Amanhã farei greve. Dito isto, acrescento o seguinte.
Há dias, no Fórum da TSF, ouvi Carvalho da Silva explicar por que razão devemos fazer greve. Se eu tivesse dúvidas sobre a minha adesão à greve geral, depois de ouvir o secretário-geral da CGTP, tê-las-ia dissipado e teria decido não aderir. A única razão por ele aduzida para justificar a greve geral foi: «É preciso manifestar o nosso repúdio pela política que está a ser seguida pelo actual governo». Durante quase duas horas de participação no programa, em que respondeu a perguntas do jornalista de serviço e dos ouvintes, Carvalho da Silva não acrescentou mais nada. Isto é, para Carvalho da Silva a greve só tem mesmo uma serventia: evidenciar desagrado, mostrar discordância em relação à política do governo. Carvalho da Silva não disse uma palavra sobre o futuro, sobre as perspectivas e as expectativas que tinha sobre a continuação e o aprofundamento da luta contra as medidas governamentais. Não o disse desta vez como nunca o disse em vezes anteriores. E como não o voltará a dizer no dia seguinte à greve geral. Ouviremos o que sempre ouvimos nestas ocasiões, nem mais nem menos. Apesar de vivermos um momento gravíssimo, sem paralelo nas últimas décadas, a resposta sindical é a mesma e o desenlace da luta sindical será o mesmo.
Provavelmente, seria aconselhável que os dirigentes da CGTP e do PCP se interrogassem e se inquietassem com os recorrentes elogios que, de modo unânime, os banqueiros, a CIP, o CDS, o PSD, o PS e a generalidade dos comentadores de direita lhes dirigem, a propósito da absoluta garantia de que, com a Intersindical e com o Partido Comunista, tudo está sob controlo e nada de imprevisto acontecerá que ponha em perigo o statu quo. Na semana passada, o presidente da CIP afirmou, sem rodeios, que a realização da greve geral até poderia ser benéfica, porque ela teria um efeito de escape que aliviaria as tensões, e, no dia seguinte, o clima social estaria melhor para todos (cf. entrevista ao jornalista José Gomes Ferreira, SIC Notícias, programa «Negócios da Semana», 16/11/11).
Na verdade, o absoluto legalismo, a doentia obsessão pelo «bom comportamento» e o muito delimitado campo em que o PCP e a CGTP concebem o desenrolar dos conflitos sociais constituem, para o poder dominante, uma garantia de que nada de verdadeiramente importante é posto em causa. O PCP e a CGTP idealizam rupturas e mudanças de poder sem que um «prato se parta». O ininterrupto ciclo de «negociação-manifestação-greves de limitada duração-negociação-manifestação-greves de...» esgota os seus instrumentos reivindicativos e de contestação. É por isso que, para Carvalho da Silva, nunca há o dia seguinte à greve. Para ele, a greve refere-se ao pretérito, não ao futuro.
Felizmente, os movimentos sociais não são sempre encarceráveis nos espartilhos conceptuais de ninguém. Porque tenho esta convicção, farei greve amanhã, a pensar no dia seguinte.