As sucessivas avaliações da troika e o conteúdo de diversas declarações públicas de responsáveis do FMI, do BCE e da Comissão Europeia mostram a objectiva desorientação que os domina. Proferem afirmações contraditórias, dão o dito por não dito, falam dos riscos e das incertezas que o futuro nos reserva, enfim, de modo implícito ou de modo explícito assumem que as coisas estão a correr mal e que não sabem se irão melhorar. Por vezes, para aliviar o ambiente geral e a tensão, elaboram profissões de fé nos bons resultados que suposta e longinquamente hão-de chegar. A promessa de um paraíso situado algures no tempo deixou de ser monopólio das religiões.
Apesar de tudo isto, apesar de todas as evidências mostrarem a catástrofe em que estamos envolvidos, o designado «programa de ajustamento» mantém-se inalterado e as políticas de empobrecimento e miserabilização prosseguem. Porquê? Porque, por um lado, a troika tem como primeira preocupação assegurar que a dívida e os juros serão por nós integralmente pagos, de modo a garantir os elevados lucros financeiros dos fundos e bancos estrangeiros que avançaram com o empréstimo; e porque, por outro lado, há uma ideologia, que suporta os interesses dos donos do sistema que governa o mundo, que não pode ser posta em causa, sob pena desses interesses também o serem.
Estas duas preocupações da troika remetem para secundíssimo plano os interesses dos portugueses e de Portugal. Isto admira? Não admira. O que admira é termos um governo que não tem pejo nem vergonha de se assumir como primeiro e prestável representante dessa troika.