As práticas e os discursos insolentes de muitos dirigentes do futebol português já há muito que foram importados por vários dos nossos dirigentes políticos. De governos regionais a governos centrais, de deputados a responsáveis partidários pudemos encontrar, ao longo dos anos, pródigos exemplos desta realidade. Aliás, nos últimos seis anos de governação socialista, as intervenções públicas grosseiras e desrespeitosas tornaram-se recorrentes.
Hoje temos novos intérpretes. Silva Carvalho, que já foi espião (o que dá aso a imaginar o estado pouco recomendável a que a nossa espionagem chegou) e que ultimamente tem vivido na antecâmera da política, ameaça, através da sua página no Facebook, socar quem divulgue a acusação da suas ilegalidades e crimes; Miguel Relvas, o ministro íntimo de Passos Coelho, ameaça um jornal e uma jornalista, se publicarem notícias sobre as suas inexplicáveis relações com a espionagem.
Para além de Carvalho e Relvas partilharem um semblante e uma postura corporal idênticos e a mesma aversão à liberdade de imprensa, parecem partilhar igualmente a mesma agilidade na utilização das novas tecnologias. O primeiro, já ex-espião, usando e abusando dos e-mails e sms para desenvolver actividade que lhe estava vedada; o segundo, como ministro, usando e abusando do telemóvel, para ameaçar um órgão de comunicação social, com a promessa de usar também a internet, para divulgar dados privados da vida de uma jornalista.
Para além de Carvalho e Relvas partilharem um semblante e uma postura corporal idênticos e a mesma aversão à liberdade de imprensa, parecem partilhar igualmente a mesma agilidade na utilização das novas tecnologias. O primeiro, já ex-espião, usando e abusando dos e-mails e sms para desenvolver actividade que lhe estava vedada; o segundo, como ministro, usando e abusando do telemóvel, para ameaçar um órgão de comunicação social, com a promessa de usar também a internet, para divulgar dados privados da vida de uma jornalista.
É ainda curioso registar o ar galifão com que alguns jornalistas têm discorrido acerca das pressões que os políticos sobre eles exercem. Contam que é normal ministros, deputados, dirigentes partidários e autarcas pegarem no telefone para praguejar e insultar jornalistas. Dizem que é natural assim ser, que faz parte do jogo da vida, e que não é jornalista quem não aguentar uma pressão. O que não pode acontecer, dizem eles, é haver pressões inaceitáveis.
Como leitor, eu estaria interessado em saber onde reside a fronteira entre uma pressão aceitável e uma pressão inaceitável. Segundo consegui compreender, praguejar e insultar fazem parte do cânone, ameaçar é que talvez já não faça. Digo talvez, porque, por exemplo, ameaçar que se coloca na internet o nome do parceiro ou parceira conjugal, para uns, ainda está dentro do normal, para outros, já não é normal. Isto é, se a relação conjugal for secreta, a ameaça de divulgação na internet é uma ameaça inaceitável, se a relação conjugal não for secreta, a ameaça de divulgação na internet já não é ameaça nenhuma é apenas uma pressão normal.
Há políticos, espiões e jornalistas que reciprocamente se merecem.