1. «Nos comportamentos humanos, e nos animais, há um ciclo de prazer que pode levar a uma ruptura de toda a espécie de auto-regulação. Certos animais, ratinhos, se tiverem a possibilidade de se auto-estimularem ao nível do cérebro de forma a produzirem um estado de prazer sexual, podem continuar a buscar esse estado de prazer sexual de forma tão repetida que pode levar à sua auto-extinção. É uma espécie de loucura. Podem morrer a auto-estimularem-se. [...] Algumas pessoas mimadas pelos prazeres têm comportamento semelhante. Tudo pode acontecer. A mesma natureza humana que leva ao sublime, na construção social, científica ou artística, é a que usa o mundo em benefício próprio, com completo alheamento do que se passa à volta. Tudo depende da forma como a razão consegue funcionar em relação aos afectos.
[...] Voltando a Espinosa, ele tem a ideia muito curiosa, e distinta de outros filósofos, de que opor a razão à emoção não é um modo eficaz de regular as emoções. A tradição kantiana de que devemos opor a vontade à paixão, dominá-la, para o Espinosa não é suficiente. Uma emoção que não está controlada, que é nefasta, deve ser dominada por uma emoção mais forte do que a primeira, embora essa emoção seja aplicada através da razão.»
2. «O que estou a fazer na Califórnia, no Brain and Creativity Institute, é tentar investigar a neurobiologia das emoções centrada nas emoções sociais. Há emoções e há o espaço das emoções sociais, consideradas como o resultado da educação, das estruturas sociais e culturais.
[...] A forma como regulamos as nossas relações sociais não pode ser concebida como o resultado exclusivo dessas relações sociais. Elas são a tradução das tendências emocionais presentes no genoma humano e em outras espécies. Concebo essas emoções sociais, neste momento, como sendo em boa parte o resultado de processos biológicos organizados para responder a certas situações sociais, e que são subsequentemente ou reprimidos ou reforçados pela educação e a aculturação. Dou um exemplo, a criança muito possivelmente tem uma tendência para sentir compaixão quando vê o sofrimento ou carência. O que a sociedade vai fazer através da pressão dos pares, "peer Presssure" — pais, escolas — é accionar ou reprimir essa tendência. Isto pode chocar os que acham que tudo se explica através da cultura. A influência da cultura é enorme, a admiração pelos outros é educativa. Aquilo em que estou interessado é perceber como utilizamos estas emoções sociais para construir esquemas éticos e políticos. Pensar a criatividade dentro de um espaço social em vez de exclusivamente ligada às artes e ciências.
[...] A raiz é a mesma. E todos estes processos têm um objectivo que se pode descrever em abstracto: tentativa de busca de equilíbrio biológico, procura de bem-estar»
Entrevista ao Expresso (24/5/08)
[...] Voltando a Espinosa, ele tem a ideia muito curiosa, e distinta de outros filósofos, de que opor a razão à emoção não é um modo eficaz de regular as emoções. A tradição kantiana de que devemos opor a vontade à paixão, dominá-la, para o Espinosa não é suficiente. Uma emoção que não está controlada, que é nefasta, deve ser dominada por uma emoção mais forte do que a primeira, embora essa emoção seja aplicada através da razão.»
2. «O que estou a fazer na Califórnia, no Brain and Creativity Institute, é tentar investigar a neurobiologia das emoções centrada nas emoções sociais. Há emoções e há o espaço das emoções sociais, consideradas como o resultado da educação, das estruturas sociais e culturais.
[...] A forma como regulamos as nossas relações sociais não pode ser concebida como o resultado exclusivo dessas relações sociais. Elas são a tradução das tendências emocionais presentes no genoma humano e em outras espécies. Concebo essas emoções sociais, neste momento, como sendo em boa parte o resultado de processos biológicos organizados para responder a certas situações sociais, e que são subsequentemente ou reprimidos ou reforçados pela educação e a aculturação. Dou um exemplo, a criança muito possivelmente tem uma tendência para sentir compaixão quando vê o sofrimento ou carência. O que a sociedade vai fazer através da pressão dos pares, "peer Presssure" — pais, escolas — é accionar ou reprimir essa tendência. Isto pode chocar os que acham que tudo se explica através da cultura. A influência da cultura é enorme, a admiração pelos outros é educativa. Aquilo em que estou interessado é perceber como utilizamos estas emoções sociais para construir esquemas éticos e políticos. Pensar a criatividade dentro de um espaço social em vez de exclusivamente ligada às artes e ciências.
[...] A raiz é a mesma. E todos estes processos têm um objectivo que se pode descrever em abstracto: tentativa de busca de equilíbrio biológico, procura de bem-estar»
Entrevista ao Expresso (24/5/08)