«[...]uma coisa se torna clara - já era clara, mas entra agora em redundância: este é o resultado do hiper-liberalismo que anda na moda. Por tudo e por nada (sobretudo por nada), dizem-nos: é preciso reduzir o peso do Estado... que peso e que Estado, remetido que ele está à condição de polícia de giro? E garantem-nos, sabiamente, algo que há muito se sabe estar errado: que o mercado, que a economia, quando completamente livre, se auto-regula na perfeição, sem precisar de incómodas intervenções políticas, produzindo riqueza para todos...
Pois. Vê-se.
Esta [crise mundial dos cereais] - entre outras realidades igualmente escandalosas - deveria bastar para que todos os Governos e todos os governantes fossem chamados seriamente à pedra, a prestar contas do esterco político que andam a produzir e que não serve nem mesmo para a biomassa.
[...]
Não é preciso ser profeta nem médium para poder dizer que estamos a caminhar para um cataclismo social sangrento, à escala mundial.
Resta saber, apenas, se somos suficientemente inteligentes para sabermos evitá-lo. Ele não é uma fatalidade do destino; mas estamos a ficar seriamente encostados à parede [...]
Enfim. O que quero dizer é que é tempo, mais que tempo, de acordarmos, nós, o tão manipulado, tão engraxado (em época de eleições) povo soberano.
No fundo, a coisa é simples: até agora, o mundo tem sido exclusivamente dos espertos; talvez não fosse pior se começássemos a dar voz aos inteligentes.»
Pois. Vê-se.
Esta [crise mundial dos cereais] - entre outras realidades igualmente escandalosas - deveria bastar para que todos os Governos e todos os governantes fossem chamados seriamente à pedra, a prestar contas do esterco político que andam a produzir e que não serve nem mesmo para a biomassa.
[...]
Não é preciso ser profeta nem médium para poder dizer que estamos a caminhar para um cataclismo social sangrento, à escala mundial.
Resta saber, apenas, se somos suficientemente inteligentes para sabermos evitá-lo. Ele não é uma fatalidade do destino; mas estamos a ficar seriamente encostados à parede [...]
Enfim. O que quero dizer é que é tempo, mais que tempo, de acordarmos, nós, o tão manipulado, tão engraxado (em época de eleições) povo soberano.
No fundo, a coisa é simples: até agora, o mundo tem sido exclusivamente dos espertos; talvez não fosse pior se começássemos a dar voz aos inteligentes.»
João Aguiar, Super Interessante, número 122, Junho 2008