segunda-feira, 22 de outubro de 2012

O exemplo da EMEL

Ficámos a saber que a avaliação do desempenho e o salário dos funcionários da EMEL — Empresa Municipal de Estacionamento de Lisboa — vão deixar de estar dependentes do número de multas passadas e de bloqueamentos realizados. A razão para esta decisão, apresentada pelo vereador da Mobilidade da Câmara Municipal de Lisboa, Nunes da Silva, explica-se pelos «resultados perversos» que aquele sistema de incentivo à produtividade trouxe consigo, como, por exemplo, a negligência, por parte daqueles funcionários, na prestação de informações aos automobilistas. As receitas da EMEL subiram significativamente, mas a qualidade do serviço prestado ao utente piorou proporcionalmente.
Para aqueles que tudo gerem a partir de uma folha de Excel, esta decisão, para além de ser absolutamente incompreensível (as receitas da empresa tinham aumentado...) é uma derrota pesada. Para quem pensa que a motivação dos trabalhadores se deve fazer de modo semelhante à motivação do burro pela cenoura, fica perplexo com o fim daquele sistema de incentivos. Para quem pensa que a qualidade se revela pela quantidade e para quem reduz a gestão à busca desenfreada do lucro, o desmoronar de tal sistema é uma péssima notícia.
Mas, desgraçadamente, o que se passava na EMEL é o que ainda se passa no país: desde o provinciano frenesim por tudo o que se parece com avaliação quantitativa — supostamente medidora milagrosa do mérito de todos e de cada um (muito venerada pelos governos de Sócrates) — até à actual adoração pela governação sustentada em modelos matemáticos — supostamente fazedores de milagres financeiros e económicos — tudo se mexe segundo o dogma da quantificação. Este dogma, fundado em bordões como «eficiência», «eficácia» e «competitividade», está a conduzir empresas e países para o abismo. 
O grave é que dentro dessas empresas e desses países estão seres humanos.