sábado, 10 de julho de 2010

Ao sábado: momento quase filosófico


Que fazer em relação à morte?
«O motivo porque desejamos negar a nossa mortalidade é bastante óbvio: a perspectiva da morte é aterradora: provoca a angústia existencial suprema. Ficamos perturbados ao encarar o facto de só cá andarmos durante um curto período de tempo e de, quando desaparecermos, ser para toda a eternidade. Como podemos aproveitar a vida se o tiquetaque do relógio soa tão alto nos nossos ouvidos?
Segundo Becker, a única forma que a grande maioria de nós tem para lidar com esta situação é a ilusão — na verdade, a Grande Ilusão. A G.I. é o instinto humano básico — muito mais básico que o instinto sexual, diz ele — e dá origem a «sistemas de imortalidade», estruturas de crença não racionais que nos proporcionam uma forma de acreditar que somos imortais. Há a estratégia sempre popular de nos identificarmos com uma tribo, raça ou nação que continua a viver no futuro indefinido, da qual fazemos parte de alguma forma. Depois, temos o sistema da imortalidade através da arte, no qual o artista imagina a sua obra a perdurar para todo o sempre e, consequentemente, prevê a sua própria imortalidade no panteão dos Grandes Artistas ou, no mínimo dos mínimos, na assinatura no fundo de uma paisagem ao pôr-do-sol pendurada no canto do sótão da casa dos netos.
Depois , temos os sofisticados sistemas de mortalidade enraizados nas religiões do mundo, que vão desde continuar a viver como parte da energia cósmica, no Oriente, até partir para ficar com Jesus, no Ocidente. A um nível menos místico, temos o sistema de imortalidade através da riqueza. Este proporciona-nos um objectivo de vida fantástico para acordar todas as manhãs: arranjar mais dinheiro. Dessa forma, não teremos de pensar no objectivo final.
A riqueza também nos admite numa tribo que continuará a viver: o clube exclusivo das pessoas influentes. Existe até um bónus — podemos transmitir um pedaço de nós, o nosso dinheiro à geração seguinte.
Mas caveat emptor! (Ou, se não forem da Roma Antiga, "O comprador que se acautele!")
Quando descobriu que ia herdar uma fortuna depois de o pai doente falecer, Bob decidiu que precisava de uma mulher para o ajudar a aproveitar o dinheiro. Por isso, uma noite foi a um bar de solteiros, onde avistou a mulher mais bela que tinha visto em toda a sua vida. A sua beleza natural arrebatou-o.
— Posso parecer um homem banal — disse ele, ao aproximar-se dela —, mas dentro de uma ou duas semanas o meu pai vai morrer e eu herdarei 20 milhões de dólares.
Impressionada, a mulher foi com ele para casa nessa mesma noite. Três dias depois, tornou-se sua madrasta.»
Thomas Cathcart, Daniel Klein, Heidegger e um Hipopótamo Chegam às Portas do Paraíso, pp.24-26.