As afirmações do primeiro-ministro, esta tarde na Assembleia da República, são bem reveladoras do modo de estar na política da nossa elite governamental. Perante a enorme gravidade dos múltiplos factos conhecidos sobre actos de espionagem, sobre a promiscuidade entre interesses políticos, interesses de empresas privadas e os serviços de informações e sobre o comportamento do ministro Miguel Relvas, o primeiro-ministro fez, no Parlamento, o discurso sobre o nada: nada há a fazer relativamente ao apuramento de responsabilidades dos responsáveis máximos dos serviços de informações, nada há a fazer relativamente ao ministro Relvas, nada há a fazer de particularmente relevante, porque nada existe de particularmente relevante.
Entretanto, as notícias vão saindo. Entretanto o que se vai conhecendo mostra que têm ocorrido coisas gravíssimas que ferem os mais elementares direitos constitucionalmente consagrados no capítulo dos direitos, liberdades e garantias pessoais, e mostra uma rede — composta por espiões, ex-espiões, empresários e governantes — que desenvolvia actividade ilegal e/ou promíscua em roda livre.
Passos Coelho confirma mais uma vez que não tem estatura política compatível com as suas responsabilidades de Estado.