«O decrescimento é um slogan político com implicações teóricas, uma "palavra-obus", como diz Paul Atès, que procura acabar com a linguagem estereotipada dos drogados do produtivismo. Dado que o contrário de uma ideia perversa não é necessariamente uma ideia virtuosa, não se trata de preconizar o decrescimento pelo decrescimento, o que seria absurdo, embora, afinal, não o fosse mais nem menos do que preconizar o crescimento pelo crescimento... A palavra de ordem do decrescimento tem sobretudo por finalidade ficar a assinalar claramente o abandono do objectivo do crescimento ilimitado, cujo motor não é senão a busca do lucro pelos detentores do capital, com consequências desastrosas para o ambiente e, portanto, para a humanidade. Não só a sociedade está reduzida a ser apenas o instrumento ou o meio da mecânica produtiva, mas o próprio homem tende a tornar-se o resíduo dum sistema que visa torná-lo inútil e a passar sem ele.
O decrescimento para nós não é o crescimento negativo, um oximoro absurdo que traduz o domínio do imaginário do crescimento. Todos sabemos que o mero abrandamento do crescimento faz mergulhar as nossas sociedades na confusão, aumenta a taxa de desemprego e desencadeia o abandono dos programas sociais, de saúde, educativos, culturais e ambientais que asseguram o mínimo indispensável da qualidade de vida. Podemos imaginar a catástrofe que uma taxa de crescimento negativa iria provocar! Tal como não há nada pior do que uma sociedade "trabalhista" sem trabalho, também não há nada pior do que uma sociedade do crescimento em que este falha ao encontro marcado. Esta regressão social e civilizacional é precisamente o que nos espera se não mudarmos de trajectória. Por todas estas razões, o decrescimento só é concebível numa "sociedade do decrescimento", ou seja, no quadro dum sistema que se baseia noutra lógica. A alternativa é, portanto, o decrescimento ou a barbárie!
Em rigor, ao nível teórico conviria falar de "a-crescimento" — tal como de fala de a-teísmo —, mais do que de-crescimento. Trata-se, aliás, neste aspecto, de abandonar uma fé ou religião, a da economia, do progresso e do desenvolvimento, de rejeitar o culto irracional e quase idólatra do crescimento pelo crescimento.
De início, decrescimento é, portanto, apenas uma bandeira atrás da qual se congregam os que procederam a uma crítica radical do desenvolvimento e pretendem desenhar os contornos dum projecto alternativo para uma política do pós-desenvolvimento. O seu objectivo é uma sociedade em que se viverá melhor, trabalhando menos e consumindo menos. Trata-se duma proposta necessária para reabrir o espaço da inventividade e da criatividade do imaginário, bloqueado pelo totalitarismo economicista, desenvolvimentalista e progressista.»
Serge Latouche, Pequeno Tratado do Decrescimento Sereno, Edições 70.