segunda-feira, 26 de julho de 2010

Partir de férias

Partimos para férias cansados e indignados por continuarmos a suportar uma política educativa que, paulatinamente, vai destruindo quase tudo em que toca. Seja no domínio dos alunos, seja no domínio dos professores, seja no domínio da gestão, seja no domínio da avaliação do desempenho, seja no domínio do Estatuto da Carreira Docente, seja no domínio dos concursos, seja em que domínio for, os governos de Sócrates acumulam, sem cessar, dislates atrás de dislates. Há cinco anos que vivemos assim. Vivemos no reino da incompetência generalizada, da afronta, do faz-de-conta, da superficialidade, do aventureirismo, da estatística, do facilitismo, do ziguezague e de uma inimaginável irresponsabilidade política.

Estamos cansados da estupidez de tudo isto. De uma estupidez que continuamente se renova, infiltra, alastra, corrói. Da estupidez que pretendia fechar escolas a partir do misticismo de um número, no caso, 21, que se supõe prenhe de significado pedagógico... Cansados da estupidez dos mega-agrupamentos, cujo o único objectivo é o de amontoar alunos, professores e funcionários. Da estupidez da avaliação sem formação. Da estupidez de avaliar a excelência de um professor através da observação de duas aulas. Da estupidez das quotas. Da estupidez de se pretender não pagar o trabalho suplementar — como é o caso de quem vai exercer a função de avaliador. Da estupidez de... e de... e de uma lista sem fim.

Também estamos cansados e fartos de quase todos os directores que, depois de terem visto os seus interesses atingidos pela criação dos mega-agrupamentos, já se indignam, já se movimentam, até já protestam. Até já são capazes de afirmar que esta medida não tem sustentação pedagógica, mas apenas economicista. Estamos cansados desta hipocrisia. Estamos cansados desta falsidade profissional de gente que, até ao momento, sempre apoiou, sem pudor, todas as barbaridades da política educativa de Sócrates, mas que agora grita «Aqui D'El Rei!».
As mudanças radicais que uma ameaça aos quintalinhos de poder pode operar...!


Finalmente, estamos cansados dos dirigentes sindicais. Da teatralidade sindical. Estamos cansados de gente que a nível do discurso opera sistematicamente as maiores e mais radicais revoluções sociais e políticas, e a nível da acção se revela tão cândida e tão inofensiva como aparenta ser o Cordeiro Pascal.

Estamos cansados de tudo isto. Só não estamos cansados de ser professores. É, aliás, o prazer de ser professor e a consciência dos deveres dessa função que geram a capacidade de sobreviver a tanta estultícia, a tanta grosseria, a tanta idiotice. Apesar dos Governos que temos, apesar das ministras que temos, apesar dos sindicatos que temos, conseguimos sobreviver e desempenhar conscienciosamente as nossas funções e cumprir os nossos deveres.

Mas, agora, vamos partir para férias. Vamos descansar. Vamos retemperar.

Por isso, para todos os que as merecem,
aqui ficam lavrados os votos de excelentes férias.
E também fica marcado o nosso reencontro, para Setembro.
Um abraço, e até lá.