1ª parte
Esta semana, ouvi, no parlamento, o primeiro-ministro repetir por diversas vezes que estava preocupado com a «precaridade» do emprego e que ele e o seu governo estavam firmemente empenhados em lutar contra essa «precaridade». Durante o discurso e durante as respostas que dava aos deputados, era «precaridade» para a frente, «precaridade» para trás, «precaridade» para os lados. Entusiasmado, cheio de si, como sempre, o primeiro-ministro proclamava-se (apesar do Estado continuar a ser um péssimo exemplo, neste domínio) o campeão do combate à «precaridade». E, por vezes, até quase soletrava: «pre-ca-ri-da-de».
2ª parte
Uma vez, durante uma aula, um aluno (dos cursos nocturnos) referiu, já não me recordo a que propósito, que em Portugal havia muita «precaridade» no trabalho.
A brincar, disse-lhe:
— Olhe que não, olhe que não há «precaridade» no trabalho.
Espantado, o aluno insistiu:
— O professor acha que não há «precaridade» no trabalho?!
Respondi-lhe:
— Não acho, tenho a certeza: não há «precaridade» no trabalho.
O aluno não acreditava no que ouvia:
— Ó professor e, então, os recibos verdes e os contratos a prazo não são exemplos de «precaridade»?! E não sou eu que o digo, são os políticos, são os sindicalistas, é toda a gente!
Já quase a arrepender-me do distúrbio que estava a causar, esclareci-o:
— Sabe porque é que não há «precaridade» no trabalho? Não há, porque «precaridade» não existe. E não é só no trabalho que não existe, «precaridade» não existe no trabalho nem existe no dicionário. O que há, de facto, é precariedade. A precariedade, essa sim, existe no trabalho e existe no dicionário.
E rematei:
— Portanto, já sabe, sempre que ouvir um político dizer que luta contra a «precaridade», das duas uma: ele diz isso porque não está a falar verdade (já que não se pode lutar contra uma coisa que não existe) ou diz isso por ignorância.
3ª parte
Hoje, não estou certo de ter concluído bem aquele esclarecimento. Não sei se em lugar da conjunção adversativa ou não deveria ter usado a conjunção copulativa e.
E, agora, não sei se voltarei a encontrar o aluno...
Esta semana, ouvi, no parlamento, o primeiro-ministro repetir por diversas vezes que estava preocupado com a «precaridade» do emprego e que ele e o seu governo estavam firmemente empenhados em lutar contra essa «precaridade». Durante o discurso e durante as respostas que dava aos deputados, era «precaridade» para a frente, «precaridade» para trás, «precaridade» para os lados. Entusiasmado, cheio de si, como sempre, o primeiro-ministro proclamava-se (apesar do Estado continuar a ser um péssimo exemplo, neste domínio) o campeão do combate à «precaridade». E, por vezes, até quase soletrava: «pre-ca-ri-da-de».
2ª parte
Uma vez, durante uma aula, um aluno (dos cursos nocturnos) referiu, já não me recordo a que propósito, que em Portugal havia muita «precaridade» no trabalho.
A brincar, disse-lhe:
— Olhe que não, olhe que não há «precaridade» no trabalho.
Espantado, o aluno insistiu:
— O professor acha que não há «precaridade» no trabalho?!
Respondi-lhe:
— Não acho, tenho a certeza: não há «precaridade» no trabalho.
O aluno não acreditava no que ouvia:
— Ó professor e, então, os recibos verdes e os contratos a prazo não são exemplos de «precaridade»?! E não sou eu que o digo, são os políticos, são os sindicalistas, é toda a gente!
Já quase a arrepender-me do distúrbio que estava a causar, esclareci-o:
— Sabe porque é que não há «precaridade» no trabalho? Não há, porque «precaridade» não existe. E não é só no trabalho que não existe, «precaridade» não existe no trabalho nem existe no dicionário. O que há, de facto, é precariedade. A precariedade, essa sim, existe no trabalho e existe no dicionário.
E rematei:
— Portanto, já sabe, sempre que ouvir um político dizer que luta contra a «precaridade», das duas uma: ele diz isso porque não está a falar verdade (já que não se pode lutar contra uma coisa que não existe) ou diz isso por ignorância.
3ª parte
Hoje, não estou certo de ter concluído bem aquele esclarecimento. Não sei se em lugar da conjunção adversativa ou não deveria ter usado a conjunção copulativa e.
E, agora, não sei se voltarei a encontrar o aluno...