma situação que tem, tanto de caricato, como de absurdo e de indigno.
O que está a acontecer nesta escola é bem a prova da acusação que temos vindo a fazer, de acordo com a qual este modelo de avaliação, além de inconsistente e injusto nos seus fundamentos, não goza de credibilidade e de seriedade.
É uma completa leviandade e irresponsabilidade desta equipa ministerial e deste Governo entregar a avaliação do desempenho dos professores (com repercussões nas suas colocações e nas suas carreiras) à casuística e à arbitrariedade de pessoas, cuja preparação e adequação para avaliar não foram objecto de rigoroso escrutínio, nem de formação, além de que nem a experiência da docência se verifica.
Nesta situação, nem sequer a farsa do concurso de acesso a professor titular pode ser invocada, pois trata-se de algo ainda mais grave, isto é, avaliadores pertencentes aos 5º e 6º escalões antigos (pasme-se!!!).
Os professores e as escolas não estão dispostos a brincar às avaliações, nem se deixarão envolver em processos de "faz de conta" que está implementada uma avaliação do desempenho.
À semelhança do que ocorreu com a lotaria dos titulares, cujos desempenhos de cargos não foram avaliados, da avaliação que as estruturas do ME (não) fizeram do software educativo que distribuíram às crianças, também nesta situação prevalece a falta de exigência e seriedade.
São estes os exemplos de avaliação que constituem o desígnio deste Governo?
Em matéria de rigor e credibilidade estamos entendidos!»