terça-feira, 1 de novembro de 2011

Nacos

«E houve tantas noites de remoer, assim na solidão de copo refectido em qualquer perdida tasca. Ali, em plena fábrica de sonhos fáceis (o povo a rir-se e a contar-se aldrabices de esquecer à meia-volta), eu examinava com uma lupa quanto vira-ouvira-palpara-pressentira (por sentir um pouco) da Luísa, a Estrela, a da Alfama-Mouraria com dormida em plena Graça (quase o açafate inteiro do folclore de Junho). Aonde conduziam tais contactos, inquietantes? Como podia eu saber, então, que escrever viria a ser meu nome, e solidão e paz? Ignorava: as possibilidades de tudo e de todos eram-me uma estranheza, pois não ousara (ainda) desafiar as minhas. Vasculhava nos arquivos da cidade onde, desde que nado, vivia em riscos de mortalidade distraída. Percurso através de ruas e de gentes, desejo ainda sem nome de me percorrer a mim ligado a um solo e via deste à seiva do Cosmos nosso Irmão.»
Nuno Bragança, A Noite e o Riso, Pub. Dom Quixote.