«À medida que se agitavam as bandeiras para sair da crise herdada do anterior governo de direita, a que era preciso fazer face, os negócios do Estado começaram a multiplicar-se. Cada vez maiores e sempre envoltos em polémica. [...]
Curiosamente, ou não, a mudança de mãos do grupo "Lusomundo" foi uma espécie de tiro de partida para gigantescas operações financeiras em que o Estado, directa ou indirectamente, teve uma posição determinante. Começara o campeonato dos grandes negócios, contribuindo para o clima que se viria a tornar cada vez mais irrespirável.
Joaquim Oliveira recebeu a luz verde necessária do governo de maioria socialista para comprar o grupo à Portugal Telecom (PT) por pouco mais de 300 milhões de euros, em Julho de 2005. A transacção foi tão estranha como a anterior venda do mesmo grupo à empresa de telecomunicações, em Novembro de 2000.
A "Controlinvest" era uma espécie de pigmeu em comparação com a "Lusomundo", mas o tempo corria de feição para este tipo de 'digestão' milagrosa, marcadamente política, tanto mais que Joaquim Oliveira também contava com aliados bem colocados, bem próximos do primeiro-ministro. E até com a ajuda da banca, pelo menos daquela que tinha eleito o futebol como negócio estratégico.
Mais uma vez, um empresário surgido do nada conseguiu chegar ao topo com negócios em que o Estado tinha uma palavra a dizer. Foi assim com a "Sport TV", com as transmissões de futebol de que a "RTP" abriu mão, e também foi assim com a compra de um dos três maiores grupos de comunicação social, detentor dos matutinos "Jornal de Notícias" e "Diário de Notícias", a rádio "TSF", a revista "Grande Reportagem", entre outros.
Outro negócio viria a ser rapidamente concluído na área da comunicação social. A espanhola "Prisa", um grupo com dimensão mundial, próxima dos socialistas espanhóis do PSOE, comprou a estação de televisão "TVI". De uma penada, a revolução na informação começou a fazer-se sentir, tal e qual como a crescente, e muitas vezes insuportável, influência e presença política do seu novel responsável governamental — Santos Silva.
A atenção ao fenómeno da informação não ficou por aqui. Ainda o governo não tinha completado um ano de existência e já os mais destacados elementos da entusiasta corte da nova esquerda clamavam aos sete ventos a existência de espaço para uma nova televisão.
O feu rouge que obrigou a abrandar os elogios ditirâambicos, ocorreu a 21 de Julho de 2005, quaro meses após a tomada de posse. O mais espantosos é que não surgiu do lado certo da barricada, mas de dentro do próprio governo. O ministro de Estado e das Finanças, Luís Campos e Cunha, um dos grandes trunfos do governo, bateu com a porta. Foi a surpresa total. […..] Não foi o fim do estado de graça, mas foi suficientemente grave para fazer pensar no que tinha dado origem à crise. Afinal, o reputado professor da "Universidade Católica" tinha manifestado reservas em relação aos grandes investimentos, como o TGV e o novo aeroporto da Ota. Ou seja, tinha tido o atrevimento de entrar num terreno que mais parece um triângulo perfeito — obras públicas —que é muito caro a José Sócrates. [...]
À medida que a polémica das grandes obras se começava a acentuar, lembro-me de ter comparado José Sócrates a um pedinte que deseja ser transportado num Roll Royce. [...] O que é preciso é ter a ideia, alimentar o sonho, colocar as pessoas no sítio certo e depois logo se vê. Quem vier a seguir que feche a porta.»
Curiosamente, ou não, a mudança de mãos do grupo "Lusomundo" foi uma espécie de tiro de partida para gigantescas operações financeiras em que o Estado, directa ou indirectamente, teve uma posição determinante. Começara o campeonato dos grandes negócios, contribuindo para o clima que se viria a tornar cada vez mais irrespirável.
Joaquim Oliveira recebeu a luz verde necessária do governo de maioria socialista para comprar o grupo à Portugal Telecom (PT) por pouco mais de 300 milhões de euros, em Julho de 2005. A transacção foi tão estranha como a anterior venda do mesmo grupo à empresa de telecomunicações, em Novembro de 2000.
A "Controlinvest" era uma espécie de pigmeu em comparação com a "Lusomundo", mas o tempo corria de feição para este tipo de 'digestão' milagrosa, marcadamente política, tanto mais que Joaquim Oliveira também contava com aliados bem colocados, bem próximos do primeiro-ministro. E até com a ajuda da banca, pelo menos daquela que tinha eleito o futebol como negócio estratégico.
Mais uma vez, um empresário surgido do nada conseguiu chegar ao topo com negócios em que o Estado tinha uma palavra a dizer. Foi assim com a "Sport TV", com as transmissões de futebol de que a "RTP" abriu mão, e também foi assim com a compra de um dos três maiores grupos de comunicação social, detentor dos matutinos "Jornal de Notícias" e "Diário de Notícias", a rádio "TSF", a revista "Grande Reportagem", entre outros.
Outro negócio viria a ser rapidamente concluído na área da comunicação social. A espanhola "Prisa", um grupo com dimensão mundial, próxima dos socialistas espanhóis do PSOE, comprou a estação de televisão "TVI". De uma penada, a revolução na informação começou a fazer-se sentir, tal e qual como a crescente, e muitas vezes insuportável, influência e presença política do seu novel responsável governamental — Santos Silva.
A atenção ao fenómeno da informação não ficou por aqui. Ainda o governo não tinha completado um ano de existência e já os mais destacados elementos da entusiasta corte da nova esquerda clamavam aos sete ventos a existência de espaço para uma nova televisão.
O feu rouge que obrigou a abrandar os elogios ditirâambicos, ocorreu a 21 de Julho de 2005, quaro meses após a tomada de posse. O mais espantosos é que não surgiu do lado certo da barricada, mas de dentro do próprio governo. O ministro de Estado e das Finanças, Luís Campos e Cunha, um dos grandes trunfos do governo, bateu com a porta. Foi a surpresa total. […..] Não foi o fim do estado de graça, mas foi suficientemente grave para fazer pensar no que tinha dado origem à crise. Afinal, o reputado professor da "Universidade Católica" tinha manifestado reservas em relação aos grandes investimentos, como o TGV e o novo aeroporto da Ota. Ou seja, tinha tido o atrevimento de entrar num terreno que mais parece um triângulo perfeito — obras públicas —que é muito caro a José Sócrates. [...]
À medida que a polémica das grandes obras se começava a acentuar, lembro-me de ter comparado José Sócrates a um pedinte que deseja ser transportado num Roll Royce. [...] O que é preciso é ter a ideia, alimentar o sonho, colocar as pessoas no sítio certo e depois logo se vê. Quem vier a seguir que feche a porta.»
Rui Costa Pinto, José Sócrates - o Homem e o Líder, Exclusivo Edições, pp. 118-120.