A palavra não tem olhos mas pálpebras de neblina
às vezes transparente Por isso ela caminha lentamente
como uma sombra em corredores de sombra
e treme como se fosse cair ou perder o seu hálito
Ela quer ler a sua própria chama
que às vezes não é mais do que um archote de cal
Nunca sabe o dia da semana porque o seu calendário é o vento
e arde sob a chuva da sombra como uma lâmpada trémula
Mas o seu rosto não se vê em nenhum espelho
e embate na porta atrás da qual se ouvem ecos
que não são de ninguém ou já foram e talvez sejam de retratos
e procura levantar a parede que falta sempre num dos seus lados
António Ramos Rosa