ODE BÁQUICA
Tua dor eu adivinho
Alguém te foi maldizer?
Esquece, amigo, o desalinho,
A taça - enche-a de vinho
E a beber!
O vinho é no rir fecundo,
E faz esquecer a dor
Julgas que ao criar o mundo
Estava desperto, no fundo,
O Senhor?
Em divina borracheira
Quando o mundo concebeu,
«Fiat lux!» de boca cheia
Disse, e logo a candeia
Acendeu...
Daí tem o vinho amena
Dádiva celestial
De pôr a vista serena
E aliviar na alma a pena
Mais brutal!
Da Escritura bem percebe
Até o último cristão
Que na Páscoa só se bebe
Vinho quando se recebe
Comunhão!
Não foi por divina ideia
- Fariseus, calem de vez! -
Que da água o rei da Judeia,
Cristo, em Caná Galileia
Vinho fez?
Mesmo o poeta decente
Bêbedo, não escreve bem?
Em luz real, cruamente
Como em sonhos, de repente
Tudo vem...
Sarmento de vide enquanto
Pelo esteio for trepar,
Meus irmãos, copos ao alto!...
Venham diabos dar assalto
Por milhar!
Stefan Octavian Iosif
(Trad.: Doina Zugravescu)