Falta 1 dia para decidirmos o nosso voto.
Do meu ponto de vista, aquilo que amanhã vai estar, em primeiro lugar, em jogo é a manifestação da nossa rejeição ou do nosso apoio à política do actual Governo e aos políticos que a corporizaram. Mais importante, muito mais importante que dizermos o que queremos é, neste momento, dizermos o que não queremos.
Vou tentar explicar porque penso assim.
1. Há quatros anos e meio, o Partido Socialista venceu as eleições com maioria absoluta. Sabemos que essa vitória foi obtida não por mérito próprio, mas por demérito dos outros. Obteve-a devido ao generalizado sentimento de repulsa em relação a dois factos intimamente ligados: a inesperada fuga de Durão Barroso e o pouco ortodoxo Governo de Santana Lopes. A repugnância que estes dois acontecimentos provocaram nos eleitores conduziu-os a votar maciçamente no PS.
Deste modo, José Sócrates, sem ter feito nada para o merecer, viu cair-lhe no colo uma maioria absoluta, e, de imediato, novamente se juntaram dois factos inéditos e também ligados entre si: a necessidade, sentida por todos, de ser evidenciada uma ruptura clara com a forma e o conteúdo da política santanista e, segundo facto, o perfil psicológico do recém-nomeado primeiro-ministro.
2. Um perfil psicológico que tem caracteres como estes: excessiva vaidade pessoal, excessivo orgulho pessoal, excessiva necessidade de protagonismo, arrogância e autoritarismo. Estes traços de personalidade geram nele, Sócrates, um voluntarismo desmedido e desequilibrado sempre focalizado nas acções que possam satisfazer as solicitações daqueles traços de personalidade.
Um perfil assim produz necessariamente um político caracterizado pela obsessiva preocupação de mostrar que faz, de mostrar que o possível e o impossível está a ser realizado por ele, de mostrar que é um executante incansável e de mostrar que faz o que mais ninguém fez. São ilustrativas desta doentia necessidade as repetidas - repetidas até à exaustão - expressões: «é um momento histórico», «é um recorde», «pela primeira vez», «nunca antes tinha sido alcançado», e outras do género.
Esta é também a razão porque o PS tem contratos com diversas agências de comunicação, cuja missão é zelar pela imagem do Governo e, em particular, pela imagem do primeiro-ministro.
Zelar pela imagem é, desde o início, a primeira, a segunda e a terceira prioridades de Sócrates. (Foi esta obsessão pela imagem que, inicialmente, o levou a escrever, na folha do registo biográfico de deputado, que a sua profissão era engenheiro e as habilitações literárias eram engenharia civil. Para, mais tarde, às escondidas, acrescentar que a profissão, afinal, era de engenheiro técnico e que as habilitações literárias eram somente o bacharelato).
Esta é igualmente a razão pela qual dois verbos da nossa língua foram escolhidos como obrigatórios no discurso político deste Governo: «anunciar» e «mudar». Nunca nenhum Governo anunciou tanto em tão pouco tempo: anunciou, fartou-se de anunciar o mesmo acontecimento repetidamente, como se fosse a primeira vez, e anunciou coisas que nunca realizou. Por outro lado, nunca nenhum Governo falou tanto em «mudar», em «reformar»: um político com aquele perfil psicológico sente a necessidade absoluta de dizer que mudou muitas e diversas coisas, independentemente da mudança ser dirigida para melhor ou para pior. Interessa apenas mudar, mesmo que seja à pressa, mesmo que seja sem preparação e sem rumo, mesmo que seja uma péssima mudança.
Avaliar a «mudança», avaliar as «reformas» é secundário e, para Sócrates, será sempre secundário, o que interessa, exclusivamente, é poder dizer que operou uma mudança.
3. Este perfil completa-se com as características comportamentais do autoritarismo e da arrogância. Alcançado o poder, o autoritarismo torna-se um instrumento imprescindível para mais facilmente poder concretizar as suas obsessões e poder ultrapassar os obstáculos à satisfação das mesmas. Tudo o que seja considerado ou um impedimento ou que revele a verdade do seu carácter é combatido por todos os meios até ser anulado (cf.: afastamento de Eduardo Moniz, afastamento de Moura Guedes, recorrente instauração de processos crime a jornalistas, etc.). Quando o processo de liquidação não é possível, a estratégia altera-se e dá lugar a campanhas de vitimização (caso da licenciatura, caso da assinatura de projectos de engenharia que não eram da sua autoria, caso Freeport).
Deste modo, o autoritarismo e a arrogância constituem dois elementos estruturantes da forma de exercício do poder.
4. As evidentes, e até confrangedoras, limitações filosóficas, culturais e políticas de Sócrates (cf., por exemplo, a entrevista, de cariz mais pessoal e intimista, dada à SIC, durante a campanha eleitoral) constituem a outra dimensão que condiciona e explica a sua acção política. Munido de meia dúzia de chavões, simplistas e superficiais - como qualquer chavão - acerca da vida e da sociedade, parte para a governação obcecado com a sua concretização. Alguns desses chavões são: «meritocracia», «competitividade» e «tecnologização». Sócrates está convencido de que a concretização do que estes conceitos representam resolvem os problemas do país, de qualquer país. Por isso legisla sobre o mérito sem saber como se avalia o mérito, fala de competitividade como um valor em si mesmo e supõe que atirando muita tecnologia para cima dos problemas os resolve. Meia dúzia de ideias simplistas são sempre um fascínio para quem tem o perfil acima descrito. Um fascínio para quem com aquela mentalidade governa e um perigo para quem por ela é governado.
Quando um político é limitado filosófica e culturalmente e possui o perfil descrito torna-se politicamente obsessivo, perde discernimento e prejudica o país. Por vezes, de modo irreversível.
É este modelo de político e este modelo de governação que amanhã vai a votos. É isto que, na minha opinião, amanhã, em primeiro lugar, vai ser votado.
Amanhã, em primeiro lugar, iremos dizer se queremos ou não queremos continuar a ser assim governados.
Do meu ponto de vista, aquilo que amanhã vai estar, em primeiro lugar, em jogo é a manifestação da nossa rejeição ou do nosso apoio à política do actual Governo e aos políticos que a corporizaram. Mais importante, muito mais importante que dizermos o que queremos é, neste momento, dizermos o que não queremos.
Vou tentar explicar porque penso assim.
1. Há quatros anos e meio, o Partido Socialista venceu as eleições com maioria absoluta. Sabemos que essa vitória foi obtida não por mérito próprio, mas por demérito dos outros. Obteve-a devido ao generalizado sentimento de repulsa em relação a dois factos intimamente ligados: a inesperada fuga de Durão Barroso e o pouco ortodoxo Governo de Santana Lopes. A repugnância que estes dois acontecimentos provocaram nos eleitores conduziu-os a votar maciçamente no PS.
Deste modo, José Sócrates, sem ter feito nada para o merecer, viu cair-lhe no colo uma maioria absoluta, e, de imediato, novamente se juntaram dois factos inéditos e também ligados entre si: a necessidade, sentida por todos, de ser evidenciada uma ruptura clara com a forma e o conteúdo da política santanista e, segundo facto, o perfil psicológico do recém-nomeado primeiro-ministro.
2. Um perfil psicológico que tem caracteres como estes: excessiva vaidade pessoal, excessivo orgulho pessoal, excessiva necessidade de protagonismo, arrogância e autoritarismo. Estes traços de personalidade geram nele, Sócrates, um voluntarismo desmedido e desequilibrado sempre focalizado nas acções que possam satisfazer as solicitações daqueles traços de personalidade.
Um perfil assim produz necessariamente um político caracterizado pela obsessiva preocupação de mostrar que faz, de mostrar que o possível e o impossível está a ser realizado por ele, de mostrar que é um executante incansável e de mostrar que faz o que mais ninguém fez. São ilustrativas desta doentia necessidade as repetidas - repetidas até à exaustão - expressões: «é um momento histórico», «é um recorde», «pela primeira vez», «nunca antes tinha sido alcançado», e outras do género.
Esta é também a razão porque o PS tem contratos com diversas agências de comunicação, cuja missão é zelar pela imagem do Governo e, em particular, pela imagem do primeiro-ministro.
Zelar pela imagem é, desde o início, a primeira, a segunda e a terceira prioridades de Sócrates. (Foi esta obsessão pela imagem que, inicialmente, o levou a escrever, na folha do registo biográfico de deputado, que a sua profissão era engenheiro e as habilitações literárias eram engenharia civil. Para, mais tarde, às escondidas, acrescentar que a profissão, afinal, era de engenheiro técnico e que as habilitações literárias eram somente o bacharelato).
Esta é igualmente a razão pela qual dois verbos da nossa língua foram escolhidos como obrigatórios no discurso político deste Governo: «anunciar» e «mudar». Nunca nenhum Governo anunciou tanto em tão pouco tempo: anunciou, fartou-se de anunciar o mesmo acontecimento repetidamente, como se fosse a primeira vez, e anunciou coisas que nunca realizou. Por outro lado, nunca nenhum Governo falou tanto em «mudar», em «reformar»: um político com aquele perfil psicológico sente a necessidade absoluta de dizer que mudou muitas e diversas coisas, independentemente da mudança ser dirigida para melhor ou para pior. Interessa apenas mudar, mesmo que seja à pressa, mesmo que seja sem preparação e sem rumo, mesmo que seja uma péssima mudança.
Avaliar a «mudança», avaliar as «reformas» é secundário e, para Sócrates, será sempre secundário, o que interessa, exclusivamente, é poder dizer que operou uma mudança.
3. Este perfil completa-se com as características comportamentais do autoritarismo e da arrogância. Alcançado o poder, o autoritarismo torna-se um instrumento imprescindível para mais facilmente poder concretizar as suas obsessões e poder ultrapassar os obstáculos à satisfação das mesmas. Tudo o que seja considerado ou um impedimento ou que revele a verdade do seu carácter é combatido por todos os meios até ser anulado (cf.: afastamento de Eduardo Moniz, afastamento de Moura Guedes, recorrente instauração de processos crime a jornalistas, etc.). Quando o processo de liquidação não é possível, a estratégia altera-se e dá lugar a campanhas de vitimização (caso da licenciatura, caso da assinatura de projectos de engenharia que não eram da sua autoria, caso Freeport).
Deste modo, o autoritarismo e a arrogância constituem dois elementos estruturantes da forma de exercício do poder.
4. As evidentes, e até confrangedoras, limitações filosóficas, culturais e políticas de Sócrates (cf., por exemplo, a entrevista, de cariz mais pessoal e intimista, dada à SIC, durante a campanha eleitoral) constituem a outra dimensão que condiciona e explica a sua acção política. Munido de meia dúzia de chavões, simplistas e superficiais - como qualquer chavão - acerca da vida e da sociedade, parte para a governação obcecado com a sua concretização. Alguns desses chavões são: «meritocracia», «competitividade» e «tecnologização». Sócrates está convencido de que a concretização do que estes conceitos representam resolvem os problemas do país, de qualquer país. Por isso legisla sobre o mérito sem saber como se avalia o mérito, fala de competitividade como um valor em si mesmo e supõe que atirando muita tecnologia para cima dos problemas os resolve. Meia dúzia de ideias simplistas são sempre um fascínio para quem tem o perfil acima descrito. Um fascínio para quem com aquela mentalidade governa e um perigo para quem por ela é governado.
Quando um político é limitado filosófica e culturalmente e possui o perfil descrito torna-se politicamente obsessivo, perde discernimento e prejudica o país. Por vezes, de modo irreversível.
É este modelo de político e este modelo de governação que amanhã vai a votos. É isto que, na minha opinião, amanhã, em primeiro lugar, vai ser votado.
Amanhã, em primeiro lugar, iremos dizer se queremos ou não queremos continuar a ser assim governados.