Obviamente que atirar pedras a polícias que estão impávidos em frente a um parlamento não só é um acto bárbaro como é ridiculamente inútil, se a esse acto está associada alguma pretensão supostamente revolucionária.
Dito isto, é agora necessário dizer o resto. E o resto é dizer que não é verdade que a carga policial ocorrida ontem sobre os manifestantes, que estavam concentrados em frente à Assembleia da República, tenha sido «adequada» à situação.
A PSP diz que a carga policial foi «adequada», porque foi precedida de «avisos prévios, seletiva e ajustada à finalidade de cessação de comportamentos violentos e à reposição da ordem pública». Quem redigiu o comunicado certamente não sabe o significado do termo «adequado». A carga policial não é mais ou menos adequada pelo facto de terem existido avisos prévios. Como é óbvio, não existe relação entre uma coisa e outra. Mas, acima de tudo, a carga não foi selectiva e, por isso, não foi adequada. As imagens de todas as televisões mostram, sem deixarem margem para dúvidas, que não houve selectividade. Várias pessoas, que de jovens nada tinham e que não tocaram em nenhuma pedra, foram brutal e covardemente espancadas. Não houve nem selectividade nem profissionalismo, ao contrário do que, em uníssono, Cavaco Silva, Passos Coelho e Miguel Macedo afirmaram. Um polícia profissional não pode comportar-se como um tresloucado que ouvida a ordem de ataque põe-se a bater em tudo que lhe apareça à frente. Isso não é próprio de um profissional, isso é próprio de um tarado.
Todavia há uma hipótese de se poder considerar a carga policial adequada. Se o objectivo era assustar e intimidar as pessoas que pacificamente exercem o direito a manifestar-se, então a carga foi, de facto, adequada a essa finalidade. Se o objectivo era tentar desmobilizar futuras manifestações, então a carga foi adequada. Foi adequada, mas certamente que não será eficaz. Porque as manifestações vão continuar e os protestos serão cada vez maiores.