O debate em torno da realização de exames nacionais é um debate antigo que tem sido levado a cabo em todos os países. A literatura sobre o assunto é vasta, as experiências realizadas são múltiplas e as conclusões contraditórias. A matéria é complexa e sobre ela não há elementos seguros que nos permitam, com um mínimo de credibilidade, emitir um parecer definitivo a favor ou contra a realização de exames nacionais.
Ora, o conhecimento generalizado desta realidade faria supor que houvesse algum comedimento quando se opina sobre este tema. Mas não é isto que acontece. No nosso país, pelo menos, parece instalar-se uma certa esquizofrenia sempre que se discute sobre exames nacionais: ou são diabolizados ou são endeusados; ou se pretende extinguir todo e qualquer exame ou se exige que sejam feitos exames a todas as disciplinas e a todo o momento; ou se lhes atribui um carácter meramente aferidor ou se lhes quer conferir um peso decisório absoluto ou quase absoluto. Por vezes, neste debate, chega-se ao ponto em que a argumentação, bastando-se de tal modo a si própria, alegremente prescinde do que a realidade revela. Outras vezes, opta-se por ignorar as questões técnicas e valorizar a acutilância e o delírio ideológicos, acusando-se a outra parte do pior que se pode imaginar. Vivemos nisto.
Actualmente, mas por mero acaso, o poder educativo faz parte do núcleo obcecado pela realização, proliferação e disseminação dos exames nacionais. Se recuarmos uns anos, recordaremos poderes educativos que militavam no núcleo da extinção total dos exames. O país educativo vive neste baloiço preto e branco, com certezas absolutas de ambos os lados. A factura deste permanente galear é paga pelos alunos e pelos professores que, sentindo-se numa roda viva, perdem as referências, perdem o sentido do seu estudo e do seu trabalho e sentem-se desgraçadamente marionetas de serviço.
O problema da realização de exames nacionais é um problema complexo e difícil devido à diversidade de factores nele intervenientes e à diversidade da natureza desses factores. Neste problema interferem elementos técnicos e elementos conceptuais: técnicos do domínio da docimologia e conceptuais sobre educação e avaliação. Se, em muitas áreas, ocorre uma elucidação recíproca entre o que é técnico e o que é conceptual, no caso dos exames, o técnico e o conceptual parecem fazer questão de reciprocamente se atrapalharem.
Sem pretensões de nenhuma ordem, apenas em jeito de alguns apontamentos e à medida que o tempo mo permitir, procurarei, nas próximas semanas, deixar algumas opiniões, dúvidas e reflexões pessoais sobre este problema, informando desde já que não milito no fundamentalismo de nenhuma das partes e que tenho uma enorme dificuldade em compreender posições radicais sobre esta matéria.