sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Fragmenti veneris diei

«Faz parte da natureza humana retirar prazer do simples facto de observar os outros em actos aprazíveis. Isto explica a popularidade de dois negócios: a pornografia e os cafés. Os americanos são exímios no primeiro, mas os europeus excedem-nos nos segundos. A comida e o café propriamente ditos quase nem são importantes. Certa vez, ouvi falar de um café em Tel Aviv que dispensava a comida e a bebida; servia pratos e chávenas vazios aos clientes, mas cobrava-lhes dinheiro verdadeiro.
Os cafés são autênticos teatros onde o cliente é simultaneamente espectador e actor. Descubro um, fantástico, no centro de Roterdão, a um quarteirão do meu hotel. É ao mesmo tempo grande e acolhedor, requintado e decadente. Belos soalhos de madeira, mas que parecem não ser encerados há anos. É o tipo de de lugar onde poderíamos estar horas a saborear uma cerveja, e suspeito que seja isso mesmo que fazem muitas das pessoas que aqui se encontram.
Toda a gente está a fumar, pelo que me junto a elas, acendendo uma cigarrilha. Há qualquer coisa neste lugar que faz com que o tempo pareça dilatar-se e torno-me extremamente consciente dos mais pequenos detalhes. Reparo numa mulher que está sentada num banco do balcão, com as pernas apoiadas numa balaustrada, formando uma pequena ponte levadiça, que ela levanta e baixa consoante as pessoas vão passando.
Peço uma coisa que se chama cerveja Trapiste. É morna. Não costumo gostar de cerveja morna, mas desta gosto.
[...] Sou dono do meu tempo. De muito tempo. Mas é esse o principal objectivo de um café europeu: dar-nos a possibilidade de nos demorarmos mais tempo do que seria aceitável, mas desprovidos de qualquer sentimento de culpa.»
Eric Weiner, A Geografia da Felicidade, Lua de Papel, pp. 17-18.