«Se não agirmos rápida e decididamente, é a morte por asfixia o que nos espera em breve. Em concordância com a razão geométrica que preside ao crescimento económico, o homem ocidental renunciou a toda a ponderação. Com um aumento do produto nacional bruto (PNB) per capita de 3,5% ao ano (progressão média em França entre 1949 e 1959), chegamos a uma multiplicação por 31 num século e por 961 em dois séculos! Com uma taxa de crescimento de 10%, que é a da China actual, obtém-se uma multiplicação por 736 num século! Com uma taxa de crescimento de 3%, multiplica-se o PIB por 20 ao fim de um século, por 400 em dois e por 8000 em três! Se o crescimento provocasse automaticamente o bem-estar, deveríamos viver hoje num verdadeiro paraíso, começado em... Mas, pelo contrário, estamos ameaçados com o inferno.
Nestas condições, seria urgente redescobrir a sabedoria do caracol. Este não só nos ensina a lentidão necessária, mas dá-nos uma lição ainda mais indispensável. Como Ivan Illich nos explica, "O caracol constrói a arquitectura delicada da sua casca acrescentando espiras cada vez maiores uma a seguir à outra, mas depois pára bruscamente e dá início a enrolamentos que passam a ser decrescentes. É que uma única espira a mais daria à casca uma dimensão 16 vezes maior. Em vez de contribuir para o bem-estar do animal, este passaria a ficar sobrecarregado. Portanto, qualquer aumento da sua produtividade serviria apenas como paliativo para as dificuldades criadas pelo aumento da casca para além dos limites fixados pela sua finalidade. Ultrapassado o ponto limite do alargamento das espiras, os problemas do sobrecrescimento vão-se multiplicar em progressão geométrica, ao passo que a capacidade biológica do caracol não pode aumentar, quanto muito, senão em progressão aritmética. Este afastamento do caracol em relação à progressão geométrica, que, no entanto, abraçara durante algum tempo, aponta-nos o caminho para pensar uma sociedade do "decrescimento", se possível serena e convivial — o decrescimento não é uma inversão mecânica do crescimento, mas a construção duma sociedade autónoma, certamente mais sóbria e sobretudo mais equilibrada.»
Serge Latouche, Pequeno Tratado do Decrescimento Sereno, Edições 70.