Nos textos anteriores, procurei apresentar as principais razões pelas quais divirjo da ideia que preconiza que os exames nacionais devem ter um peso determinante na aprovação do aluno e que devem ser generalizados a todas as disciplinas, no final de cada ciclo de estudos. Tendo presente as finalidades que actualmente são atribuídas aos exames nacionais, e outras que no futuro próximo se prevêem vir a ser atribuídas, torna-se claro que estas provas não conseguem/não podem cumprir essas finalidades de modo credível e fiável. Seria certamente útil assumir esta realidade e não fazer dos exames nacionais superlativos instrumentos de avaliação, porque na realidade não o são. Têm demasiadas limitações e deficiências para poderem ser assim considerados. Vender a ilusão de rigor avaliativo, a pais e a alunos, apenas para satisfação ideológica de alguns políticos, de alguns opinadores e de alguns professores não é aceitável.
A ideia oposta à da proliferação dos exames é a ideia que preconiza a abolição completa dos exames.
Todavia, a abolição dos exames necessita de um contexto que permita e aconselhe essa abolição. É condição de possibilidade dessa abolição a existência de uma cultura de trabalho, de disciplina e de exigência assimilada por todos os intervenientes no processo educativos: pais, alunos e professores. Esta cultura não se decreta, não se impõe, tem de ser desenvolvida ao longo de décadas. Há países onde esta cultura existe e onde os exames foram suprimidos ou apenas são realizados em número reduzido. Não tenho nenhuma dúvida de que este é o caminho a seguir.
É estranho, contudo, que muitos dos que defendem a abolição dos exames não enfatizem aquilo que é primordial enfatizar, para que o fim dos exames seja possível, e que é, justamente, os valores do trabalho, do rigor, da disciplina e da exigência. O discurso que defende estes valores tem sido inexplicavelmente monopólio dos que apresentam os exames como instrumento fundamental de concretização desses valores. Esta associação (entre exames e exigência) é aceite por muitos como natural e a própria sociedade interiorizou-a. Porém, como as objectivas limitações e deficiências dos exames revelam abundantemente, estas provas podem ser tudo, mas nunca um instrumento de rigor e de exigência.
A abolição dos exames implica, portanto, um política educativa que releve a relação biunívoca entre direitos e deveres, que valorize o trabalho e que combata o facilitismo, presente na mente de muitos alunos. Que seja exigente com os professores, mas que primeiramente lhes dê condições de trabalho, de dignidade e de autoridade. Mas tem de ser um política educativa que desde logo não tenha receio de ser exigente com os pais. Estes são os primeiros e os principais responsáveis pela educação dos filhos e essa responsabilidade não pode ser passada a ninguém nem a nenhuma instituição. Evidentemente que um Estado exigente com os pais tem de ter uma política social compatível com essa exigência e tem ele próprio de ser um exemplo de exigência consigo mesmo.
Desgraçadamente, o nosso país tem vivido de políticas educativas contraditórias, onde se amontoam conceitos incongruentes e práticas inconsequentes. Alternamos entre facilitismos provincianos e exigências só de aparência, entre concepções burocráticas de ensino e o «deixar andar», entre aventureirismo e arrogâncias e senso comum pouco ilustrado. Balançamos entre o desejo de equiparar o aluno ao professor e a vontade de implementar o autoritarismo. Não temos rumo, apesar de nos anunciarem sempre que ele existe. Em matéria educativa (como, lamentavelmente, em várias outras matérias) somos vítimas objectivas do diletantismo político.
Neste contexto de caos conceptual e orgânico, e de inexistência de uma cultura de responsabilidade e de responsabilização, não é possível falar em abolição de exames. Ainda que por péssimas razões, os exames nacionais trazem associados a si a ideia de que é necessário trabalhar mais e de modo mais organizado — é lamentável que assim seja, é lamentável que se tenha chegado a um ponto tal de degradação educativa que os exames sejam utilizados como «motivação» para que se trabalhe mais e melhor...
Não sendo possível, neste momento, proceder à abolição dos exames, são, na minha opinião, necessárias quatro prerrogativas para que eles sejam minimamente aceitáveis:
Primeira, usar de muita parcimónia no discurso sobre os exames. Ter humildade e reconhecer que estamos perante um instrumento de avaliação de fraca fidelidade/fiabilidade e com vastíssimos inconvenientes. Acabar, por conseguinte, com as palavras inflamadas e irresponsáveis acerca de uma alegada superlativa importância dos exames. Assumir que os exames são um «mal menor» e que, a prazo, devemos caminhar para a sua abolição ou para uma situação em que se tornem residuais no sistema educativo;
Segunda, realizar exames de modo selectivo — não de forma generalizada a todas as disciplinas e em todos os ciclos de ensino e nunca com peso determinante na aprovação do aluno.
Terceira, realizar provas centradas exclusivamente no tipo de aprendizagens que podem ser avaliadas com maior fidelidade, e não a todo o tipo de aprendizagens, como agora incompreensivelmente é feito.
Quarta, os exames podem/devem ser realizados a diferentes disciplinas alternada e aleatoriamente.
Concluo aqui alguns apontamentos que fui coligindo sobre a realização de exames nacionais.
Todavia, a abolição dos exames necessita de um contexto que permita e aconselhe essa abolição. É condição de possibilidade dessa abolição a existência de uma cultura de trabalho, de disciplina e de exigência assimilada por todos os intervenientes no processo educativos: pais, alunos e professores. Esta cultura não se decreta, não se impõe, tem de ser desenvolvida ao longo de décadas. Há países onde esta cultura existe e onde os exames foram suprimidos ou apenas são realizados em número reduzido. Não tenho nenhuma dúvida de que este é o caminho a seguir.
É estranho, contudo, que muitos dos que defendem a abolição dos exames não enfatizem aquilo que é primordial enfatizar, para que o fim dos exames seja possível, e que é, justamente, os valores do trabalho, do rigor, da disciplina e da exigência. O discurso que defende estes valores tem sido inexplicavelmente monopólio dos que apresentam os exames como instrumento fundamental de concretização desses valores. Esta associação (entre exames e exigência) é aceite por muitos como natural e a própria sociedade interiorizou-a. Porém, como as objectivas limitações e deficiências dos exames revelam abundantemente, estas provas podem ser tudo, mas nunca um instrumento de rigor e de exigência.
A abolição dos exames implica, portanto, um política educativa que releve a relação biunívoca entre direitos e deveres, que valorize o trabalho e que combata o facilitismo, presente na mente de muitos alunos. Que seja exigente com os professores, mas que primeiramente lhes dê condições de trabalho, de dignidade e de autoridade. Mas tem de ser um política educativa que desde logo não tenha receio de ser exigente com os pais. Estes são os primeiros e os principais responsáveis pela educação dos filhos e essa responsabilidade não pode ser passada a ninguém nem a nenhuma instituição. Evidentemente que um Estado exigente com os pais tem de ter uma política social compatível com essa exigência e tem ele próprio de ser um exemplo de exigência consigo mesmo.
Desgraçadamente, o nosso país tem vivido de políticas educativas contraditórias, onde se amontoam conceitos incongruentes e práticas inconsequentes. Alternamos entre facilitismos provincianos e exigências só de aparência, entre concepções burocráticas de ensino e o «deixar andar», entre aventureirismo e arrogâncias e senso comum pouco ilustrado. Balançamos entre o desejo de equiparar o aluno ao professor e a vontade de implementar o autoritarismo. Não temos rumo, apesar de nos anunciarem sempre que ele existe. Em matéria educativa (como, lamentavelmente, em várias outras matérias) somos vítimas objectivas do diletantismo político.
Neste contexto de caos conceptual e orgânico, e de inexistência de uma cultura de responsabilidade e de responsabilização, não é possível falar em abolição de exames. Ainda que por péssimas razões, os exames nacionais trazem associados a si a ideia de que é necessário trabalhar mais e de modo mais organizado — é lamentável que assim seja, é lamentável que se tenha chegado a um ponto tal de degradação educativa que os exames sejam utilizados como «motivação» para que se trabalhe mais e melhor...
Não sendo possível, neste momento, proceder à abolição dos exames, são, na minha opinião, necessárias quatro prerrogativas para que eles sejam minimamente aceitáveis:
Primeira, usar de muita parcimónia no discurso sobre os exames. Ter humildade e reconhecer que estamos perante um instrumento de avaliação de fraca fidelidade/fiabilidade e com vastíssimos inconvenientes. Acabar, por conseguinte, com as palavras inflamadas e irresponsáveis acerca de uma alegada superlativa importância dos exames. Assumir que os exames são um «mal menor» e que, a prazo, devemos caminhar para a sua abolição ou para uma situação em que se tornem residuais no sistema educativo;
Segunda, realizar exames de modo selectivo — não de forma generalizada a todas as disciplinas e em todos os ciclos de ensino e nunca com peso determinante na aprovação do aluno.
Terceira, realizar provas centradas exclusivamente no tipo de aprendizagens que podem ser avaliadas com maior fidelidade, e não a todo o tipo de aprendizagens, como agora incompreensivelmente é feito.
Quarta, os exames podem/devem ser realizados a diferentes disciplinas alternada e aleatoriamente.
Concluo aqui alguns apontamentos que fui coligindo sobre a realização de exames nacionais.