quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Os nossos liberais continuam «sui generis»

Confesso a minha dificuldade em compreender os nossos liberais e aqueles que, mesmo não se dizendo liberais, são convictos defensores da absolutização dos méritos da iniciativa privada e consequentemente das políticas de privatizações de praticamente tudo o que é estatal. Publicamente não se afadigam de afirmar que a competitividade é o motor do desenvolvimento e que o Estado deve ser reduzido apenas ao essencial para, supostamente, libertar a chamada sociedade civil, de modo a que se possa criar, também supostamente, um mundo de bem-estar, próspero e sustentável.
As convicções devem ser respeitadas, desde que preencham o pré-requisito da honestidade. Ora a minha dificuldade começa precisamente aqui, porque não alcanço a (honesta) razão que leva alguns paladinos de tudo o que seja privatização, inesperada e repentinamente, a transmutarem-se em adversários, igualmente convictos, de «determinadas» privatizações.
Um exemplo recente: «A privatização da RTP seria muito problemática». Quem ontem fez esta afirmação foi Pinto Balsemão (SIC), depois de já a ter repetido no último ano dezenas de vezes. Pais do Amaral (TVI) tem-no feito com a mesma recorrência. A minha perplexidade é, pois, enorme. Quer um quer outro sempre foram empenhados protagonistas na defesa das privatizações, quer um quer outro sempre criticaram as despesas excessivas do Estado na RTP, quer um quer outro sempre se revelaram enlevados admiradores dos alegados méritos da concorrência. Por que razão então contestam a privatização da RTP? Porque, dizem, o mercado não aguenta com três canais privados, um deles terá de desaparecer. Aqui a perplexidade aumenta: não são os adeptos das privatizações que nos dizem que é precisamente pela via da concorrência que se seleccionam os melhores? Não é precisamente no livre jogo do mercado que os vencedores revelam o seu mérito? Em que ficamos então: as privatizações são uma boa política ou não são? As leis do mercado livre são boas ou não são? O mérito revela-se através da concorrência ou não se revela?
Os nossos liberais continuam muito sui generis...