Compreender a nossa elite política e a elite dos nossos comentadores é uma meta inatingível.
Na quarta-feira passada, na Comissão de Finanças da Assembleia da República, Vítor Gaspar disse, em tom irónico, uma banalidade. De então para cá, o mundo dos comentadores ajoelhou-se, dobrou-se sobre si próprio e prestou veneração à vulgaridade.
Gaspar disse que «existe um desvio entre aquilo que os portugueses querem que o Estado Social lhes forneça e os impostos que estão dispostos a pagar por esses serviços.» Apesar da questão estar intencionalmente mal formulada (porque, comparativamente com outros países, os portugueses pagam mais impostos e têm um Estado Social pior) e não trazer nada de novo, a nossa elite política e os nossos media, nos últimos dias, não fizeram outra coisa que não fosse reproduzir e comentar a trivialidade. Na verdade, a questão de se definir os limites do Estado e, em particular, os limites do Estado Social é antiga, não foi descoberta por nenhum Gaspar.
O que de facto seria interessante era que Gaspar, ou qualquer outro constituinte das nossas elites, explicasse, a quem paga os impostos, como é que existem países que, sem terem petróleo nem terem recursos naturais superiores aos nossos, conseguem ter um verdadeiro Estado Social e um nível de vida que não tem comparação com o português. Esta seria a verdadeira questão a aprofundar e não a questão mal-disposta e arrogante formulada pelo ministro das Finanças. Precisamente o ministro que deveria mostrar-se particularmente humilde perante os portugueses. Precisamente o ministro que tinha a obrigação de pedir indulgência aos contribuintes pela série de asneiras e de erros que cometeu, desde que assumiu funções.
Mas compreender a nossa elite política e a elite dos nossos comentadores é uma meta inatingível. O melhor mesmo é arredá-las do poder.