A Visão do Túnel
«A loucura [do fenómeno da experiência de quase-morte, isto é,] da EQM surgiu com a publicação, em 1975, de Vida depois da Vida: investigação de um fenómeno — a sobrevivência à morte física, de Raymond Moody. Centenas de pessoas que não se conheciam umas às outras e que foram entrevistadas por Moody contaram todas, ou pelo menos algumas, das experiências [de quase-morte por que passaram]. O livro foi um sucesso de vendas. Fez -se um filme baseado nele. Foram relatadas cada vez mais EQM e, com o advento da Net, as pessoas que viveram este tipo de episódios entraram em contacto umas com as outras para comparar experiências.
As EQM pareciam provar não só que afinal de contas existe uma vida depois da morte mas também que todo o pacote da religião se baseia em experiência genuínas. O que tínhamos aqui era nada menos do que a prova empírica do Céu, Inferno, Deus, Satanás, telepatia e cães-anjo.
Mas, quem diria, precisamente quando as pessoas que viveram esta experiência pensavam que tinham o assunto encerrado, vieram uns tipos da ciência e da filosofia desempenhar o seu papel de sempre, o de desmancha-prazeres. Esses cépticos começam normalmente por admitir que não podem contestar a existência de uma vida depois da morte, nem sequer de uma amostra dela durante a "morte clínica", mas por outro lado as evidências apresentadas — relatos subjectivos de experiência de QM — também não provam a existência de uma vida depois da morte. Relativamente a quaisquer experiências paranormais — por exemplo, ver bules voadores a circular à volta da cabeça da sua mulher —, não há um teste objectivo para validar a experiência da pessoa. A questão principal relativamente à EQM é se a experiência tem alguma relação com a nossa realidade empírica "regular" (o "mundo real") [...].
Choques repentinos nas sinapses são a explicação alternativa dos cépticos para as experiências de quase-morte — são uma forma invulgar de actividade cerebral, provavelmente accionadas pelo trauma de esticar o pernil. O neurocirurgião Philip Carter diz: "O cérebro é o computador supremo. Quando se desliga e reinicia, volta com muita actividade que pode provocar mudanças." Ele sugere que quer a experiência quer a memória da EQM são o resultado de um cérebro alterado pelo episódio, tal como os epilépticos que relatam memórias de experiências transcendentais durante ataques tiveram episódios cerebrais invulgares que podem ser registados num EEG.
O monitor confirmou paragem cardíaca quando um velhote perdeu repentinamente a consciência. Passados cerca de 20 segundos de reanimação, ele voltou a si. O médico explicou-lhe que o seu coração tinha parado momentaneamente e perguntou-lhe se se recordava de alguma coisa invulgar durante esse tempo.
— Vi uma luz brilhante — disse ele — e à minha frente estava um homem vestido de branco.
Entusiasmado, o médico perguntou se ele conseguia descrever a figura.
— Claro, doutor — respondeu ele. — Era o senhor.»
Thomas Cathcart, Daniel Klein, Heidegger e um Hipopótamo Chegam às Portas do Paraíso, pp.169-170.