quarta-feira, 14 de julho de 2010

Às quartas

Sei, a Pureza

Sei, a pureza não dá fruto,
Virgens a filhos não dão vida,
É a grande lei da sujidade
Para existir, paga devida.

Da borboleta azul — lagarta,
Da flor, em volta cresce o fruto,
A neve sem tocar é branca,
O quente chão é impuro e bruto

Imaculado o éter dorme,
Micróbios trazem vida ao ar,
Bem podes não nascer, se queres,
Porém se és, vais a enterrar.

Feliz é a voz do pensamento,
Dita — o ouvido a difama
P'ra qual dos pratos me inclino —
O sonho mudo ou a fama?

Entre o silêncio e o pecado,
Manada ou lótus — que escolher?
Ai, drama de morrer em branco
Ou mesmo assim morte vencer...

Ana Blandiana
(Trad.: Doina Zugravescu)