«O "desenvolvimento duradouro", introduzido como expressão mágica em todos os programas políticos, "não tem por função", tal como afirma Hervé Kempf, "senão manter os lucros e evitar a transformação dos hábitos, quase nada mudando a direcção seguida". Falar de "outro" desenvolvimento, tal como de "outro" crescimento, traduz ou uma grande ingenuidade ou uma grande duplicidade. Recordemos que em 1972, quando o presidente da Comissão Europeia, Sicco Mansholt, retirando corajosamente as devidas ilações do relatório do Clube de Roma, pretendeu inflectir as políticas de Bruxelas no sentido de pôr em causa o crescimento, o comissário francên Raymond Barre expressou publicamente o seu desacordo. Acabou-se por aceitar que era necessário tornar o crescimento mais humano e mais equilibrado. Todavia... sabe-se qual foi o resultado desta ideia.
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A nossa sociedade ligou o seu destino a uma organização fundada na acumulação ilimitada. Este sistema está condenado ao crescimento. Logo que o crescimento se atenua ou pára, entramos em crise e até em pânico. Deparamos com o "Acumulai! Acumulai! É a lei e os profetas!" do velho Marx. Esta necessidade faz do crescimento um "colete-de-forças". O emprego, o pagamento das reformas e a continuidade das despesas públicas (educação, segurança, justiça, cultura, transportes, saúde, etc.) supõem o aumento constante do produto interno bruto (PIB). "O único antídoto contra o desemprego permanente é o crescimento", martela Nicola Baverez, "declinólogo" próximo de Sarkozy, a que se juntam nesta matéria muitos altermundialistas. No fim de contas, o círculo virtuoso torna-se um círculo infernal... A vida do trabalhador reduz-se as mais das vezes à de um "biodigestor que metaboliza o salário com as mercadorias e as mercadorias com o salário, indo e vindo da fábrica para o hipermercado e do hipermercado para a fábrica".»
Serge Latouche, Pequeno Tratado do Decrescimento Sereno, Edições 70.