segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Registos e notas do fim-de-semana

Austeridade?
1 km de estrada em Braga vai custar 8 milhões; RAVE não tem ordem para parar TGV; Açores fogem a cortar 5% aos funcionários

PT e Rui Pedro Soares: em 2002, recebia 20 mil euros; em 2007 passou para 1 milhão de euros; em 2009 para 1 milhão e meio de euros

Socialistas em clima de guerra interna

Maiores hospitais do SNS têm tratamento especial no plano de cortes das empresas públicas

Viagens de Natal e fim de ano não descem apesar da crise
Sol (3/12/10)

Bancada do PS fractura-se com dividendos
Público (3/12/10)

 Sócrates travou tributação de dividendos

Médicos pedem licenças para ganhar o triplo dentro do SNS
Expresso (4/12/10)

Somos, em muitos aspectos, um país sui generis e seria estranho que naquilo que respeita à anunciada austeridade não o fossemos também. Pelo  meio da balbúrdia instalada, o mais interessante é observar que aqueles que mais reclamaram pelos apertos e, em particular, pelos cortes nos vencimentos sejam aqueles que ou não são abrangidos pelos mesmos ou, se o são, exigem ser tratados de modo especial, de modo excepcional, porque há sempre uma razão, um motivo, uma justificação que os deve isentar da regra. E o nosso forte, audaz e corajoso primeiro-ministro, torna-se, repentinamente, débil, medroso, fugidio e surpreendentemente tolerante, compreensivo e amigo das excepções.
Todavia, foi com orgulho que ouvi este mesmo primeiro-ministro dar um grandessíssimo açoite aos controladores aéreos espanhóis. Foi vê-lo indignado, talvez mesmo um tudo nada exaltado. Foi uma repremenda e pêras! É motivo de vaidade ter um primeiro-ministro assim: corajoso, audaz, forte. Com uns controladores aéreos estrangeiros. Mas não só. Recordo-me bem como este nosso primeiro-ministro foi assim forte, corajoso e audaz com os camionistas portugueses, há uns três anos. E, recentemente, com os mercados, e com a chanceler alemã Angela Merkel, e agora com  o Carlos César, presidente do Governo Regional dos Açores, e com outros que hão-de vir...

Ainda dentro deste lado sui generis que nos caracteriza, foi sem admiração que pudemos observar o que se passou, esta semana, no Parlamento, relativamente à questão de taxar a distribuição antecipada de dividendos. Depois de o nosso primeiro-ministro ter assegurado em entrevista à TVI, há cerca de um mês, que estava absolutamente seguro de que a PT não anteciparia a distribuição de dividendos e de que nem seria necessário tomar qualquer medida nesse sentido; e depois do ministro das Finanças desafiar publicamente os deputados do PS para legislarem de modo a impedir essa antecipação; depois desta enorme encenação discursiva, os deputados do Partido Socialista não só não apresentaram nenhuma proposta como fizeram reprovar a proposta de quem a apresentou. Tudo isto por ordem do mesmo primeiro-ministro que pregou os açoites aos controladores aéreos espanhóis.


Li no Expresso desta semana um artigo, assinado pelo seu director, em que,  taxativamente, se afirma: «Subordinar a economia a decisões políticas é um erro. É, aliás, comum a todas as doutrinas totalitárias de direita e de esquerda.» 
Sem ironia, teria muito interesse em saber como é que não se subordina a economia à política. Como é que se sustenta a possibilidade de existirem escolhas económicas sem estarem vinculadas a escolhas políticas. Mas, lamentavelmente, o autor não justificou o que disse. E acabou a concluir que estamos a viver um momento em que a política se deve impor à economia.
Pensamentos assim são sempre deliciosos.