sábado, 3 de abril de 2010

Ao sábado: momento quase filosófico

«Segundo certa lenda, uma noite Sócrates viu em sonhos uma cria de cisne que tentava voar, emitindo um formoso canto. Na manhã seguinte, quando lhe apresentaram Platão, Sócrates disse: "Aqui está o cisne do meu sonho." E não era mentira, pois Platão [...] foi o mais importante dos discípulos de Sócrates.
A sua contribuição para a filosofia foi a tal ponto transcendente que marcou o rumo de muitas das posteriores controvérsias filosóficas. Especialmente polémica é a sua teoria das Ideias. Segundo esta, as Ideias são entidades existentes fora da nossa mente, que não podemos captar através dos nossos sentidos. Se apenas existisse a realidade que nos apresentam os sentidos, nada haveria de permanente, pois a realidade sensível está em permanente mudança e, portanto, o nosso conhecimento também não seria fiável, pois seria um conhecimento instável. Por isso, Platão postulava a existência das Ideias como entidades imateriais e eternas. E o seu conhecimento como o único conhecimento rigoroso.
Diógenes de Sinope (que foi considerado o filósofo cínico por excelência) gozava com isto, dizendo que só via mesas e taças, mas não Ideias de mesas e taças, ao que Platão replicava:
— Não é de estranhar, Diógenes, pois a tua mente é demasiado tosca para ver outra coisa.
Por outro lado, segundo a teoria de Platão, as coisas que percebemos mediante os sentidos são cópias, imitações que participam de algum modo das Ideias, mas que nunca se deverão confundir com elas [porque as verdadeiras realidades são as Ideias e não as coisas que apenas participam delas]. Assim, um corpo formoso participa da Ideia de Beleza, mas não é a Ideia de Beleza, a fogueira participa da Ideia de Fogo, mas não é a Ideia de Fogo, etc. Diógenes, que se ria disto, pôs-se uma vez a comer figos secos diante dele e disse-lhe:
— Platão, podes participar deles.
Platão pegou nalguns figos e começou a comê-los, mas Diógenes riu-se dele, dizendo-lhe:
— Disse-te que participasses, Platão, não que os comesses.»
Pedro González Calero, A Filosofia com Humor.