quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Às quartas

TRISTITIA ANTE

Sobre o urzeiral nevado:
a granja e a pilha de lenha negras
e o abeto escuro, possante, água-forte
sob uma estrela, soprada e impassível.

No charco de aço do luar
bizarras me parecem as plantas,
o machado rombo e o pote quebrado
pelo gelo lúcido-transparente.

De repente o frio morde até aos ossos
e a minha solidão busca o tiro
que estica o horizonte até à eternidade
na minha desafortunada vadiagem

Até que me interno na mata
e encontro a lebre torturada,
inanimada e rígida
no seu sangue sobre a neve.

Só um branco intenso trago
em mim, dessa luz estou prisioneiro;
e nada é tão apertado e tão justo
como o próprio corpo.

Maurice Gilliams
(Trad.: Fernando Venâncio)