Depois de, há dias, ter afirmado que o Governo estava a avaliar a proposta do PS (pagamento, em 2012, de pelo menos um dos subsídios aos funcionários públicos e aos pensionistas), Miguel Relvas veio ontem afirmar, de modo peremptório e arrogante, que essa hipótese era evidentemente impossível de se concretizar. Acrescentou, em tom acusatório, que o PS tinha obrigação de saber dessa impossibilidade, porque tinha assinado o memorando com a troika, em que se exigia que, no próximo ano, o ajustamento fosse feito em dois terços pelo lado da despesa e em um terço pelo lado da receita. E é este o requisito do memorando que, segundo Relvas, obriga à supressão dos dois subsídios.
Faço o esforço de ignorar o ar e o tom das declarações deste ministro, mas não posso ignorar a desonestidade política que ele protagoniza e o modo escurril como argumenta. Se a justificação da alegada inevitabilidade de supressão dos dois subsídios reside na cláusula do memorando que obriga ao corte de dois terços na despesa, é necessário então lembrar a este governante que o PSD e, em particular, o seu líder andaram a mentir deliberadamente aos portugueses antes e durante a última campanha eleitoral. Mentiram e enganaram os eleitores — e sabiam que o estavam a fazer — quando lhes disseram, quando lhes prometeram que não cortariam os subsídios. Se, na realidade, é a referida cláusula do memorando que obriga a esses cortes, Passos Coelho e todo o PSD sabiam que teriam de fazer esses cortes, quando prometeram que não os fariam, porque, nessa altura, também eles já tinham assinado esse mesmo memorando. Na verdade, o memorando não foi assinado apenas pelo PS, foi assinado também pelo PSD e pelo CDS. Todos eles são igualmente responsáveis pelo seu conteúdo e todos eles são e eram conhecedores desse conteúdo aquando da campanha eleitoral.
De forma atabalhoada, como é sua característica, Relvas confessou que o PSD mentiu aos portugueses. E confessou que essa mentira foi deliberada.