«A vida intelectual deixou de ser sinónimo de emancipação do homem e de nobreza de espírito: recentemente é associada a uma "complicação", qualificar uma pessoa de "intelectual" tem qualquer coisa de pejorativo. As vendas de livros de ciências humanas não param de baixar com uma média de algumas centenas por título: isto foi dividido por dois ou três em trinta anos. Já não há mestres do pensamento, já não há grandes correntes filosóficas de valor iniciático. As grandes visões do espírito perderam o seu valor de fascinação, o seu poder de atracção libertadora. É evidente que a aura da alta cultura se degradou, a magia que a habitava desapareceu, deixa de ter cada vez menos capacidade de fazer sonhar, de provocar grandes paixões e fortes entusiasmos. A época hipermoderna é a da regressão ou da perda da posição proeminente que ocupava a alta cultura: o "valor espírito" foi substituído pela diversão, pelo desporto, pelo entretenimento dos media e das viagens, pela velocidade da informação.»
Gilles Lipovetsky
Gilles Lipovetsky, Hervé Juvin, O Ocidente Mundializado, Edições 70.