segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Registos e notas do fim-de-semana (alargado)

Só um por cento das ajudas foi para o emprego
 — Dois terços das ajudas contra a crise foram absorvidas,
em 2009, pelos bancos —

2009: Défice saltou de 2,9 para 9,3% do PIB, mas dessa escalada só 22,4% se devem às ajudas de combate à crise
Público (22/12/10)

Ministros faltam cada vez mais em Bruxelas

BPN gastou 14 milhões com consultores desde que foi nacionalizado
Expresso (23/12/10)

Presidente dos CTT recebia dois ordenados (15 mil + 23 mil euros)
Sol (23/12/10)

Ministério da Justiça usou indevidamente 326 milhões depositados nos tribunais
Público (24/12/10)

Há pessoas que erram desastradamente na escolha da profissão. Sócrates foi/é um deles. Sócrates seria, é sem ironia que o digo, um excelente ilusionista ou um excelente vendedor, fosse qual fosse a qualidade do produto que tivesse em mãos para despachar. Mas ao contrário do que sucede na generalidade das situações, em que são os próprios, e não os outros, os primeiros prejudicados pelo erro na escolha da profissão, o que se passa no caso de Sócrates é o inverso: o erro foi dele, mas quem sofre as consequências são os outros, ou, melhor, somos nós. 
Como acontece com qualquer mau produto, passado algum tempo, a prova da sua má qualidade revela-se inexoravelmente, e quem adquiriu o produto é quem sofre. É o que nos está a acontecer. É no momento em que o produto revela a sua medíocre qualidade que se fica a saber que aquilo que o vendedor afirmou, tão convicta e peremptoriamente, acerca do produto, era uma xixilada mentira.
Foi o que aconteceu, mais uma vez, esta semana: ficamos a saber que, afinal, e ao contrário do que o tal vendedor propalava, só um por cento das ajudas foi para o emprego e que foram os bancos os principais beneficiários das tais ajudas de combate à crise. Como ficámos a saber também que a brutal subida do défice para 9,3% só é justificável em 22,4% pelos gastos com a crise. Os outros 77,6% foram parar onde?

Ouve-se dizer com frequência que o Natal deveria ser todos os dias. O nosso Governo concretizou este desejo antigo e decidiu, desde que nacionalizou as fraudes e as dívidas do BPN, distribuir «nataliciamente» 14 milhões de euros, só para consultores. 
Também quem sabe o que é ter um Natal todos os dias é o anterior presidente dos CTT, que recebia alegre e «nataliciamente» dois vencimentos (dos Correios e da PT, onde já não exercia qualquer cargo) no valor total de quase 38 mil euros mensais.
«Natalícia» e alegremente também, o Ministério da Justiça decidiu meter a mão no saco do Pai Natal (isto é, no dinheiro depositado nos tribunais para fins específicos) e não esteve com inibições em gastá-lo, pois o Natal é sempre que o homem quiser.

Uma nota final: se os nossos ministros faltam cada vez mais às reuniões em Bruxelas e se nós já quase não os vemos por cá, por onde é que eles andam?