O ministro das Finanças, segundo o noticiado pelos jornais, recusou a proposta, proveniente dos deputados da maioria, de ser adoptada no próximo ano, em sede de IRS, uma taxa extraordinária de 10%, para quem recebesse mais de 500 mil euros por ano.
Dizem os jornais que Vítor Gaspar recusou esta proposta por considerá-la excessiva. A razão foi mesmo essa: considerou-a excessiva. Isto é, Vítor Gaspar terá considerado excessivo baixar em 10% o rendimento de quem recebe mensalmente mais de 40 mil euros, todavia, Gaspar não considerou excessivo cortar o vencimento entre 5% e 10% a quem ganha mais de mil e quinhentos euros, na função pública. Também não considerou excessivo fazer o mesmo aos pensionistas. Rendimentos muitíssimo longe, portanto, dos quarenta mil euros mensais que Gaspar decidiu proteger. Mas a Gaspar também não pareceu excessivo cortar, adicionalmente, a esses mesmos funcionários e pensionistas, dois subsídios, de férias e de Natal, o que correspondeu a baixar em mais 14% os seus rendimentos. Tudo somado, estes cortes nos rendimentos oscilam entre 19% e 24%. Contudo, para o ministro das Finanças, isto não é excessivo. Como também não é excessivo cortar nas pensões mínimas e cortar no subsídio de desemprego. Excessivo mesmo seria diminuir em mais 10% os rendimentos de quem recebe, por ano, 500 mil, 700 mil, 1 milhão de euros e por aí adiante. Por isso, Gaspar recusou.
Causa perplexidade? Não causa.
Na verdade, já nos habituámos ao carácter político de Vítor Gaspar. Lá fora, nas reuniões internacionais, as imagens televisivas mostram Vítor Gaspar a vergar-se (literalmente) e a desmembrar-se em múltiplos, intensos e efusivos abraços e em rasgados, contínuos e quase obscenos sorrisos para com os seus homólogos europeus e para com os donos da finança mundial. Lá fora, perante os detentores do poder, Gaspar é de uma ilimitada subserviência. Cá dentro, com os poderosos, Gaspar mimetiza o que faz lá fora: é subserviente e protector. Inversamente, com os mais fracos, Vítor Gaspar fala pausada e arrogantemente e aplica as mais pesadas medidas, que aos mais fortes não é capaz de aplicar.