Uma confissão: neste momento, não consigo encontrar um caracterização genérica que possa definir minimamente o tipo de pessoas que domina o mundo da nossa política. Há excepções, naturalmente, mas o facto é que existe uma massa crescente de indivíduos e indivíduas que ocupa as cadeiras do poder, ou apenas se passeia pelos seus corredores, que, dificilmente, é caracterizável. Dificilmente, porque se vê de tudo e encontra-se de tudo. E nada do que se vê ou se encontra é recomendável. Nada recomendável.
Há, todavia, uma coisa comum a todos eles e elas: não deviam estar onde estão. Seja no Governo, seja no Parlamento, seja nos órgãos judiciais, seja nas empresas públicas a maioria deles e delas nunca deveria ter tido a possibilidade de se aproximar do poder e, muito menos, de exercê-lo.
A situação assemelha-se a uma praga: chegaram, instalaram-se, reproduziram-se e não saem, não despegam. É óbvio que, para muitos, o poder é uma atracção tão irresistível que deixá-lo é algo de impensável. Mas o poder não deve apenas atrair, deve também cegar. Só assim se compreende aquilo que muitos deles fazem e aquilo que muitos deles dizem: deixam de ver a realidade, passam a viver num mundo onírico e agem em conformidade.
Todos os dias vemos que é assim. Todos os dias ouvimos falar os mais altos responsáveis do país — responsáveis políticos, judiciais ou autoridades diversas — e temos um sobressalto que nos leva sempre a interrogar: como é que chegaram eles a estes cargos? Mas a resposta nunca aparece. Por exemplo, o primeiro-ministro e vários ministros, o procurador-geral da República, o presidente do Supremo Tribunal de Justiça, o presidente do Governo Regional da Madeira são figuras que têm tido comportamentos tais que, num país com índices de normalidade medianos, já não exerceriam os seus cargos, há muito tempo. Teriam sido demitidos por quem tivesse direito institucional de o fazer ou, democraticamente, pelo povo. No nosso caso, não acontece nem uma coisa nem outra. Porquê? Não se sabe. Portugal é um país de mistérios, este é mais um.
Isto passa-se ao nível do topo, mas quando nos damos ao trabalho de ir descendo pela pirâmide hierárquica os encontros que vamos tendo tornam-se assustadores. Tão assustadores que já não nos interrogamos sobre o modo como algumas das personagens desses encontros ascenderam a determinados cargos, passamos a interrogar-nos acerca da própria possibilidade dessas personagens existirem. Essa interrogação surge porque, de repente, damo-nos conta de como o caricatural , o cómico, o nonsense irrompe na vida pública portuguesa e tomamos consciência de que para além de estarmos metidos num barco cujo comandante e adjuntos são incompetentes também tomamos consciência da alucinação dos subalternos.
Entre muitos outros, dois casos recentes. Rui Pedro Soares, administrador da PT, em representação do Estado. Olhamos para ele, ouvimo-lo falar, reflectimos sobre o que ele diz, analisamos o que ele faz, e perguntamos: o homem é real?; existe mesmo?; não é um avatar?
Outro caso: Paula Barros, deputada da Nação, pelo PS, representante do Povo. Olhamos para ela, ouvimo-la falar, reflectimos sobre o que ela diz, analisamos o que ela faz, e perguntamos: a senhora é real?; existe mesmo?; não é uma personagem do Fellini?
Este País pode ser levado a sério? Não pode. Nós podemos ser levados a sério? Não podemos, porque, bem vistas as coisas, nós é que somos as verdadeiras, as genuínas, as reais Produções Fictícias.
Há, todavia, uma coisa comum a todos eles e elas: não deviam estar onde estão. Seja no Governo, seja no Parlamento, seja nos órgãos judiciais, seja nas empresas públicas a maioria deles e delas nunca deveria ter tido a possibilidade de se aproximar do poder e, muito menos, de exercê-lo.
A situação assemelha-se a uma praga: chegaram, instalaram-se, reproduziram-se e não saem, não despegam. É óbvio que, para muitos, o poder é uma atracção tão irresistível que deixá-lo é algo de impensável. Mas o poder não deve apenas atrair, deve também cegar. Só assim se compreende aquilo que muitos deles fazem e aquilo que muitos deles dizem: deixam de ver a realidade, passam a viver num mundo onírico e agem em conformidade.
Todos os dias vemos que é assim. Todos os dias ouvimos falar os mais altos responsáveis do país — responsáveis políticos, judiciais ou autoridades diversas — e temos um sobressalto que nos leva sempre a interrogar: como é que chegaram eles a estes cargos? Mas a resposta nunca aparece. Por exemplo, o primeiro-ministro e vários ministros, o procurador-geral da República, o presidente do Supremo Tribunal de Justiça, o presidente do Governo Regional da Madeira são figuras que têm tido comportamentos tais que, num país com índices de normalidade medianos, já não exerceriam os seus cargos, há muito tempo. Teriam sido demitidos por quem tivesse direito institucional de o fazer ou, democraticamente, pelo povo. No nosso caso, não acontece nem uma coisa nem outra. Porquê? Não se sabe. Portugal é um país de mistérios, este é mais um.
Isto passa-se ao nível do topo, mas quando nos damos ao trabalho de ir descendo pela pirâmide hierárquica os encontros que vamos tendo tornam-se assustadores. Tão assustadores que já não nos interrogamos sobre o modo como algumas das personagens desses encontros ascenderam a determinados cargos, passamos a interrogar-nos acerca da própria possibilidade dessas personagens existirem. Essa interrogação surge porque, de repente, damo-nos conta de como o caricatural , o cómico, o nonsense irrompe na vida pública portuguesa e tomamos consciência de que para além de estarmos metidos num barco cujo comandante e adjuntos são incompetentes também tomamos consciência da alucinação dos subalternos.
Entre muitos outros, dois casos recentes. Rui Pedro Soares, administrador da PT, em representação do Estado. Olhamos para ele, ouvimo-lo falar, reflectimos sobre o que ele diz, analisamos o que ele faz, e perguntamos: o homem é real?; existe mesmo?; não é um avatar?
Outro caso: Paula Barros, deputada da Nação, pelo PS, representante do Povo. Olhamos para ela, ouvimo-la falar, reflectimos sobre o que ela diz, analisamos o que ela faz, e perguntamos: a senhora é real?; existe mesmo?; não é uma personagem do Fellini?
Este País pode ser levado a sério? Não pode. Nós podemos ser levados a sério? Não podemos, porque, bem vistas as coisas, nós é que somos as verdadeiras, as genuínas, as reais Produções Fictícias.