sábado, 24 de julho de 2010

Ao sábado: momento quase filosófico


A propósito de sistemas de imortalidade - 2

«Infelizmente, os sistemas de imortalidade levam-nos a comportar-nos mal. Quando nos identificamos com um sistema de imortalidade e lhe conferimos o significado pessoal supremo, deparamos com o desagradável problema de termos de enfrentar outras pessoas com sistemas diferentes. É frequente assistirmos a isto no choque das religiões do mundo, situação que apresenta um problema importante: uma vez que é impossível que os nossos sistemas de imortalidade estejam todos certos, os dos outros só podem estar errados.
Contudo, a civilização também nos concedeu um remédio para o problema: Matem os filhos da mãe! [...]
Um dia, estava a atravessar uma ponte e vi um homem no rebordo, prestes a saltar. Ao ver aquilo, corri e disse:
— Pare! Não faça isso!
— Por que não? — replicou ele.
— Bem, há imensas coisas pelas quais vale a pena viver!
— Como por exemplo?
— Bem... é religiosos?
Ele disse que sim.
— Eu também — continuei eu. — Está a ver? Já temos imensas coisas em comum, por isso vamos conversar. É cristão ou budista?
— Cristão.
— Eu também. É católico ou protestante?
— Protestante.
— Eu também! É episcopaliano ou baptista?
— Baptista.
— Uau! Eu também! É da Igreja Baptista de Deus ou da Igreja Baptista do Senhor?
— Baptista de Deus.
— Eu também! É da Igreja Baptista de Deus original ou da Igreja Baptista de Deus Reformada?
— Igreja Baptista de Deus Reformada!
— Eu também! É da Igreja Baptista de Deus Reformada na reforma de 1879 ou da Igreja Baptista de Deus Reformada na reforma de 1915?
— Igreja Baptista de Deus Reformada, reforma de 1915! respondeu o homem.
— Morre, maldito herege — disse eu, e empurrei-o.»
Thomas Cathcart, Daniel Klein, Heidegger e um Hipopótamo Chegam às Portas do Paraíso, pp. 28-31.