«São necessários três ingredientes para que a sociedade de consumo possa prosseguir o seu circuito diabólico: a publicidade, que cria o desejo de consumir, o crédito, que lhe fornece os meios, e a obsolescência acelerada e programada dos produtos, que renova a sua necessidade. Estas três molas da sociedade do crescimento são autênticas "drogas".
A publicidade faz-nos desejar o que não possuímos e desprezar aquilo de que dispomos já. Ela cria e recria a insatisfação e a tensão do desejo frustrado. Segundo uma sondagem efectuada aos presidentes das maiores empresas americanas, 90% deles reconhecem que será impossível vender um novo produto sem uma campanha publicitária; 85% declaram que a publicidade persuade "frequentemente" as pessoas a adquirir coisas de que não têm necessidade; e 51% dizem que a publicidade persuade as pessoas a comprar coisas que, de facto, não desejam. Esqueçam os bens de primeira necessidade. Cada vez mais, a procura deixa de incidir em bens de grande utilidade, passando a sê-lo em bens de grande futilidade.
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Por seu lado, o uso da moeda e do crédito, necessário para levar a consumir os que não dispõem de rendimento suficiente e para permitir aos empresários investir sem dispõem do capital necessário, é um poderoso "ditador" do crescimento no Norte, mas é-o também de maneira mais destruidora e mais trágica no Sul. Esta lógica diabólica do dinheiro que exige sempre mais dinheiro não é senão a lógica do capital. Estamos perante aquilo a que Giorgio Ruffolo chama muito adequadamente o "terrorismo do juro composto". Independentemente do nome com que o disfarcemos para o legitimar [...] trata-se sempre do lucro, motor da economia de mercado e do capitalismo ao longo de todas as suas mutações. Esta busca do lucro a qualquer preço faz-se graças à expansão do par produção-consumo e da redução dos custos. Os novos heróis do nosso tempo são os cost killers, estes gestores que as empresas multinacionais atraem a preço de ouro, oferecendo-lhes grandes quantidades de stock-options e indemnizações por rescisão. [...] Estes estrategos estão empenhados em transferir ao máximo os custos para o exterior, de modo a fazê-los recair sobre os empregados, os subcontratados, os países do Sul, os seus clientes, os Estados e os serviços públicos, as gerações futuras e sobretudo a natureza, transformada ao mesmo tempo em fornecedora de recursos e em caixote do lixo.»
Serge Latouche, Pequeno Tratado do Decrescimento Sereno, Edições 70.