sábado, 28 de março de 2009

Ao sábado: momento quase filosófico

Acerca da Teoria do Conhecimento
«Como é que sabem que sabem as coisas que pensam que sabem?

Durante a Idade Média, esta questão reduziu-se a saber se a revelação divina suplantava a razão como fonte de conhecimento humano ou vice-versa.
Um homem tropeça num poço fundo e cai trinta metros antes de conseguir agarrar-se a uma raiz fina, que trava a queda.

O homem vai perdendo as forças e, desesperado, grita:
- Está alguém aí em cima?

Levanta a cabeça e só consegue ver um círculo de céu.
De súbito, as nuvens separam-se e um raio de luz forte brilha sobre ele. Uma voz forte diz:
- Eu, o Senhor, estou aqui. Solta a raiz e eu salvarte-ei.
O homem pensa durante um tempo e depois grita:
- Não há mais ninguém aí em cima?
Estar pendurado numa raiz tem tendência para fazer desequilibrar a balança para o lado da razão.
No século XVII, René Descartes optou pela razão realativamente a uma fonte divina de conhecimento. Isto ficou conhecido como pôr Descartes diante da fonte.
Provavelmente, Descartes gostariaa de nunca ter dito: "Cogito ergo sum" ("Penso, logo existo"), porque é a única coisa que as pessoas recordam sobre ele [...].
Descartes chegou ao cogito através de uma experiência de dúvida radical para descobrir se podia ter a certeza de alguma coisa; isto é, qualquer coisa que não pudesse pôr em causa. Começou por duvidar da existência do mundo exterior, o que foi relativamente fácil. Talvez estivesse a sonhar ou a alucinar. Em seguida tentou duvidar da sua própria existência. Mas, por muito que duvidasse, deparava-se constantemente com o facto de que havia um céptico. Tinha de ser ele! Não podia duvidar da sua própria dúvida. Poderia ter poupado a si mesmo uma grande quantidade de interpretação errada se tivesse dito:"Dubito ergo sum."
Todos os juízes criminais norte-americanos pedem ao júri para imitar o processo de Descartes de procurar a certeza testando a asserção da culpa do réu através de um padrão quase tão rigoroso como o de Descartes. Para o júri, a questão não é idêntica à de Descartes; o juiz não pergunta se a culpa do arguido está sujeita a alguma dúvida, apenas se está sujeita a uma dúvida razoável. Porém, até este padrão menos rigoroso exige que o júri leve a cabo uma experiência mental semelhante à de Descartes - e quase tão radical como ela.
Um arguido estava a ser julgado por homicídio. As provas da sua culpa eram fortes, mas não havia cadáver. Nas alegações finais, o advogado de defesa recorreu a um truque.
- Senhoras e senhores juradoss - disse ele. - Tenho uma surpresa para todos... dentro de um minuto, a pessoa que se presume morta entrará nesta sala de audiências.
Olhou para a porta da sala de audiências. Espantados, todos os jurados oharam avidamente. Passou um minuto. Nada aconteeceu. Por fim, o advogado disse:
- Na verdade inventei a história de o morto entrar aqui. No entanto, todos olharam para a porta, expectantes. Portanto, digo-vos que há dúvida razoável neste caso relativamente a alguém ter sido assassinado e insisto para que o vosso veredicto seja de "inocente".
O júri retirou-se para deliberar. Alguns minutos mais tarde, voltaram e pronunciaram um veredicto de "culpado".
- Como podem fazer uma coisa destas? - gritou o advogado. - Vocês devem ter tido alguma dúvida. Vi que todos olharam para a porta.
O representante do júri disse.
- Oh, nós olhámos, mas o seu cliente não.»
Thomas Cathcart e Daniel Klein, Platão e um Ornitorrinco Entram num Bar...