«O nosso supercrescimento económico choca com os limites da finitude da biosfera. A capacidade regeneradora da Terra não acompanha a procura: o homem transforma os seus recursos em lixo mais rapidamente do que a natureza pode transformar este lixo em novos recursos.
Se tomarmos como índice do "peso" ambiental do nosso modo de vida a "pegada" ecológica deste na superfície da Terra ou no espaço bioprodutivo necessário, obtêm-se resultados insustentáveis, quer do ponto de vista da equidade, quer dos direitos de extracção de recursos da natureza, quer ainda do ponto de vista da capacidade de carga da biosfera. O espaço disponível na Terra é limitado. Totaliza 51 mil milhões de hectares. O espaço "bioprodutivo", ou seja, o espaço útil para a nossa produção, é apenas uma fracção do total: 12 mil milhões de hectares. Dividido pela população mundial actual, o resultado é aproximadamente 1,8 hectares por pessoa. Tendo em consideração as necessidades de materiais e energia, as superfícies necessárias para absorver detritos e desperdícios da produção e do consumo (para cada litro de gasolina queimada temos necessidade de cinco metros quadrados de floresta durante um ano para que seja absorvido o respectivo CO2!) e adicionando o impacto do habitat e das infra-estruturas necessárias, os investigadores do instituto californiano Redifining Progress e da World Wild Foundation (WWF) calcularam que o espaço bioprodutivo consumido por uma pessoa era em média 2,2 hectares. O ser humano já abandonou, portanto, o rumo dum modo de civilização duradouro, que teria de se limitar a 1,8 hectares — admitindo que a população actual se manteria estável. Em suma: vivemos já a crédito. Para lém disso, esta pegada média ignora disparidades enormes. Um cidadão dos Estados Unidos consome 9,6 hectares, um canadiano 7,2, um francês 5,26 e um italiano 3,8. [...] Cada americano consome cerca de 90 toneladas de materiais naturais diversos, um alemão 80 e um italiano 50 (137 kg por dia). Ou seja, a humanidade consome já cerca de 30% mais do que a capacidade de regeneração da biosfera.»
Serge Latouche, Pequeno Tratado do Decrescimento Sereno, Edições 70.