A propósito do que está a ocorrer em Itália, com a exponencial subida eleitoral da Liga Norte, que defende a separação entre o norte e o sul do país; na Bélgica, com a forte probabilidade de uma ruptura definitiva entre os flamengos do norte e os valões do sul; na Espanha, com os nacionalismos basco e catalão; e na Escócia, onde vai realizar-se, em 2010, um referendo para decidir o corte umbilical com o Reino Unido; Roberto Pompeu de Toledo escreve um artigo na revista brasileira Veja, desta semana, cujo conteúdo merece reflexão.
Começa este cronista por observar um paradoxo: a gradual construção da União Europeia, isto é, o projecto congregador de 27 países e o movimento oposto «do levante das paróquias». E identifica as duas principais causas do separatismo europeu. Por um lado, a defesa da própria língua e a intolerância para com o outro (algo que ele vê como comum aos separatismos em Espanha e na Bélgica) e, por outro lado, a oposição entre regiões mais ricas e regiões mais pobres (casos da Catalunha, Flandres e norte italiano, nos respectivos países).
O artigo termina deste modo pertinente/provocatório:
«A primeira moral dessas histórias é que os europeus não têm razão para estranhar as disputas africanas entre tutsis e hutus em Ruanda, quicuios e luos no Quénia, árabes e nubas no Sudão. Suas próprias tribos não são menos incompatíveis umas com as outras. A segunda é que dos povos e dos países não cabe esperar que tenham encontrado o ponto final de suas histórias porque são como os indivíduos. Por mais contemplados pela riqueza e pelo bem-estar, sempre haverá algo que os balance. Se não há inimigos externos, inventarão inimigos dentro de si mesmos. A inquietude vigia sem descanso para impedir a vitória do conforto que vem da riqueza e da harmonia que vem do bem-estar. Assim como não há homem pronto nem mulher pronta, também não há país pronto nem povo pronto.»
Independentemente de alguma superficialidade na identificação das causas do separatismo europeu, as observações de quem nos vê do outro lado do Atlântico remetem-nos, do meu ponto de vista, para o complicado problema da relação entre o passado e o futuro, isto é, para o modo como gerimos o nosso passado enquanto constituinte da nossa identidade e o modo como, a partir daí, conseguimos ou não conseguimos projectar um futuro com sentido.
Para além dos oportunismos mais vis, dos mais repugnantes interesses em jogo de parte a parte e dos comportamentos criminosos de ambos os lados (não em todos, mas em alguns dos países referidos), o problema existe, é uma realidade, porque algo lhe dá substância. E penso que um dos principais elementos, se não mesmo o mais importante, dessa substância é o modo como conceptualizamos, sentimos e vivemos a nossa identidade na encruzilhada entre o passado e o futuro.
Começa este cronista por observar um paradoxo: a gradual construção da União Europeia, isto é, o projecto congregador de 27 países e o movimento oposto «do levante das paróquias». E identifica as duas principais causas do separatismo europeu. Por um lado, a defesa da própria língua e a intolerância para com o outro (algo que ele vê como comum aos separatismos em Espanha e na Bélgica) e, por outro lado, a oposição entre regiões mais ricas e regiões mais pobres (casos da Catalunha, Flandres e norte italiano, nos respectivos países).
O artigo termina deste modo pertinente/provocatório:
«A primeira moral dessas histórias é que os europeus não têm razão para estranhar as disputas africanas entre tutsis e hutus em Ruanda, quicuios e luos no Quénia, árabes e nubas no Sudão. Suas próprias tribos não são menos incompatíveis umas com as outras. A segunda é que dos povos e dos países não cabe esperar que tenham encontrado o ponto final de suas histórias porque são como os indivíduos. Por mais contemplados pela riqueza e pelo bem-estar, sempre haverá algo que os balance. Se não há inimigos externos, inventarão inimigos dentro de si mesmos. A inquietude vigia sem descanso para impedir a vitória do conforto que vem da riqueza e da harmonia que vem do bem-estar. Assim como não há homem pronto nem mulher pronta, também não há país pronto nem povo pronto.»
Independentemente de alguma superficialidade na identificação das causas do separatismo europeu, as observações de quem nos vê do outro lado do Atlântico remetem-nos, do meu ponto de vista, para o complicado problema da relação entre o passado e o futuro, isto é, para o modo como gerimos o nosso passado enquanto constituinte da nossa identidade e o modo como, a partir daí, conseguimos ou não conseguimos projectar um futuro com sentido.
Para além dos oportunismos mais vis, dos mais repugnantes interesses em jogo de parte a parte e dos comportamentos criminosos de ambos os lados (não em todos, mas em alguns dos países referidos), o problema existe, é uma realidade, porque algo lhe dá substância. E penso que um dos principais elementos, se não mesmo o mais importante, dessa substância é o modo como conceptualizamos, sentimos e vivemos a nossa identidade na encruzilhada entre o passado e o futuro.