Por sugestão amiga, que diz que há bloguistas preguiçosos que não lêem os comentário (fazem mal, digo eu), adaptei a resposta dada a um comentário feito ao artigo «A lista horribilis - 1» para poder ser colocado aqui, no corpo principal do blogue (a resposta completa está no «link» dos comentários ao artigo). Até porque os problemas que esta lista levanta dão pano para mangas...
A questão que foi colocada, como contraponto à crítica que eu tinha dirigido à listagem da 96 condutas, era basicamente esta: nós, escolas, podemos, ou não, recorrer a algumas das boas condutas das empresas?
Esta pergunta está respondida no artigo «A lista horribilis 1»: «Que o saber é transdisciplinar é óbvio, que as organizações devem aprender umas com as outras é óbvio».
Mas, já agora, aproveito para reforçar duas notas. As organizações devem aprender umas com as outras, sim: em primeiro lugar, nos erros cometidos, isto é, não repetir erros que outros já praticaram; em segundo lugar, essa aprendizagem é bidireccional, não são apenas as escolas que têm de aprender com as empresas, estas também têm de aprender com as escolas, e muito, a começar, por exemplo, no modo como devem tratar os seus profissionais, que, em muitos casos, é um modo muito pouco humanizado e personalizado.
Portanto, a questão não é se deve haver recíprocas aprendizagens. O problema é outro, e volto a enunciar: «o que não tem nada de óbvio é querer transplantar modelos de um habitat para outro habitat completamente diferente. Uma escola não é uma empresa nem nunca o será, e se um dia o vier a ser já não será escola». Este é que é o problema: querer fazer da escola uma empresa e pensar-se que se pode gerir uma escola como se gere uma empresa. E pensar que se pode avaliar o desempenho de um professor como se avalia o desempenho de um torneiro mecânico ou de um delegado de propaganda médica ou de um corretor da bolsa ou de um engenheiro de máquinas ou de um contabilista ou de...
A educação é um sector à parte. E isso deve ser dito e assumido. Não é melhor nem pior, é diferente, e o que é diferente deve ter um tratamento diferente. Não se gere nem se avalia uma escola nem os seus professores como se gere e se avalia uma fábrica e os seus profissionais. Ambos devem ser avaliados e geridos, mas com métodos diferentes e, por conseguinte, com instrumentos diferentes.
A lista horribilis revela a crença na avaliação atomizada dos comportamentos. Acredita-se que desmembrando os comportamentos pode-se avaliá-los melhor. Muitos de nós já passámos por, e por nós já passaram, muitas modas/teorias pedagógicas e muitas modas/teorias avaliativas. Tivemos, em tempos já um pouco longínquos, a denominada pedagogia por objectivos que sofria, exactamente, do mesmo mal: acreditava que fragmentando os comportamentos dos alunos avaliava melhor os processos e os resultados finais. Este credo, fundado, como sabemos, no behaviorismo, exerce uma forte atracção sobre muita gente, porque tem a aparência de possuir uma grande cientificidade, um grande rigor e uma grande objectividade. Também todos sabemos que este credo parte de um antigo complexo de inferioridade que as ciências humanas (e, com particular relevância, as denominadas ciências da educação) possuem relativamente às ciências da natureza e, por isso, à fina força querem-lhes copiar o modelo e o método.
Mas a realidade é o que é e não se molda a utopias. O ser humano não é um electrão (mesmo com este a física já se vê à nora, quanto mais com o ser humano, que é esta coisa simples que nós sabemos...). E a pedagogia por objectivos deu o que tinha a dar e foi-se. Mas, como todas as modas, há-de regressar mais tarde, retocada aqui e ali...
Ora, a lista horribilis, de algum modo, partilha e vive deste e para este mito. Por isso, discrimina mil e um comportamentos, pretensamente observáveis e objectivos, faz o avaliador colocar um sim ou um não à frente e a coisa está feita.
Foi dado o exemplo da pontualidade como um exemplo a seguir das empresas. Mas há muitas profissões mais exigente que a nossa, cuja a assiduidade e a pontualidade são controladas de 90 em 90 minutos? E sempre foi assim exigente. Ou é preciso vir um engenheiro Fatal falar-nos nisso? Há professores mais surdos que não se dirigem para a sala de aula quando soa o toque da campainha e retardam o início do trabalho? Mas se isso acontece é porque o órgão de gestão não age em conformidade. Ou alguém pensa que esse problema se resolve com listas deste tipo? Alguém pensa que o coordenador vai andar de caneta em punho e de lista na mão a controlar as horas de entrada na sala de aula de todos os professores do seu departamento, para lá colocar um sim ou um não?
Nota final. Estas observações referem-se apenas ao que está subjacente ao modelo teórico de que é filha a lista horribilis, não se referem ao seu conteúdo. Se lá fossemos, então, não sairíamos daqui. E é curioso reparar que, dos 96 itens, não consta um único, (a não ser que com tanto item a «vista já se me tenha baralhado», como dizia o outro), não consta um único, repito, relativo aos conhecimentos científicos do professor!! Conhecimentos científicos que são a base de tudo, ainda que não sejam tudo, pois têm de ser complementados com conhecimentos pedagógicos. Mas é preciso dizer com clareza: sem conhecimentos científicos sólidos tudo o que se faça na sala de aula não passa de uma imensa treta.
Mas isto, ao que parece, não interessa muito a este formador, como também não interessa muito ao modelo de avaliação de desempenho criado pela ministra da Educação.
A questão que foi colocada, como contraponto à crítica que eu tinha dirigido à listagem da 96 condutas, era basicamente esta: nós, escolas, podemos, ou não, recorrer a algumas das boas condutas das empresas?
Esta pergunta está respondida no artigo «A lista horribilis 1»: «Que o saber é transdisciplinar é óbvio, que as organizações devem aprender umas com as outras é óbvio».
Mas, já agora, aproveito para reforçar duas notas. As organizações devem aprender umas com as outras, sim: em primeiro lugar, nos erros cometidos, isto é, não repetir erros que outros já praticaram; em segundo lugar, essa aprendizagem é bidireccional, não são apenas as escolas que têm de aprender com as empresas, estas também têm de aprender com as escolas, e muito, a começar, por exemplo, no modo como devem tratar os seus profissionais, que, em muitos casos, é um modo muito pouco humanizado e personalizado.
Portanto, a questão não é se deve haver recíprocas aprendizagens. O problema é outro, e volto a enunciar: «o que não tem nada de óbvio é querer transplantar modelos de um habitat para outro habitat completamente diferente. Uma escola não é uma empresa nem nunca o será, e se um dia o vier a ser já não será escola». Este é que é o problema: querer fazer da escola uma empresa e pensar-se que se pode gerir uma escola como se gere uma empresa. E pensar que se pode avaliar o desempenho de um professor como se avalia o desempenho de um torneiro mecânico ou de um delegado de propaganda médica ou de um corretor da bolsa ou de um engenheiro de máquinas ou de um contabilista ou de...
A educação é um sector à parte. E isso deve ser dito e assumido. Não é melhor nem pior, é diferente, e o que é diferente deve ter um tratamento diferente. Não se gere nem se avalia uma escola nem os seus professores como se gere e se avalia uma fábrica e os seus profissionais. Ambos devem ser avaliados e geridos, mas com métodos diferentes e, por conseguinte, com instrumentos diferentes.
A lista horribilis revela a crença na avaliação atomizada dos comportamentos. Acredita-se que desmembrando os comportamentos pode-se avaliá-los melhor. Muitos de nós já passámos por, e por nós já passaram, muitas modas/teorias pedagógicas e muitas modas/teorias avaliativas. Tivemos, em tempos já um pouco longínquos, a denominada pedagogia por objectivos que sofria, exactamente, do mesmo mal: acreditava que fragmentando os comportamentos dos alunos avaliava melhor os processos e os resultados finais. Este credo, fundado, como sabemos, no behaviorismo, exerce uma forte atracção sobre muita gente, porque tem a aparência de possuir uma grande cientificidade, um grande rigor e uma grande objectividade. Também todos sabemos que este credo parte de um antigo complexo de inferioridade que as ciências humanas (e, com particular relevância, as denominadas ciências da educação) possuem relativamente às ciências da natureza e, por isso, à fina força querem-lhes copiar o modelo e o método.
Mas a realidade é o que é e não se molda a utopias. O ser humano não é um electrão (mesmo com este a física já se vê à nora, quanto mais com o ser humano, que é esta coisa simples que nós sabemos...). E a pedagogia por objectivos deu o que tinha a dar e foi-se. Mas, como todas as modas, há-de regressar mais tarde, retocada aqui e ali...
Ora, a lista horribilis, de algum modo, partilha e vive deste e para este mito. Por isso, discrimina mil e um comportamentos, pretensamente observáveis e objectivos, faz o avaliador colocar um sim ou um não à frente e a coisa está feita.
Foi dado o exemplo da pontualidade como um exemplo a seguir das empresas. Mas há muitas profissões mais exigente que a nossa, cuja a assiduidade e a pontualidade são controladas de 90 em 90 minutos? E sempre foi assim exigente. Ou é preciso vir um engenheiro Fatal falar-nos nisso? Há professores mais surdos que não se dirigem para a sala de aula quando soa o toque da campainha e retardam o início do trabalho? Mas se isso acontece é porque o órgão de gestão não age em conformidade. Ou alguém pensa que esse problema se resolve com listas deste tipo? Alguém pensa que o coordenador vai andar de caneta em punho e de lista na mão a controlar as horas de entrada na sala de aula de todos os professores do seu departamento, para lá colocar um sim ou um não?
Nota final. Estas observações referem-se apenas ao que está subjacente ao modelo teórico de que é filha a lista horribilis, não se referem ao seu conteúdo. Se lá fossemos, então, não sairíamos daqui. E é curioso reparar que, dos 96 itens, não consta um único, (a não ser que com tanto item a «vista já se me tenha baralhado», como dizia o outro), não consta um único, repito, relativo aos conhecimentos científicos do professor!! Conhecimentos científicos que são a base de tudo, ainda que não sejam tudo, pois têm de ser complementados com conhecimentos pedagógicos. Mas é preciso dizer com clareza: sem conhecimentos científicos sólidos tudo o que se faça na sala de aula não passa de uma imensa treta.
Mas isto, ao que parece, não interessa muito a este formador, como também não interessa muito ao modelo de avaliação de desempenho criado pela ministra da Educação.