sábado, 15 de junho de 2013

Um contributo dos professores

1. Há dias, vi na televisão um ex-ministro da Educação, Couto dos Santos, comentar a luta dos professores de uma forma mal educada, arrogante e impreparada. Ao ouvi-lo, perguntei-me como era possível um indivíduo que se comporta assim alguma vez ter sido ministro. Perguntei-me como era possível um indivíduo, que foi ministro, apresentar-se para discutir, em público, algo sobre o qual pouco ou nada sabia, cuja qualidade das opiniões era insistentemente inferior à qualidade dos comentários dos adeptos à saída de um estádio. Perguntei-me como é possível que um ex-ministro fale para o seu interlocutor, neste caso, um professor (Paulo Guinote), de modo grosseiro e acintoso. Perguntei-me como foi possível um indivíduo que manifesta tão descontrolado rancor aos professores ter ocupado precisamente a pasta da Educação.

2. Ontem, vi na televisão o actual ministro da Educação, Nuno Crato, comentar a situação que se vive na Educação. Ouvi-o e não ouvi uma única palavra sua sobre Educação. Não ouvi uma única palavra sua sobre os problemas da Educação que estão na base do conflito entre os professores e o seu ministério. Ouvi-o apenas falar de serviços mínimos, de colégio arbitral, de recurso a tribunais superiores, de requisição civil, de abuso do direito à greve, etc. Um ministro da Educação, para efectivamente o ser, trata de assuntos da Educação, preocupa-se em compreender e resolver os problemas específicos da Educação. Um ministro da Educação deveria saber que uma greve de professores só ocorre quando existem problemas muito graves no domínio educativo, e que é sua obrigação, enquanto responsável máximo dessa área, centrar-se nesses problemas e não descansar enquanto não os resolver, conjuntamente com os professores.

3. Hoje, vi que o primeiro-ministro afirmou, no parlamento, o seguinte: se, acerca da lei da greve no sector do ensino, os tribunais não decidirem a favor do governo, irei mudar a lei da greve. Tirando os anos do PREC, não me recordo de ter visto um governo tão desorientado e tão condicionado pelo primário sentimento da revancha. À imagem do político que mais mentiu numa campanha eleitoral, Passos Coelho junta a imagem do político que menos respeito tem pelas leis e que menos competência tem para exercer as funções de chefe de governo.

4. Há minutos, vi Nuno Crato anunciar que não alterava a data dos exames marcados para o dia 17 de Junho. Depois da Comissão arbitral ter proposto outra data, depois de todos os sindicatos afirmarem que não recalendarizariam a greve do dia 17, o ministro da Educação e o governo optam por prejudicar os alunos que não vão poder fazer exame naquele dia. Teimosa e arrogantemente, é o ministro e o governo quem fazem dos alunos seus reféns. É o ministério da Educação que utiliza os alunos como meio para atingir os seus ilegítimos fins políticos.

5. Este ministro e este governo têm de ser impedidos de prosseguir a sua barbárie. Para sobreviver, o país necessita de se livrar urgentemente destes governantes.
Os professores irão dar certamente um contributo significativo na concretização desse objectivo patriótico: sábado, realizando uma enorme manifestação nacional, em Lisboa; na segunda-feira, realizando uma maciça greve nacional; e, nos dias seguintes, prosseguindo ininterruptamente a greve às avaliações.
O país vai ficar a ganhar.