Olhamos para o ano que agora termina e vemos que foi um mau ano. Olhamos para o ano que amanhã se inicia e temos a perspectiva de que ainda será pior. Depois, perguntamos: porquê? A resposta está, certamente, no facto de todos nós (uns mais do que outros — é verdade...) permitirmos que assim seja.
Somos nós que permitimos que se continue a viver social e economicamente de um modo profundamente errado. Somos nós que permitimos que a desregulação, a falcatrua, a burla, a fraude sejam a lei. Somos nós que permitimos que os valores da Liberdade, da Solidariedade pessoal e social, da Responsabilidade pessoal e social, da Igualdade de oportunidades, do Trabalho, da Qualidade de Vida sejam destruídos e substituídos pela obscena procura desenfreada do lucro e pelo total desrespeito pelo Outro. Somos nós que permitimos que se viva no faz-de-conta de que sou justo, no faz-de-conta de que avalio, no faz-de-conta de que sei o que faço, no faz-de-conta de que sou corajoso, no faz-de-conta de...
Somos nós que permitimos. Não há determinação extra-humana que constranja a que assim seja, não há nada que obrigue a que assim seja. Por inércia, por comodismo, por conformismo, por medo, ou por qualquer outra menos digna razão permitimos que continue a ser assim. No fundo, no fundo, temos aquilo que, colectivamente, merecemos, porque, colectivamente, o permitimos.
Os europeus, em geral, os portugueses, em particular, cada um de nós, no próximo ano, será confrontado de modo muito directo com as suas responsabilidades políticas, cívicas e profissionais.
2011 será melhor ou pior consoante o que individual e colectivamente quisermos que seja. Se optarmos pelo conformismo e pela resignação, será um péssimo ano. Se optarmos por assumir a indignação e agir em conformidade com essa indignação, 2011 será, certamente, um bom ano.
Desejo, por isso, aos leitores deste blogue, em particular, e a todos, em geral, um bom ano 2011.