quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Às quartas

ODE BÁQUICA

Tua dor eu adivinho
Alguém te foi maldizer?
Esquece, amigo, o desalinho,
A taça - enche-a de vinho
             E a beber!

O vinho é no rir fecundo,
E faz esquecer a dor
Julgas que ao criar o mundo
Estava desperto, no fundo,
             O Senhor?

Em divina borracheira
Quando o mundo concebeu,
«Fiat lux!» de boca cheia
Disse, e logo a candeia
              Acendeu...

Daí tem o vinho amena
Dádiva celestial
De pôr a vista serena
E aliviar na alma a pena
              Mais brutal!

Da Escritura bem percebe
Até o último cristão
Que na Páscoa só se bebe
Vinho quando se recebe
              Comunhão!

Não foi por divina ideia
- Fariseus, calem de vez! -
Que da água o rei da Judeia,
Cristo, em Caná Galileia
              Vinho fez?

Mesmo o poeta decente
Bêbedo, não escreve bem?
Em luz real, cruamente
Como em sonhos, de repente
               Tudo vem...

Sarmento de vide enquanto
Pelo esteio for trepar,
Meus irmãos, copos ao alto!...
Venham diabos dar assalto
                Por milhar!

Stefan Octavian Iosif
(Trad.: Doina Zugravescu)