Confesso que só ontem li a entrevista que o Expresso fez ao presidente do Conselho de Escolas (CE). Não sei se por saturação de más notícias sobre Educação (ou de menos más e logo tidas como superlativas, fantásticas e excelentes, como é o caso dos comentários sobre os últimos resultados do PISA), ou se por ter achado que uma fotografia tão grande para tão pouco texto seria sinal de que a jornalista que fez a entrevista não tinha conseguido aproveitar grande coisa das palavras do presidente do CE, o facto é que ainda não tinha lido.
Agora que li, acho que consigo compreender as dificuldades que a jornalista deve ter sentido para conseguir preencher uma página de entrevista. Ela deve ter pensado o mesmo que eu pensei quando cheguei ao fim da leitura: mas onde está a diferença entre ter entrevistado este homem ou ter entrevistado o sr. Joaquim, da mercearia do bairro, cujo contacto com a escola ficou limitado aos primeiros quatros anos do ensino básico?
Presumo que o argumento que a jornalista encontrou para justificar perante o seu director a publicação da entrevista terá sido isso mesmo: considerar como verdadeiro motivo de notícia o facto de presidente do CE falar sobre a Educação e sobre a Escola como falaria o sr. Joaquim, que já há mais de meio século não pisa solo escolar. Deste ponto de vista, percebo e corroboro a decisão de publicarem aquelas (poucas) linhas e aquela (enorme) fotografia.
Não tenho dúvidas de que o presidente do CE conseguiu responder de modo muito semelhante àquele que responderia o sr. Joaquim, se, por exemplo, fosse questionado acerca da competência de quem faz a avaliação dos professores. Isto é, o sr. Joaquim, se não tivesse o bom senso de ficar calado, só poderia, como é natural, dizer dislates e asnices. Ora, foi exactamente isso o que o presidente do CE fez: respondeu dislates e asnices inimagináveis. Disse o sr. presidente: «As pessoas que avaliam são praticamente as mesmas que foram eleitas pelos professores para desempenhar as funções de coordenadores de disciplina. Sendo assim, não lhes reconhecem competência para avaliar?»
O que me causa mesmo perplexidade é a capacidade de se dizer tanta sandice em tão poucas palavras. Sem ironia, julgo que este caso deveria ser objecto de um estudo qualquer. Não é normal isto acontecer.
Vejamos, os factos são estes:
1. Há escolas em que os professores coordenadores de disciplina foram eleitos e outras em que não foram eleitos, foram nomeados;
2. Na maioria das escolas os professores avaliadores são em muito maior número que os professores coordenadores de disciplina. Em muitas escolas, em particular, escolas secundárias, existem cerca de treze ou catorze coordenadores de disciplina e o número de professores avaliadores oscila entre os vinte e cinco e os trinta e cinco.
3. Há casos de professores coordenadores de disciplina que não são avaliadores;
4. Os professores coordenadores de disciplina que foram eleitos foram-no para coordenar o trabalho do seu grupo disciplinar, não foram eleitos para avaliar os colegas;
5. O exercício das funções de coordenador de disciplina não tem nada que ver com o exercício das funções de avaliador;
6. A capacitação para avaliar não se adquire por eleição, adquire-se por formação. Formação de média e longa duração, ministrada por instituições do ensino superior, conforme o assinalou o Conselho Científico para a Avaliação dos Professores.
7. Até hoje, esta formação foi igual a zero. Mais de 90% dos avaliadores não tem qualquer formação deste nível nem de qualquer outro minimamente credível.
Um homem que, em duas frases, diz sete asneiras merece ser estudado.
O resto da (curta) entrevista, com uma (grande) fotografia, é do mesmo nível.
Quando voltar à mercearia, vou perguntar ao sr. Joaquim se não quer pensar na hipótese de se candidatar, na próxima eleição, a presidente do Conselho de Escolas.
Se for eleito, é seguro que não fará pior figura do que o seu antecessor e, sendo eleito, segundo o critério do actual detentor do cargo, fica logo capacitado para a função...
Se for eleito, é seguro que não fará pior figura do que o seu antecessor e, sendo eleito, segundo o critério do actual detentor do cargo, fica logo capacitado para a função...